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"O que foi que acabou de acontecer?"

Miguel verbalizou os pensamentos confusos de Nathan naquele momento, olhando para ele.

"Eu não faço a menor ideia?" Nathan disse após piscar algumas vezes. "Eu só 'tava sendo o mínimo de decente, e aí..."

Nathan não pretendia explicar de verdade, afinal não sabia o que e como explicar, mas o jeito que Miguel o olhou em seguida gritava que os teriam uma DR. Era o mesmo olhar de todas as outras vezes, Nathan já havia se acostumado.

Seria ali e agora, enquanto andavam atrás do grupo grande de garotas que Nathan suspeitava não terem entendido que ele iria com elas e não só seguia na mesma direção que elas.

"Milo me contou do que aconteceu na Engenholândia outro dia."

Ah.

Não era como se Nathan tivesse escondido, ele só não sabia como falar sobre. Como não sabia falar sobre um monte de coisas com Miguel ainda, e agora sabia que isso o incomodava.

"Por acaso isso de agora tem a ver com o que aconteceu na lanchonete?"

"Que? Não." Nathan nem precisou pensar para responder, o que foi bom. "Eu não falei nada por pena ou culpa? Por mais que seja difícil de acreditar, ter ficado e assistido o jogo me fez entender... Eu não tinha uma opinião de verdade sobre essa situação toda. Eu só fui na onda de todo mundo em odiar elas, mas... Bom, eu sei que você ouviu outra coisa, e eu não quero realmente passar meus dias desmentindo todos os rumores sobre mim, mas eu não tive nada a ver com a sabotagem do time delas."

Nathan também não queria desmentir por que ele sabia que quase ninguém iria acreditar.

E a grande possibilidade de Miguel não acreditar, por mais que fizesse sentido, o machucava. Principalmente agora, que ganhou a chance de conhecer o toque dele, o beijo dele. Claro que Nathan conseguiria se afastar, mas doeria para um caralho.

E se ele pudesse evitar isso... Queria evitar isso.

"Eu acredito nisso." Miguel o surpreendeu com a rapidez em falar isso, chamando a atenção de Nathan. "De você não ter sabotado. Eu realmente acredito nisso. Mas isso não quer dizer que você fez qualquer coisa para ajudar ou foi contra. Ficar quieto sobre uma agressão é quase a mesma coisa que cometê-la."

Miguel tinha toda a razão. Nathan sempre entendeu isso, na verdade. Foi por isso que ele bateu nos garotos que torturavam Roger, e virou amigo dele. Foi por isso que colocou Milena no seu grupo do seminário e a assistiu enquanto ela apresentava perfeitamente bem e se vingava do seu antigo grupo.

Nathan podia fazer tudo isso, mas ele ainda era babaca com garotas que nem conhecia e que nunca fizeram nada de ruim para ele. Mas o silêncio dele sempre era uma arma usada contra elas, e elas sempre perdiam no final.

Não era justo.

Se pensasse um pouco sobre isso, nada disso era justo.

Ele só preferia passar o tempo todo sem pensar, antes.

"Eu sei disso." Nathan finalmente respondeu. "E eu não estou dizendo que eu não ajudei nessa merda de situação, ou que eu não mereci a situação na lanchonete. Como eu disse, eu só fui o mínimo do decente agora. Eu só queria... Falar o que eu pensei, só isso."

Miguel suspirou em resposta.

"Elas não se contentam com o mínimo de decente. Na verdade, ninguém se contenta com isso." Miguel começou a explicar com a verdadeira paciência de um professor. "Se a Electra te convidou, é por que ela decidiu te usar de algum jeito. Eu conheço 'ela e ela é incrível, 'pra dizer o mínimo. A garota muda uma sala quando entra nela."

Peixes Fora do Aquário (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora