Pequenas mentiras

XLI

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Sobre ele

Voltei para o refeitório rapidamente, quase correndo, impedindo que as lágrimas me traíssem e mostrassem para todos o que eu realmente estava sentindo. Quando cheguei na mesa onde eu estava, Lyan se levantou e veio até mim, ele parou na minha frente e o olhei profundamente. Observei ele olhar para trás de mim e já sabia quem era... Então, eu não me virei e não tive vontade para isso.

         Talvez eu tenha me esquecido que Adam e Lyan são amigos há anos e fazem parte do mesmo grupo de amigos. E como eu agora ficaria a maior parte do tempo com esse grupo — pois Ellie era a minha amiga e Lyan, bom, meu "namorado" —, e que teria conviver com Adam o tempo todo e sei que isso iria me destruir aos poucos.

         Peguei a mão de Lyan e puxei até a mesa, antes de nós dois nos sentarmos, Adam se aproximou de Lyan e eu recuei, me escondendo atrás do Fox.

          — Parabéns, conseguiu a garota. — bateu no ombro do Lyan, e percebi que o mesmo deu um meio sorriso.

          — Adam, olha, eu sei... — meu namorado começou a dizer, mas Adam o cortou.

          — Relaxa, ela é toda sua. Esquece o que aconteceu entre mim e a Mary, porque eu já estou esquecendo. — as últimas quatros palavras saíram tão devagar da sua boca que ele poderia ter soletrado, letra por letra. Adam olhou para mim e negou com a cabeça devagar, sorrindo.

E mais uma vez, Adam estava agindo como nada tivesse acontecido. Bom para mim, não é? Era ótimo ele agir assim... Porém isso acabava comigo de uma maneira sufocante, me mostrando que ainda sou fraca, e que talvez, nunca deixarei de ser.

— Vamos, amor? — Hanna disse com o seu humor alegre de volta. Argh! — Tchau, meninas! — acenou para Ellie e Jennie e parou do lado do namorado.

Adam continuou com o seu sorriso e bateu no ombro de Lyan, e logo passou por mim, me medindo de cima a baixo e riu baixo. Qual era a porra do problema dele? Como ele fazia isso? Estávamos discutindo nossos problemas há momentos atrás e, simplesmente, o Adam estava agindo normal, como se acabássemos de nos conhecer, ele agiu do mesmo jeito que conversamos da primeira vez. Então, eu virei uma estranha para ele, assim como o mesmo poderia virar para mim — mas infelizmente isso não aconteceria.

Eu não aguentei ficar muito na faculdade, assim que o intervalo do almoço acabou, me despedi do Lyan — que ainda ficaria na faculdade para as aulas que ele precisava — com alguns amassos e depois, o vi desaparecer entre as pessoas. Já que Ellie iria embora, ela me ofereceu uma carona de volta para casa, e pensei em desabafar com ela nesse caminho. Estava precisava colocar tudo para fora e ela me ouviu atentamente, sem me julgar ou me questionar.

       — E depois ele agiu normalmente... — terminei de dizer com um suspiro no fim.

       — O Adam estava insurportável! Nem a psiquiatra dele o aguenta mais. — disse revirando os olhos.

       Minha mente começou a formigar e a curiosidade tomou-me. Talvez seria a oportunidade ideal para que eu pudesse pergunta o porquê de Adam ir para um psiquiatra. Engoli em seco e mordi a pontinha dos lábios.

       — Sem querer parecer intrometida nem nada, mas... — parei por um instante — por que o Adam tem uma psiquiatra? — franzi a testa.

       Ellie me olhou rapidamente e suspirou fundo, voltando a atenção para a estrada. Por um momento, ficamos em completo silêncio, eu sabia que os seus pensamentos a estavam sufocando e provavelmente, eu toquei em uma ferida que não era para tocar.

        — Se não quiser me responder, eu entendo! — minha voz saiu tão apressada que eu tive que parar para respirar.

        — Tudo bem... — negou com a cabeça — Bom, acho que não é um assunto que eu deva te contar, pois o Adam irá surtar. Mas sei que você vai ficar agoniada — seus dedos apertaram fortemente o volante, e a pele dos dedos, de avermelhada foi para branco — O Adam, desde pequeno, sempre foi diferente das demais crianças, ele era isolado, sempre na dele. Só tinha uma pessoa que o fazia sorrir todos os dias, a minha avó. Quando os meus pais abriram a empresa aqui em Nova York, nos mudamos para cá, mas o Adam ficou com a minha avó.

        Eu ainda estava tentando entender o contexto de tudo, mas ouvia pacientemente.

       — Meu pai até tentou trazê-lo para os Estados Unidos, mas ele nunca quis. Aos 12 anos, o Adam perdeu a minha avó e foi horrível! — seu tom demonstrava tristeza. — Ele veio morar com a gente aqui e foi aí que o mesmo foi diagnosticado com depressão. Ele não comia, não queria falar com ninguém, não saia, só ficava vegetando no quarto dele. — eu estava sem palavras! Eu mal sabia sobre Adam... — Bom, até ele conhecer o Lyan, que foi uma benção. O Lyan ajudou muito o meu irmão a se abrir com as pessoas e se libertar daquela solidão sufocante.

       — O Adam sofre de depressão ainda?

      Eu tinha uma vontade imensa de abraçá-lo agora. Meus olhos estava cobertos por lágrimas e os meus pelos se arrepiaram.

        — Então... — Ellie respirou fundo. — Ele tomava antidepressivos e estava bem melhor, mas do mesmo jeito as mudanças de humor do Adam eram grandes e ele ficou muito agressivo. E começou a rebeldia e as tatuagens. Um dia, ele se envolveu em uma briga na escola com um cara, mas não foi qualquer briga... o Adam bateu tanto no garoto que o mesmo ficou em coma por 1 semana — abriu a boca para falar, mas nada saiu.

        Era tanta informação para a minha cabeça que eu tive que parar um momento para formular tudo o que ela estava dizendo. Eu não sabia desse lado do Adam, aliás quem era ele? O que tinha acontecido?

        — O meu pai conseguiu um acordo com a justiça para que o Adam fizesse trabalho comunitário e que passasse novamente por um psiquiatra... — Ellie parou por um segundo quando sua voz embargou. A olhei e uma lágrima caiu por sua bochecha, mas ela limpou rapidamente — Depois de muita observação, um novo laudo saiu. E aí descobrimos que o Adam era bipolar.

         Era mais que óbvio! Adam tinha bipolaridade... As mudanças de humor e até os comportamentos explosivos e agressivos faziam sentido, só que... era uma doença horrível e agonizante. Eu já li um artigo sobre a Bipolaridade e posso confessar que a doença ficou um tempo rodando na minha cabeça, me tirando algumas horas de sono.

A minha cabeça rodava e rodava, e eu permanecia no mesmo lugar, com pensamentos me transbordando e, estranhamente, me deixando confusa sobre minha opinião sobre Adam: eu sentia pena e... medo