XXXVIII

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Ela.

Eu sabia que um dia isso iria acontecer, mas não esperava que seria tão cedo. Meu coração batia tão rápido que a qualquer momento ele poderia sair pela minha boca e parar em minhas mãos. Eu estava paralisada e sem qualquer reação.

         E lá estava ela, Hanna, com a boca aberta e os olhos cobertos por lágrimas que imediatamente caíram sobre suas bochechas bronzeadas. Ela ouviu tudo, ela ouviu tudo, ela ouviu tudo...

         — Por que você fez isso comigo? — sua voz saiu rouca e desesperada.

         — Você não estava dormindo? — Adam perguntou indiferente.

        — Você acha que eu seria burra o suficiente para cair no sono? — Hanna soltou uma gargalhada no final. — Eu estava desconfiada há um tempo... E eu sabia que você daria um jeito de se livrar do idiota do Lyan para ter um tempo a sós com ela.

        — Hanna... — tentei me aproximar dela, mas a mesma recuou. — Vamos conversar...

        — Conversar o que? Que o meu namorado fodeu você? Ou sobre como você não é tão santa quanto as pessoas pensam? — arqueou a sobrancelha.

        — Que merda! Nós não transamos, Hanna. — Adam respondeu com o tom cansado demais para aquela discussão.

        — Então, você ainda está intacta. Que pena, Mary Angel. — ela fez um beicinho.

         Hanna estava agindo da maneira mais estranha que alguém poderia agir. Eu pensei que ela iria surtar e se esgoelar comigo, ou até tentar me agredir, mas ela estava calma demais e parecia que não se importava pelo fato de eu estar tendo um lance com o seu namorado.

          — Vamos conversar, eu juro que não queria que isso tivesse acontecido! — respirei fundo, tentando me explicar, mas o seu rosto exalava deboche e graça.

          — Eu sei disso, mas você é uma idiota mesmo. Além de loira, é burra. — se aproximou de mim, com passos lentos e torturantes. — Você se apaixonou por ele, foi? — olhei em seus olhos e minhas pele se arrepiou, o medo passava por mim, quem era ela? — Mas quem tem ele sou eu, e não você. Porque no final disso tudo, eu vou ter ele, sou eu quem ele vai amar e não você, não é, Adam? — ela olhou para o namorado.

         Me virei devagar, receosa e com expectativas. Olhei nos olhos dele, esperando que Adam dissesse alguma coisa, e que arrumasse um pretexto ou me defendesse daquilo tudo, daquela pessoa que eu não conhecia. Mas ele não fez nada, deu de ombros e passou a mão na nuca, sem saída.

           — Desculpa, Anjo. — sussurrou tão baixo que eu mal pude ouvir.

         Era claro que Adam Ashworth iria escolher ela, era óbvio. O futuro dele dependia disso, não é? A família dele precisava da família da Hanna, assim eles iriam ganhar rios de dinheiro. Ela era a pessoa ideal para ele: rica e bonita! E quem era eu? Uma garota ferrada na vida, na qual não tinha dinheiro o suficiente para pagar os livros da faculdade, mesmo meu pai sendo um advogado muito bom, era difícil sustentar a casa e manter o pagamento da minha faculdade.

          A minha infância inteira, desde que conheci a Hanna, fui frustrada com esperanças de todos os garotos que eu tinha uma queda. Eu sempre contava para ela sobre esses meninos, e no dia seguinte, Hanna parecia de mãos dadas com os garotos. Eu não ligava, pois ela era a minha amiga e me contentava em não ter nada. Sempre foi assim!

           Engoli em seco e pedi, com apenas um olhar, para que Adam voltasse atrás, mas já estava feito, ele não quis me olhar, e apenas encarou o chão. Parabéns, querida Hanna, você conseguiu manipular mais um cara.

         Peguei minha bolsa rapidamente e esbarrei de propósito no ombro da Hanna. Fui até a porta e parei, suspirando fundo e tomando coragem para sair dali. Abri a porta e encontrei Lyan parado, encostado na batente da porta, com uma caixa de cerveja nos braços.

           — Quer que eu te leve para casa? — perguntou me olhando. Claro que ouviu tudo.

         Apenas neguei com a cabeça e passei por ele rapidamente, sem olhar para trás, sem me arrepender de nada e permitindo que as lagrimas tomasse meu rosto por inteiro. Chamei o elevador e entrei nele rapidamente, vendo Lyan ainda parado na porta, me encarando, sem entender quase nada e as portas fecharam, bloqueando tudo e me deixando sozinha.

Meu peito doía tanto e minhas visão já estava ficando embaçada por conta das lágrimas. Quando o elevador abriu as portas, sai rapidamente, quase correndo daquele lugar. Eu precisava de alguém para conversar e desabafar, e mesmo sendo cedo demais, liguei para Ellie, pedindo ajuda e acabei por saber que ela não tinha ido para a faculdade e que estava em casa, que eu poderia ir para la, já que eu não poderia voltar para casa.


As mãos pequenas de Ellie passaram sobre minhas costas, deixando eu colocar toda a angústia que eu sentia e todas as lágrimas que eram precisas para lavar a alma.

Eu tinha me apaixonado por Adam e assumi na frente dele, então, acabei levando um pé na bunda. Idiota era eu por ter achado que aquilo iria durar para sempre, Hanna não era tão burra, já eu...

— Ela é uma cachorra! — Ellie esbravejou.

— Não quero causar briga entre vocês. — comentei sabendo que Ellie gostava de Hanna.

— Fala sério, ela é uma pessoa insurportável e patricinha. Não querendo parecer falsa, mas eu só trato ela bem por ser minha cunhada e porque meus pais me obrigaram. — Ellie revirou os olhos e sorriu para mim — Se o Adam realmente fosse uma pessoa boa, eu iria adorar ter você como minha cunhada. — se levantou da cama dela e esticou o corpo. — Saiba que eu vou te apoiar em qualquer coisa! Vamos passar por essas juntas — colocou as mãos apoiadas em meu ombro.

— Eu só tenho medo que a Hanna vire todo mundo contra mim... — Ellie ficou pensativa por um minuto e tirou as mãos do meu ombro. — Já vi ela fazendo isso com tantas pessoas. — Neguei com a cabeça.

E era a mais pura verdade, todas as vezes que a Hanna brigava com alguém, ela sempre virará todo mundo contra aquela pessoa, até os amigos mais próximos.

— Ela não faria isso, pois teria que ter um bom motivo, e com toda certeza, a Hanna não iria querer pagar de corna nesse história. — colocou a mão no queixo, alisando a própria pele. — E você é uma pessoa tranquila, Mary, seria difícil alguém ter motivos para odiar você, mesmo ela inventando mil e uns.

Concordei com a cabeça pensativa. Eu estava tão perdida, sem saber o que fazer, sem saber como prosseguir com a minha vida... Eu iria tentar ignorar o Adam ao máximo.

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