XXIX

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Risco

Tentei encarar algum ponto fixo do banheiro, mas não consigui, meu olhar sempre voltava para ele. Eu já estava ficando sufocada lá dentro e Adam não estava me ajudando muito.

No fundo, eu queria que o cara à minha frente me convencesse, era o que eu mais queria. Por mais que seja idiota pensar nisso, Adam tinha que dizer algo bom para eu dar minha desculpa de perdoa-lo.

— Eu quero que você esqueça de verdade o que aconteceu antes, Adam — pedi ainda o encarando.

— E eu também quero que você esqueça... — se aproximou um pouco de mim.

Aquilo foi como um tapa na minha cara, um tapa para eu acordar para a realidade. Parece tão fácil pedir alguém para esquecer algo, porém é horrível tentar esquecer uma coisa que você não quer e provavelmente, nunca vai esquecer.

— Eu quero ser um namorado melhor para a Hanna, Mary — sussurrou aquelas palavras.

Franzi a testa e abri a boca para falar, mas nada saiu, eu estava perdendo a minha voz.

— Eu te prometo que eu vou ser o namorado que ela precisa. Eu não preciso de outras garotas, nunca vou precisar, pois eu tenho a Hanna e... — Adam se calou quando eu desviei o olhar.

Ele estava certo, muito certo. Para que ele iria precisar de outras garotas, para que ele iria precisar de mim? Adam tem a Hanna, sempre vai ter... Ele queria ser um namorado melhor para a minha amiga e ela merecia mais que qualquer pessoa no mundo. Hanna precisava disso, Hanna precisava dele e iria ter. Já eu... bom, nem sempre vamos ter tudo na vida, basta levantar a cabeça e ser maduro o suficiente para aceitar.

— Eu espero que você cumpra o que está dizendo. — semicerrei os olhos e passei a língua entre os lábios.

— Mas sobre nós...

— Eu já entendi! — levantei as mãos em rendição. —Você quer que eu desculpe você? —ele concordou com a cabeça — Então, está desculpado.

— Eu quero que voltemos a ser amigos. — disse passando a mão no cabelo.

— E por que eu iria querer ser sua "amiga"? — fiz aspas com as mãos. O deboche era evidente na minha voz e isso arrancou um suspiro de Adam.

— Vamos tentar! A Hanna é sua amiga e eu sou o namorado dela, ou seja, vamos ter que conviver juntos e... — antes de ele terminar de falar, o cortei.

— Isso não é motivo, Ashworth. - digo e logo após dou um sorriso de canto. E eu não me importava com a importância do motivo, mas estava sendo bem interessante ver ele daquele jeito — Quero um real motivo.

— Você é uma ótima pessoa, tá legal? Uma garota engraçada e que eu quero ter por perto. Eu fui o maior idiota com você, todas as vezes. — Adam passava a mão na nuca a todo momento, ele estava nervoso e eu estava gostando disso.

— Ainda não me convenceu... — mordi o lábio inferior para esconder o riso, mas não adiantou muito.

— Eu te juro que só vai ser amizade e que eu não vou tentar mais nada. — Adam dizia desesperado. Que porra estava acontecendo com ele?

- Olha, por mim... — fui interrompida por um barulho na porta, uma batida.

Eu gelei na hora e perdi a respiração em um instante. Agora tudo estava ferrado! Alguém deve ter visto nós dois entrarmos aqui e pensou que estávamos fazendo outras coisas.

— Mary? — a voz de Aysha tomou meus ouvidos, me fazendo relaxar um pouco — Eu achei uma blusa extra no meu carro.

Respirei fundo e olhei para Adam que estava com os lábios pressionados para que não risse. Revirei os olhos e apontei para uma das cabines, para que ele pudesse se esconder lá dentro, caso Aysha entrasse no banheiro.

— Não... — moveu os lábios devagar para que eu entendesse a palavra e bufei com aquilo.

Semicerrei os punhos com raiva, era só ele entrar dentro de uma das cabines, que merda! Adam cruzou os braços e apoiou o ombro na parede, me encarando com um sorriso exibido no rosto. Caminhei até a porta apressadamente para não socar a cara do indivíduo e abri a porta, vendo Aysha com um meio sorriso no rosto e as bochechas avermelhadas.

— Obrigada! — sorri para ela assim que me entregou a camiseta.

— Vou te esperar lá no refeitório — disse virando em direção ao corredor que levava ao refeitório.

Bom, tinha grandes chances da camisa da Aysha não dar em mim, até porque, eu tenho um pouco mais de massa que ela, principalmente nos seios.

Tranquei a porta e apertei a blusa entre as mãos, direcionando o olhar para Adam que sorria igual a um idiota. Não digo nada, apenas passo por ele indo para uma das cabines e sinto seu olhar sobre mim. Fechei a porta da cabine e respirei fundo logo tirando a minha blusa e colocando a outra, branca e limpinha, que havia ficado um pouco justa no meu corpo, marcando um pouco meus seios.

Sai da cabine e Adam analisou meu rosto, mas logo seus olhos foram para meus peitos, onde os bicos estavam endurecidos e marcados até demais

A minha blusa branca tinha bojo para que eu não precisasse usar um sutiã que a cor ficava à mostra através da blusa. Mas pelo visto, a blusa de Aysha não tinha esse privilégio.

— Adam... — tentei chamar sua atenção para o meu rosto, tirando seus olhos vidrados da onde não deveria estar.

— Foi mal, eu... — disse meio sem graça, passando a mão na nuca, esfregando o local — Então... - começou — Vai aceitar a minha proposta?

Passei a língua entre os lábios e enchi meu pulmão de ar.

Eu deveria desculpa-lo? E se ele fizesse tudo de novo? Ele poderia estar tramando algo por trás de mim e eu não sabia. Era difícil confiar em uma pessoa depois de algumas coisas. Eu tenho muitas dificuldades em confiar em alguém, é preciso tempo para eu perceber que uma pessoa vale à pena. E consegue ser bem pior confiar em alguém, quando essa mesma pessoa mostrou não ser confiável... Mas Adam mostrou estar arrependido, ele pareceu confiável e bom e aliás, quem era eu para julga-lo? Todos merecem uma Segunda chance.

— Tudo bem... — nego com a cabeça e desvio o olhar.

Eu poderia me arrepender depois, mas é bom se arriscar as vezes. Eu estava em uma corda bamba entre confiar ou não, e se eu caísse, a queda iria me quebrar ao meio.

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