POV CAMILA
__Está atrasada! – minha mãe entrou no quarto depois de ter gritado umas dez vezes para que eu me apressasse. Dona Sinu é um ótimo despertador; a opção soneca dela funciona muito bem.
__Já vou descer, mãe, só tenho que achar meu celu...
__Na minha mão, Camila, anda logo, filha. – disse antes que eu concluísse minha fala.
__Ok, estou pronta, vamos. – calça jeans clara de cós alto, blusa branca que deixava meu abdômen exposto e, por cima, um moletom cinza fechado. Nos pés, um tênis de cano baixo. Nem tão básico para passar despercebida e nem tão “cheguei” para chamar atenção demais; perfeito. Meus cabelos estavam presos em um coque bem-feito e minha maquiagem era composta apenas por base, lápis de olho e máscara de cílios.
Meu pai viajava a trabalho, e eu estava ansiosa demais para comer qualquer coisa que estivesse disponível. Minha mãe me levaria a Miami, um pouco menos de duas horas de distância de Golden Gate, cidade em que morávamos. Sofia, minha irmã caçula, foi para a escola bem antes de eu acordar. Me despedi dela ontem, e minha mãe teria que buscá-la depois que chegasse de Miami, por isso a pressa. Peguei meu violão e fui em direção ao carro; as malas já estavam todas lá.
O caminho foi animado, minha mãe e eu nos damos muito bem (apesar de ela ser protetora demais, e isso me irritar bastante). Fomos cantando e brincando por todo o percurso. A chuva fraca que caía fez com que surgisse um lindo arco-íris no céu alguns quilômetros antes de chegarmos a Miami. Por falar nisso, que lugar...
Me arrepiei com a estrutura do campus da UAM; por foto já era maravilhoso, mas pessoalmente parecia um sonho. Descemos e, após pegar minhas malas, fomos em direção ao dormitório. As placas espalhadas pelo local ajudaram para que não nos perdêssemos.
Caminhei reparando em cada detalhe do lugar; lindo, uma mistura de clássico e moderno. E, apesar de toda a infraestrutura, também era cheio de vida: árvores, plantas, flores e, mesmo em um dia nublado, se mantinha glorioso. Algumas estátuas davam o toque final ao local. Imagino que sejam de pessoas importantes para a arte mundial; espero aprender sobre algumas delas.
Minha mãe falava pouco, quase nada; afinal, já havia conhecido tudo quando me matriculou, mas sorria vendo minha felicidade por estar aqui.
Entramos no prédio e andamos rumo às escadas. O lugar possuía três andares; no térreo, ficavam algumas salas de recreação para o divertimento dos alunos, salas de coordenadores e supervisores da instituição e também um dos refeitórios. Todo mundo tinha acesso livre a essa área até certa hora. A partir do primeiro lance de escadas, apenas meninas eram permitidas, e é o mesmo com meninos no prédio ao lado.
Haviam dois setores por andar, do A ao F. O lugar é maior do que eu pensava, melhor do que eu poderia sonhar. Subimos mais um lance de escadas; a todo momento eu me desviava de pessoas, muitas pessoas. É o primeiro dia de aula do ano; esse deve ser o motivo da lotação exagerada, mas eu não me incomodei com isso. Não existe sensação melhor que estar cercada por pessoas que amam o mesmo que você.
Peguei a chave para ter certeza de onde iria me instalar: setor F, quarto cinco. Subimos mais um lance de escadas, e eu já avistava a placa E.
__É o próximo, mama.
__Quantas escadas, Camila, eu não tenho mais idade para isso. – minha mãe disse rindo, me fazendo rir também. Caminhamos mais um pouco; a cada passo uma sensação diferente. Eu não sabia o que encontraria ali, mas algo me dizia que seriam coisas boas. A placa que indicava o setor F chamou minha atenção, e ali eu já conseguia avistar a porta do meu novo quarto.
__É aqui. – coloquei a chave na fechadura, girei e a porta se abriu.
__Uau! – foi tudo o que eu consegui dizer sobre o quarto. Era lindo, fofo, espaçoso de certa forma e muito bem organizado. Duas camas de solteiro, uma em cada canto, um armário grande entre elas, uma cômoda na lateral, uma escrivaninha, a TV na parede e uma caixinha de som no alto. Imaginei que serviria para a reitoria passar recados. Mama fez questão de que eu dormisse em um quarto com banheiro, mesmo sendo mais caro. Ela sabe que morro de vergonha quando se trata de dividir esse tipo de ambiente, ainda mais com estranhos.
Não havia defeitos nesse lugar, vi que minha colega já havia chegado, afinal, suas coisas estavam sobre uma das camas. Coloquei as minhas no chão perto da outra cama e o violão em cima dela para que sobrasse espaço para me sentar.
__Filha, você vai ficar bem? – minha mãe perguntou se sentando ao meu lado; seu tom de voz era calmo, porém preocupado.
__Mama, fica tranquila, eu vou ficar bem, eu já estou bem. Eu sei que a senhora se preocupa, mas eu sei me cuidar, confia em mim. – dei um beijo nas mãos de minha mãe; ela sorriu como quem estivesse mais tranquila.
__E os remédios? – perguntou me fitando nos olhos.
__Vou tomar tudo direitinho, dona Sinu, eu já tenho dezoito anos, sabia? – cruzei os braços e a fitei séria para depois rir.
__Ok, adulta responsável, confio em você... Mas agora preciso ir, se não chegarei atrasada. – se levantou e, em seguida, eu também.
__Vou te levar até o carro. – estava indo em direção à porta quando a mulher interrompeu meus passos.
__Não precisa, filha; descanse e depois arrume suas coisas. Karla Camila, não é porque eu não estou aqui que você vai deixar tudo jogado. – eu ri.
__Sim, senhora. – fiz sinal de continência e ganhei um abraço longo e apertado de minha mãe. __Vou sentir saudades, mama, eu amo você.
__Também te amo, meu amor, e já sinto sua falta. Fica bem. – me deu um beijo na testa, abriu a porta e saiu. Apenas acenei em sinal de despedida e fiquei na porta até não conseguir mais vê-la. Em seguida, entrei.
Eu tinha malas para desfazer, um ambiente enorme para explorar e pessoas para conhecer, mas resolvi deixar tudo para depois; afinal, estava em casa, minha nova casa. Tirei meus sapatos, deitei na cama e coloquei meus fones.
__Spotify, eu te amo.
Quando estava quase pegando no sono, um ruído alto chamou minha atenção, e então retirei os fones.
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Um brinde ao nosso anjo - CAMREN
Mystery / ThrillerApós enfrentar situações extremamente complicadas em seus tão recentes dezoito anos, a jovem Camila Cabello decide que é hora de seguir seu coração. Com as malas prontas, a garota cubana que, anos atrás, teve que se mudar para os Estados Unidos com...