Recomeço

2.2K 61 2
                                    

           POV LAUREN

Hora de recomeçar, voltar a estudar na UAM vai me fazer bem. Pelo menos, é o que Jade (minha psicóloga) acha; foi ela quem me convenceu a fazer isso.

Fotografia sempre me trouxe paz, e é disso que preciso agora. Pela primeira vez, tenho o apoio de minha família ao decidir algo, até Clara está diferente, melhor, eu diria. Talvez isso seja a única coisa boa em meio a tudo isso, mas eu preferiria que ela continuasse sendo quem era antes, se isso trouxesse minha vida de volta.

Estava a caminho da Universidade. Yohan me trazia; além de ser meu melhor amigo, se tornou meu motorista particular – mas vive mais dentro do meu quarto do que no carro – como seu pai, que é motorista da minha família e posso dizer que me viu crescer. Yohan e eu crescemos juntos; aliás, sou mais velha que ele, é claro. Mas, apesar de ser um garoto divertido e brincalhão, sempre foi bastante maduro e centrado. É uma das melhores pessoas que conheci, foi quem cuidou de mim durante todo esse tempo, é especial, talentoso. Sempre digo a ele para investir na carreira artística, mas ele diz não se sentir pronto; bobagem.

Pela janela do carro, vi que estava chovendo. Por mim, poderia ser assim todos os dias; odeio dias ensolarados. Encostei-me no vidro e fechei os olhos. Como vai ser a partir de hoje? Pensei que nunca mais conseguiria levantar da cama, e agora cá estou. __Você deveria ter pensado mais antes de decidir voltar, Lauren. – resmunguei comigo mesma.

__Falou comigo? – perguntou, me olhando pelo retrovisor.

__Não, Yo, mas acho que é melhor conversar com você do que falar sozinha. – desencostei-me do vidro e passei a mexer na máquina fotográfica que trazia comigo. __Acha que eu vou conseguir lidar com isso um dia? Acha que voltar a estudar pode me ajudar? – meu coração apertou com minhas próprias palavras.

__Ei, claro que vai. – respondeu em um tom animado. __Na verdade, você já está lidando com isso há um bom tempo e muito bem, por sinal. E outra coisa, você ama fotografia desde pequena. – sorri. __Se a UAM não te ajudar, atrapalhar pelo menos não vai. – sorriu e piscou para mim. Eu amo esse garoto. __Chegamos, senhorita. – revirei os olhos; sempre odiei esses pronomes de tratamento.

__Senhorita é a avó, Yohan Matteo.

__Calma, estressadinha, só estou tentando aprender direito com meu pai; filho de peixe não pode se tornar polvo. – respondeu em meio a risadas.

__Mas pode se tornar estrela, o que acha? – agora quem piscou fui eu.

__Sem chance, Lern. – o rapaz respondeu, mexendo a cabeça negativamente com um sorriso de canto, já sabendo a que eu me referia. Eu apenas o fitava pelo espelho retrovisor, posicionado de maneira que eu conseguia ver seu rosto perfeitamente. Yohan parou o carro no estacionamento mais próximo ao portão do dormitório feminino, mas ainda havia uma distância considerável a ser percorrida apé.

__Vamos? – ele se virou para trás novamente, me entregando um guarda-chuva que havia retirado do porta-luvas. Estiquei o braço para pegar o objeto, mesmo sabendo que não usaria.

__Vamos – respondi, saindo do carro.

Descemos, e Yohan foi ao porta-malas pegar minha bagagem. Me ofereci para ajudá-lo, mas, pra variar, ele não deixou.

__Como se eu obedecesse suas ordens. – peguei uma mochila e ele bufou, me olhando de canto; mandei um beijinho e saí andando.

__Como não reparei antes? – comentou, me obrigando a fitá-lo.

__O quê? – perguntei curiosa.

__Você está muito bonita, senhorita Jauregui. – ele sorriu; revirei os olhos, mas no fim acabei soltando um risinho.

__Para de ser idiota, estou sempre assim. – respondi, olhando para o que vestia: jeans escuro, botas, camiseta e minha jaqueta de couro que está prestes a sair andando sozinha de tanto eu usar. Caminhamos em silêncio por pouco tempo; Yo andava ao meu lado.

__É grande aqui, né? – ele parecia uma criança visitando um parque de diversões pela primeira vez, observava cada detalhe, estava fascinado.

__Sim, é bem grande. Vem, vamos entrar, vai gostar de conhecer lá dentro também. – me seguiu.

Eu já havia falado com o diretor Simon por telefone; ele se mostrou muito contente com meu retorno, o dinheiro sempre o interessou muito. Simon disse que eu poderia ficar no mesmo quarto que usava antes, mas teria uma colega nova; por mim, tudo bem.

Entramos no prédio feminino – e sim, aqui parece um colégio católico, tudo separadinho – caminhamos em direção ao meu setor. Fui guiando Yohan, que às vezes parecia perdido; eu só conseguia rir da fofura que era vê-lo todo bobo e atrapalhado com o lugar enquanto andava. A UAM é o lugar dele, e logo ele vai perceber.

Até o momento, não havia reencontrado ninguém, e isso me acalmava um pouco. Não sei ainda como vou sustentar a história de que me mudei para a Europa; posso me confundir e falar besteira, Yo não estará aqui para me ajudar, e a única pessoa que sabe de tudo além dele é Vero, que não vejo desde que tudo aconteceu. Ela me procurou várias vezes, mas eu a evitei. No começo, eu não queria ela nem ninguém por perto; isso foi passando, mas mesmo assim não a procurei. Ela deve me odiar. Será que ainda estuda aqui? Espero de verdade que sim, sinto falta, mas sei que não mereço sua amizade.

Após subir alguns lances de escada, chegamos ao meu setor e, consequentemente, ao meu antigo – ou devo dizer atual – quarto. Meu coração estava um pouco disparado, ansiedade batendo à porta, mil pensamentos. Juntei forças para pegar as chaves e abrir a porta.

O quarto estava diferente; na verdade, o campus todo estava, mas a mudança do quarto era mais significativa. Os móveis rústicos de antes foram trocados por outros mais modernos e em tons mais claros; algumas paredes receberam tintura um pouco mais escura, outras continuavam brancas. Ótimo contraste, apesar de ser tudo claro demais. Minha nova colega de quarto ainda não se encontrava ali, então escolhi a cama que eu usava antes, à esquerda. Coloquei minha máquina fotográfica na prateleira de livros acima da cama, e o restante das coisas dividimos entre frágeis na cama e o que sobrou no chão.

__Tenho que ir, Lern. – Yohan disse após constatar a hora em seu celular e guardá-lo no bolso da calça novamente.

__Já? Qual é, vamos comer alguma coisa, dar uma volta, sei lá. – nem estava com fome, só queria que ele ficasse mais; eu me sentia melhor com ele por perto.

__Queria muito; esse lugar é demais, mas tenho que buscar Taylor na escola. – ele claramente não queria ir.

__Não é justo, você é meu. – cruzei os braços e fiz bico; Yo riu.

__Meu pai está de folga, preciso trabalhar por nós dois, para de ser birrenta. – me puxou para um abraço enquanto ria; esse garoto é mais que um irmão para mim.

__Está cedo para buscá-la, vamos comer algo e depois você vai, por favor. – usufruí da famosa carinha de cachorro pidão para comovê-lo.

__Está bem, mas eu não posso demorar; se eu me atrasar, Taylor me mata.

Consegui.

Um brinde ao nosso anjo - CAMRENOnde histórias criam vida. Descubra agora