XXXVI

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O mesmo de sempre

Me despedi do meu pai com um aceno e vi seu carro desaparecer na pista do Campus. Suspirei fundo me dando coragem para começar a minha caminhada até o prédio de Medicina. Eu não queria encontrar ninguém, não estava com muita cabeça para isso, então preferi ir logo para o prédio, sem enrolação.

Olhei para o céu fechado e coloquei as mãos dentro do meu moletom, bom, moletom de Adam. O casaco dele era bem quente, então era bastante útil nesse tempo frio. O gramado ainda estava coberto de neve, mas era bem pouco. Porém, estava muito frio, fazendo a ponta do meu nariz gelar.

Comecei a andar rapidamente, me desviando das pessoas em grupos e alegres, conversando. Avistei Lyan na entrada do prédio e respirei fundo, ele acenou para mim assim que me viu. Acelerei mais os passos, indo até ele que sorriu. O abracei devagar e Lyan me envolveu com seus braços, e eu quase me perdi de tão alto que ele era — só não era mais alto que Adam.

          O Lyan era um dos caras mais legais que eu já conheci e ele era tão bom comigo. Saímos uma vez e nos beijamos, por que eu não continuei apaixonada por ele? Eu poderia estar feliz agora, quem sabe poderíamos até estar caminhando para algo mais sério... Mas isso nunca aconteceria, certo? Não era ele que eu queria, não era ele que eu queria beijar, por que não era ele?

Me separei dele e engoli em seco, tentando acalmar minha mente. Dei um meio sorriso para Lyan que olhou para trás de mim e a curiosidade bateu, virei meu corpo e vi Adam parado, com o braço em volta da cintura da Hanna. Meu sorriso desapareceu quando o mesmo desceu a mão da cintura dela, até a bunda, apertando, do mesmo jeito que ele fez comigo...

Dei dois passos para trás e bati contra Lyan que segurou minha cintura.

— Calma, loirinha. — disse próximo ao meu ouvido.

Um arrepio percorreu pelo corpo todo, e senti o hálito de menta de Lyan. Suspirei fundo e observei Adam e a Hanna se aproximarem da gente, exibindo o casal perfeito que eles eram.

— Olá, meu novo casal! — Hanna disse com um sorriso enorme no rosto.

— O que vocês estão fazendo aqui? — perguntei ríspida, mas logo me corrijo— Digo, aqui no prédio de Medicina.

— Nós não estamos afim de ficar para aula de hoje e pensamos, vamos chamar o Lyan para beber. — Adam explicou me olhando, um sorriso debochado brotou em seus lábios. — Se quiser ir, está convidada, mas acha que você não curta beber de manhã. Sabe, você é puritana demais.

Qual era o problema dele? Quase transamos na noite passada e Adam estava agindo como se nada tivesse acontecido, e pior, falando de maneira grossa. Ele não muda nunca ou só fica assim quando está perto dos amigos? Que idiota!

— Eu vou! — digo rapidamente, me recompondo.

Que porra eu estava fazendo? Eu não poderia sair com eles, um bando de irresponsáveis que iriam beber logo pela manhã. Eu tinha um futuro para construir, e nada iria andar para frente sem o meu esforço. Porém eu estava sendo burra e queria mostrar para Adam que eu posso ser mais do que ele pensa. Uma idiotice.

— Tem certeza? — Lyan sussurrou mais uma vez e eu apenas concordei com a cabeça.



Eu estava me sentindo estranha e irritada, muito irritada, mas eu não tinha motivo, ou tinha? O caminho todo foi um saco e insuportável! Eu fui no banco da frente, e ao meu lado, Lyan dirigia, Adam e Hanna foram no banco de trás, trocando beijos e mãos bobas. Eu entendia muito bem o motivo para aquilo tudo, Adam queria me deixar com raiva e com ciúmes, e estava conseguindo.

Agora estávamos no apartamento de Lyan, o que era estranho, pois eu pensei que ele morava na república.

— Eu venho aqui as vezes, quando quero beber. — explicou colocando a chave em cima de um balcão.

O apartamento parecia ser bem organizado, a sala é bem decorada em tons cinzas e brancos, a sala de estar e a cozinha são separadas apenas por um balcão pequeno. Tudo estava em seu devido lugar, ele deve pagar alguém para limpar o apartamento ou ele é bem organizado. Eu havia gostado da decoração simples.

— Vocês vão querer beber o que? — Hanna perguntou indo até a geladeira e abrindo.

           — Vodka! — Lyan diz se jogando no sofá.

         Caminho até o sofá e me sento do lado do Lyan, que sorriu para mim. Eu estava me sentindo desconfortável, muito. Adam se sentou na poltrona e me encarou. Desviei o olhar dele e encarei a parede cinza. Hanna colocou a garrafa cheia de Vodka e alguns copinhos em cima da mesinha de centro, e despejou um pouco em cada copinho.

           — Vamos lá. — ela disse entregando o copinho de cada um e me entregou o meu. — 1,2,3, vira! — gritou logo virando o copinho na boca.

           Virei o meu copo rapidamente e fiz uma careta quando o líquido queimou a minha garganta. Eu nao sirvo para beber, nada me agrada.

           — Não faça essa cara, Mary! — Hanna me repreendeu e eu fui obrigada a revirar os olhos.

Hanna passou com a garrafa da bebida em cada copo, os enchendo, e o meu copinho até chegou a molhar o carpete. Virei de uma vez na minha boca e o gosto amargo tomou a minha boca toda. Olhei para Adam que me encarava, com seu belo sorriso debochado e um cigarro na mão.

— O que gosta de beber? — a voz de Lyan interrompeu a minha troca de olhares com o amigo dele.

— Eu não sou de beber, então... — pressionei os lábios meio nervosa.

Eu nunca fui uma adolescente, digamos, rebelde ou coisa do tipo. Nunca bebi ou fumei, isso mudou na faculdade. A maioria dos jovens sempre despencam quando vão para a faculdade, a vida de sexo, drogas e bebida e não estudar, como o planejado.

— Gosta de cerveja? — neguei com a cabeça. — Tequila? — dei de ombros.

Lyan se levantou e foi em direção a cozinha. Suspirei baixo e molhei meus lábios com a língua.

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