XXIV

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Família Ashworth

   Uni as duas mãos fazendo um formato de concha para pegar água para molhar meu rosto vermelho de sono.

    Ellie estava completamente apagada na cama dela e dizia coisas estranhas durante seu sono.

    Eu estava bem cansada dessa semana de provas práticas da faculdade e de tudo. E eu pensava que medicina era a melhor coisa da vida.

    Cocei os olhos olhando para a minha aparência no enorme espelho do banheiro. Por incrível que pareça foi o dia do ano que eu acordei mais bonita, sem olheiras e cabelo embolado. O pijama de Ellie era tão... sexy e curto comparado aos de desenhos e enormes que eu tenho na minha casa.

    Sorri para mim mesma e sai do banheiro devagar, dando de cara com uma Ellie sentada na cama, quase dormindo e com os cabelos desgrenhados.

— Bom dia... — disse com a voz rouca e carregada de sono.

— Bom dia! — digo com uma certa animação na voz.

    Eu espero que o dia seja maravilhoso! Sem nenhum pensamento negativo e sem... caras tatuados e fumantes.

— Minha mãe que me acordou... — explicou ainda de olhos fechados. — Ela falou para você descer para tomar café enquanto eu tiro a minha aparência de monstro da cara — e enfim ela abriu os olhos castanhos.

Concordei com a cabeça e ri da cara que Ellie fez ao se jogar para trás, caindo na cama. Fui até a escrivaninha dela e peguei meu celular já carregado.

      Enquanto eu fazia o percurso longo do quarto até a sala de jantar, fiquei repassando minha semana inteira na minha mente. E acabei pensando nele... No idiota na qual eu estava nutrindo sentimentos à mais. Ele foi tão babaca na noite anterior comigo e eu ainda tinha esperanças que Adam me pediria desculpas, mas nada aconteceu... Talvez eu deveria colocar na minha cabeça quem era o Adam de verdade e que ele não me pediria desculpas, ele ao menos tinha essa obrigação, nunca teria.

        Quando entrei na sala de jantar, quase dei meia volta, mas já era tarde demais. A senhora Ashworth chamou meu nome atraindo a atenção de todos na mesa para mim. Olhei para cada um na mesa e tudo estava piorando. Adam e... Lyan estavam na mesa, com os olhares grudados em mim.

    E foi naquele momento, na qual não tinha como mais fugir, que eu paralisei. Completamente envergonhada e sem ter para onde correr.

     Adam estava sentado perto da ponta da mesa, os braços estavam apoiados na mesa e seu semblante estava sério, apenas seu olhar queimava em mim. Eu poderia sentir cada pedaço do meu corpo em chamas por causa de um olhar.

    Tive que desviar o olhar, pois não aguentava ver o babaca que ele era. Tentei sorrir abertamente para as pessoas na mesa, mas fui falsa demais e acabei me decepcionando comigo mesma.

— Mary, querida, venha! Sente conosco. — a senhora Ashworth disse acenando com a mão e apontando com a cabeça para o lugar vago ao seu lado.

    Respirei fundo contando mentalmente até 10 a cada passo que eu dava em direção à mesa. Eu precisava de paciência ou iria surtar a qualquer hora e jogando tudo para o ar.

      Sentei-me na cadeira delicadamente sem ter contato visual com ninguém. Mas a minha curiosidade sobre o outro homem presente na mesa foi maior, me deixando desconfortável a olhar para ele.

    Os olhos do homem era castanho claro, bem esverdeado. O rosto dele possuía maçãs altas com um contorno lindo, o maxilar era bem moldado me lembrando o maxilar do Adam. O rosto não possuía muitas rugas, ele parecia se cuidar bem e o cabelo era um tom meio loiro com fios brancos da idade. Os lábios dele era idênticos ao de Adam, assim como o formato dos olhos.

— Deixe-me te apresentar, Mary — Diana disse carinhosa comigo — Esse é o meu marido Bryan. E querido, essa é Mary Cooper, a bela jovem que lhe falei. — Diana tinha um sorriso meigo no rosto.

          — Muito prazer, querida. — ele sorriu para mim e fez uma afirmação com a cabeça — Conheço seus pais, vejo que eles fizeram um ótimo trabalho em relação à você.

          Sorri meio sem graça e senti minhas bochechas esquentarem.

       Elogios são as melhores coisas, mas eu nunca sei como agir diante deles.

         — Obrigado. E igualmente, é um prazer conhecê-lo — mantive o sorriso educado no rosto, porém eu estava quase caindo de sono.

         Uma senhora serviu o meu copo com um pouco de suco de laranja e eu agradeci gentilmente para ela que sorriu. Olhei para frente e Lyan me encarava com o seu belo sorriso no rosto. Quase perdi as cordas com aquele sorriso. Sorri mais envergonhada do que qualquer coisa e coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha. Por que esses caras são tão lindos?

           — Bom dia, família! — a voz de Ellie tomou o ambiente e eu observei a mesma entrar no cômodo.

           Ela olhou para Adam e fez uma cara feia, mas logo olhou para mim, o que me fez dar de ombros.

          — Que animação é essa? — ouvi a voz de Adam pela primeira vez na manhã — Andou dando para alguém? — disse com um sorriso maldito no rosto.

          — Adam! — o Senhor Ashworth o repreendeu.

           — Relaxa, pai. Adam deve estar entediado com a vidinha dele. — o tom sarcástico na voz de Ellie era notável e quase me tirou uma risada. — Por que não vai procurar garotas para magoar? — Ellie disse com um sorriso no rosto que desapareceu assim que ela percebeu o meu desconforto.

          Olhei para o prato vazio a minha frente e engoli em seco. Tentei não pensar na babaquice de Adam.

          — A última garota me deixou irritado. — deu uma revirada de olhos dramática e olhou para mim.— Menina pé no saco.

          Tentei parecer indiferente na frente dele, mas meus olhos começaram a arder. Ele gostava de me humilhar! Eu só queria um tempo de Adam, do idiota que ele estava demonstrando ser.

           — Não fale assim da Hanna, filho. — o pai dele interrompeu a minha troca de olhares com Adam.

          Eu tinha até esquecido que Hanna era namorada de Adam, o que me incomodou um pouco. E esqueci também que "todos" pensavam que na vida de Adam só havia Hanna, e não mais duzentas garotas — e eu era uma delas. Mal sabia  o senhor Ashworth que a "menina pé no saco" era eu e ele mal sabia sobre o caráter do filho dele, o caráter que Adam demonstrava não ter.

          — Desculpas, pai. — o seu tom foi mais que debochado. Adam estava me deixando irritada.

         — Bom... — Bryan começou a dizer — Soube que está fazendo faculdade de medicina. — ele olhou para mim e sorriu gentil.

     A família de Adam era tão gentil e legal, por que ele não era assim? O que tinha de errado com ele?

      — Sim, senhor.

      — Senhor está no céu, me chame só de Bryan... — brincou. Olhei de canto para Adam que me encarava de cara fechada — Qual área deseja se especializar?

       — Em psiquiatria. — peguei o copo de suco de laranja e beberiquei um pouco — Sempre foi o meu maior sonho.

      — Quer ser uma psiquiatra? — concordei com a cabeça. — Muito corajosa você — colocou as mãos em cima da mesa, entrelaçadas — Quem sabe daqui há alguns anos você se torna a psiquiatra de Adam. — olhou para o filho — Ele não gosta muito da atual doutora dele.

           Psiquiatra de Adam? Não sabia que ele precisava de um, ou tinha um psiquiatra... E por que ele precisava de um médico especializado nessa área? Eu não estava entendendo nada. Um psiquiatra trata os problemas mais graves e dá o diagnóstico de uma doença. Provavelmente o caso de Adam era bem sério ou não... Ele poderia ser bipolar, ou algo do tipo... Eu estava tão perdida.

           A curiosidade tomou conta de mim e eu olhei para Adam que fuzilava o Senhor Ashworth com o olhar.

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