Ana Clara
- Onde vamos comer? -Perguntei assim que PH ia subir na moto, MK já estava em cima da dele.
- Na dona Fátima. Porque? -PH pergunta me encarando.
- É muito longe daqui? - Perguntei o olhando nos olhos.
- Não muito. - PH fala ficando impaciente.
- Vamos apé? Quero conhecer o morro. - Eu ja conhecia uma parte do morro, mas não tudo e agora que vai ser minha casa né.
- Mas você tem certeza? E depois pra subir o morro todo? - MK perguntou ainda na moto
$ Ue, a gente sobe normal, usando as pernas que Deus nos deu. Olha esse ventinho gostoso batendo no rosto e coisando meu cabelo.
- Então vamos, mas se você reclamar pra subir tu vai ficar visse. - PH falou tirando a chave da moto e guardando no bolso.
Fomos andando um ao lado do outro por mais que seja estranho eu me sinto muito melhor aqui com eles do que na minha casa. Eu sei, pareço uma louca por aceitar que eles me compraram (trocaram, chamem como quiser), mas só eu sei tudo que eu sofria e era obrigada a suportar. Aqui eu me sinto livre, mesmo que um pouco presa
Meu sonho sempre foi me formar, terminar o ensino médio, hoje vejo que não era esse o meu sonho, mas era a forma mais rápida de me livrar da vida que eu tinha.
O caminho todo MK foi fazendo piada sem graça e eu rindo feito uma retardada o PH só dava alguns risinhos mas ainda sim, sem mostrar os dentes. O morro não era uma bagunça como muitos falam, eu já tinha vindo aqui algumas vezes mas na maioria das vezes escondido.
Tem casas muito bem feitas, umas mais simples e outras mais ornamentadas. As crianças corriam livres por todo o morro subindo e descendo. Vez ou outra escutava-se "Te achei", "batida salve todos" ou até mesmo, "te peguei" sem medo de ser atropelado ou de ter alguma coisa que os maltrate. Em todos os cantos viam-se guardas com suas enormes armas, para que a segurança seja estabelecida.
Os moradores respeitavam PH, não era respeito por medo, mas sim porque ele os tratavam com respeito também.
- Posso fazer uma pergunta? - Perguntei olhando para PH.
- Se eu disser que não você vai fazer de todo jeito. Então faz Ana Clara. - Meu nome saiu tão bonito em sua voz.
- Você é o dono do morro, as pessoas não deviam ter medo de você?
- Só tem medo aquele que deve. Ou sabe que ta errado. Essas crianças não fizeram nada errado para serem descobertos. É questão de equilíbrio. Respeito e medo são coisas totalmente diferentes. - Ele falou dando de ombros e eu sorri, com sua maturidade e respeito inclusive pelas crianças.
Chegamos a uma espécie de mercearia com algumas pessoas sentadas almoçando, todas cumprimentaram PH e MK, entramos mais a fundo e sentamos em uma mesa com 4 cadeiras. Até uma moça chegar para nos atender.
- Meus filhos. Que bom que lembraram de mim. - Sua voz era meiga e tinha um amor fraternal.
- Yae tia Fátima. Quem disse que a gente esqueceu? - PH falou sorrindo um sorriso que quase mostrava os dentes, mas era sincero, então ja era valido, abraçou a mulher, beijando sua testa em seguida.
- Isso tia, nunca esquecemos da senhora não. - MK falou e ela abraçou os dois ao mesmo tempo, me fazendo sorrir com tanto carinho.
- Hanran sei, vou fingir que acredito. - Olhou pra mim e sorriu. - E essa mocinha linda quem é? - Seus olhos não me eram estranhos.
- Essa é a Ana Clara. Ana Clara essa é a dona Fátima. - PH falou nos apresentando brevemente
- Olá menina. Pode me chamar de tia Fátima ou só Fátima mesmo. Vem cá me dar um abraço. - Eu levantei e fui abraçar ela, faz algum tempo que não sinto abraço tão materno. Chega correu um arrepio pela minha espinha. E pelo visto ela também, nos soltamos. Olhando assim ela tem uns traços meus também, não sei porque, deve ser imaginação minha.
- Trás o prato do dia tia por favor. - PH falou voltando a sentar.
- Pode deixar. - Ela sorriu e saiu por uma portinha que eu creio que leve a cozinha.
Ficamos conversando o PH era mais fechado mas as vezes entrava na conversa, a maior parte do tempo ele ficava me encarando, como se tentasse descobrir meus segredos mais profundos por meio de um olhar. Chegou um garoto perto da nossa mesa e eu senti que conhecia ele de algum lugar.
- Ana? - Estava surpreso. Ele me conhece, certo eu também o conheço, so preciso lembrar de onde.
💭 Oh burra, lembra de ninguém do ensino fundamental não?
- João? - Levantei correndo e pulei no colo dele ele me segurou e eu chorei.
O João era meu melhor amigo no fundamental, eu sabia que ele morava no morro porque foi ele que me ensinou tudo que sei, ele sabe meus piores segredos e maiores medos. Pelo menos os mais antigos. Até o 9° ano ainda tínhamos contato, mas depois ele parou de estudar, e eu continuei até o primeiro do ensino médio quando meu pai me tirou da escola.
Ele me soltou e e eu abracei ele mais ainda fiquei ouvindo seu coração.
- Pronto, Magali. Eu tô com você. - Ele falou acariciando meus cabelos e beijando o topo da minha cabeça.
- Você lembra, cebolinha. - Olhei pra ele e sorri em meio às lágrimas, me referindo ao meu apelido de infância. Nós sempre amamos a turma da Mônica e como no fundamental o João sempre trocava o R pelo L eu passei a chama-lo de cebolinha e o meu é por causa da minha fome insaciável.
- Como poderia esquecer? - Ele falou afagando meus cabelos.
Soltei dele e limpei as lágrimas que queriam sair a força.
- Oi também JL. - PH falou como se quisesse acabar com o momento fofo.
- Opa, yae PH. - Fez um toque com o PH. - Fala MK. - Também fez um toque com o MK.
- Fala moleque. - MK falou sorrindo para o amigo.
- Senta aí pra comer com nois. - PH falou e mostrou a cadeira vazia ao meu lado.
Ele sentou e me abraçou.
- E então, como se conhecem. - MK perguntou demonstrando interesse . O João ficou calado com medo de falar algo que não devia.
- No fundamental ele era meu único e melhor amigo. Quando ele parou de estudar no 9° ano, nós tínhamos pouco contato, e depois que meu celular foi encontra com a parede ficamos sem nenhum...
- Foi ele não foi? - Eu baixei a cabeça e assenti. - Desgraçado. - Ele socou a mesa. - Eu sabia que tinha algo errado, sabia que devia ter ido lá. Puta que pariu.
-Ta tudo bem. Eu me dediquei mais ao meu livro. Quando tinha tempo. - Falei tentando acalma-lo.
- Que bom que não desistiu dele. - João falou acariciando meus cabelos.
- Você tem um livro? - PH e MK falaram ao mesmo tempo e eu sorri tímida.
- Na verdade ainda estou concluindo.
Dona Fátima chegou com os pratos. Era muita comida, assim que eu gostava.
- Você não vai aguentar comer isso tudo - MK falou sorrindo.
- Não dúvide, porque ela come o dela e ainda come o seu se você bombear. - MK meio que abraçou o prato com a mão. - Se ela tiver com muita fome ela come até o do PH. Faltou o meu tia. - Ele sorriu para Dona Fátima que o puxou pela orelha para lhe dar um abraço em seguida saiu novamente, provavelmente para buscar seu prato
-Tem uma anaconda aí é? - PH perguntou com o semblante sério.
Nós rimos mas ele continuou sério. Ficamos conversando sobre tudo. Menos sobre a minha vida, não queria falar sobre tudo que eu passei. Um dia quem sabe mais pra frente, mas por enquanto, não era a hora ainda.
{●●●}
* Continua...*
§¶17-09-2020 ¶§
§¶ 13-08-2022 ¶§ (REVISADO)
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Several Fucks Ana {~Concluída~}
RomanceNão vale a pena mudar. Do que vai adiantar? Todos vão te abandonar Confiei de mais, amei de mais, me apaixonei, fui fiel, lutei, e so então eu chorei. Chorei por não aguentar mais ser insuficiente. Vi pessoas que eu amei me deixar para trás, vi meu...