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Nathan acordou do avesso. E no caso dele, é literalmente.

Sua cabeça se encontrava na ponta da cama de casal inclinada para baixo da pior forma possível, bem na beiradinha estreita. Ele estava tão desconfortável de tantas formas diferentes, em partes diferentes, que aquela manhã facilmente poderia ser classificada como tortura chinesa.

Para ajudar alguém havia feito o favor de puxar as cortinas do seu quarto e abrir a janela, fazendo com que a luz entrasse e caísse diretamente sobre ele, aquecendo o seu corpo nu e irritando seus olhos.

Não estava completamente acordado ainda quando teve um pequeno surto de medo, tateando pela o colchão grande com a mão suada e trêmula. Só se acalmou quando percebeu que estava sozinho na cama, e no quarto.

Soltou um suspiro imediato de alívio.

Nathan foi a uma festa da faculdade durante a madrugada, e quando voltou para casa trouxe uma garota completamente desconhecida consigo. Desconhecida de verdade, assim que os dois não conversaram além de trocarem nomes - que ele já esqueceu.

Sabia que foi tudo consentido e ela tinha mais de dezoito anos, então nada a se preocupar sobre. A melhor parte era saber que ela já tinha desaparecido. Tudo que restava, agora, era a ressaca e a sensação boa de ter transado na noite passada.

Mas uma coisa acabava anulando a outra no momento.

Quando Nathan finalmente conseguiu se erguer da cama, a primeira coisa que fez foi pegar o celular para se localizar no mundo. Eram três horas da tarde de uma sexta feira de feriado. Tinha milhares de mensagens de Roger preocupado consigo, e outras de pessoas que não importavam tanto.

Ok estava tudo normal.

Após responder Roger, Nathan foi até o banheiro dentro da sua suíte, tentando se remontar como pessoa. Tomou o remédio da ressaca, que ficava ali por motivos óbvios, e acabou decidindo tomar um banho antes de finalmente botar uma roupa.

O banheiro da suíte era praticamente minúsculo e todo branco, com armário e espelho, com pouco espaço de separação entre o box e o resto. Os pais de Nathan sabiam que tinham cagado a construção daquela parte da casa, mas em vez de arrumar, decidiram que Nathan não merecia nada melhor do que aquilo.

Basicamente o banheiro do seu quarto tinha o mesmo tamanho da tolerância atual dos pais consigo.

Quando saiu limpo e de cabelo molhado, 1% melhor que antes, a porta do seu quarto foi aberta com força. Mas não havia ninguém do outro lado. Bom, ninguém humano. Era necessário abaixar o rosto para conseguir ver o ser vivo que decidiu invadir o seu quarto.

"Porra, Brutus!" Nathan exclamou para a cadelinha filhote de yorkshire toy que sabia abrir a porta do seu quarto (como ela fazia isso era um mistério do universo) e entrava quando bem entendia. "Que porra é essa na sua cabeça?"

Ele pegou a cadela que o encheu de lambidas e subiu e desceu nos seus braços, contente por poder ver o dono novamente. Nathan correspondeu às carícias, mas ele não conseguiu ignorar aquele monstruoso e ofensivo lacinho rosa no meio da cabeça de Brutus, entre as orelhinhas levantadas.

"Nathan Breno." uma voz feminina chamou a atenção. "Isso é jeito de falar com a cachorra?"

Nathan olhou para a mulher baixinha e magra que era a sua mãe, de cabelos pretos que Nathan puxou; olhos que denunciavam sua descendência japonesa castanhos vividos, sempre muito expressivos, e pele clara.

"Foi mal, haha. Esqueci que ela pode aprender a falar "porra" também." Nathan revirou os olhos. A mulher cruzou os braços, parecendo uma assassina profissional quando irritada, mesmo sendo tão pequena. "Mais importante que isso, quem botou essa merda na cachorra?"

E apontou para o lacinho rosa ultrajante.

Sua mãe apenas arqueou as sobrancelhas para ele. Ela estava acostumada com o jeito do filho, mas não ficava mais fácil de aceitar. Não mesmo. Sua real vontade era de exorcizar Nathan em alguns momentos. Nathan tinha plena consciência disso, e usava de inspiração para continuar fazendo.

"Ela foi para o petshop, já que se você não dá banho nela, alguém tem que dar. Aliás, eu vim aqui avisar para você não se esquecer de passar lá e pagar os gastos que ela teve pelo o mês."

Nathan começou a espumar.

"Porra, Lisa, eu sou estagiário! Eu não ganho o suficiente para bancar cachorro de madame!"

Lisa não se afetava pelo o jeito de Nathan, para a sua sorte. Se não, ele já teria levado um belo de um chute no meio da bunda. Ele tinha que puxar o lado rabugento e irritado de alguém, certo?

"Ah, pelo amor de Deus, a criatura faz Engenharia Mecatrônica e quer me falar que não tem dinheiro." Lisa debochou ainda de braços cruzados. "Começa a dar banho na cachorra então, Nathan Breno!"

"Eu tenho mais o que fazer do que dar banho na cachorra!"

"Claro, tipo ir para festas da faculdade." agora Lisa estava um pouco mais irritada ao retrucar, e Nathan percebeu o limite que nem o cara mais macho do mundo iria passar. "Sua sorte que nem eu e nem o seu pai tivemos o desprazer de ver a garota saindo dessa vez. Mas eu apostei um kitkat que você não sabe nem a inicial do nome dela."

Nathan ignorou o fato de que ele corou (tanto de raiva, tanto de vergonha, tanto por que A PELE DELE CORA FÁCIL SEM MOTIVO NENHUM) por que, realmente, sua mãe estava certa em vários níveis.

Mas foi uma vergonha passageira, pois Nathan sabia muito bem como matar qualquer culpa àquela altura da vida.

"Eu não vou discutir isso com você. Não vou te dar um kitkat de graça."

"Meu filho, você me deve a sua vida. O kitkat nem chega perto do mínimo do que você me deve. Mas seu pai vai me dar de qualquer jeito. Vou te dizer, Nathan Breno, eu e o seu pai somos mestres na arte da adaptação. Se não fôssemos, você já teria sido expulso de casa. Agora que terminou com o seu showzinho da Xuxa, não esqueça que precisa levar a cachorra para passear e ir 'no petshop."

"Eu não--"

"Eu não quero saber mais, Nathan Breno, ou você leva essa cachorra para passear ou eu tranco ela aqui no seu quarto para cagar contigo o dia todo. Esteja avisado."

Sem precisar falar mais nada, Lisa saiu. Nathan grunhiu e bufou, exatamente como uma criança de cinco anos, a única diferença é que ele já tinha vinte e um anos e era um cabrón de 1,80 centímetros de altura.

Ele olhou para Brutus enquanto a segurava, e tudo que ela fez foi lamber o próprio nariz de forma frenética. Ela deveria estar interessada no gosto da própria caquinha. Sem revelação cósmica para você hoje, rapaz. Ela não ia começar a falar ou arranjar um jeito mágico de salvá-lo. O negócio é levar a cadela para passear e catar cocô.

Peixes Fora do Aquário (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora