Nathan morava em um bairro com dois parques grandes com "bosques" (tipo bosque) que permitiam cachorros. Um desses, na verdade, ficava praticamente à frente da sua casa. Acho que se a condição econômica dele não ficou clara antes com a "suíte", não tem como não ficar agora.
Quem mora no Brasil sabe que só consegue morar em bairro com parque (parque, não praça) quando se tem dinheiro.
Com um parque tão perto de casa, Nathan se tornava encarregado de passear com Brutus. Afinal, ele realmente era o dono dela. Seus pais lhe deram a cadelinha no último natal, com a esperança que ela sensibilizasse o filho horrível que tinham e lhe trouxesse senso de responsabilidade.
Como pode perceber, não funcionou muito bem.
Nathan não merecia Brutus. Ela era maravilhosa, assim que com poucos meses de vida ela aprendeu a andar sozinha, sem guia, e ela já fazia truques e respondia quando ouvia o próprio nome.
Late e faz cara feia para quem se aproxima de si, mas é só perderem o medo que é fácil notar que Brutus é, na verdade, muito mansa e deita de barriga cima para receber carinho de qualquer um.
Mas assim, ninguém realmente consegue ter medo de uma yorkshire toy. Por isso Nathan era parado o tempo todo por conta de Brutus. É um inferno passear com ela, já que demora bem mais do que demoraria com um buldogue, que foi isso que pediu desde o começo.
Você deve estar se perguntando o que foi que aconteceu com aquele garoto do prefácio que se tornou um macho chato do caralho desse.
Bom, eu não sei se já citei a puberdade, mas teve a puberdade. E realmente ela foi um pouquinho pior para Nathan do que o normal por conta das piadas incessantes que ouvia com a sua marca, tornando-o, em primeira instância, agressivo.
Nathan ouviu de tudo. "Maldotado" substituindo Maldonado é praticamente atemporal, começando no seu primeiro ano do fundamental e ainda o perseguindo na faculdade. Havia também as clássicas piadas sobre asiáticos e o pinto pequeno, e não vamos falar da época em que as crianças aprenderam o que significava a palavra "microscópico" e qual o propósito do objeto "lupa".
Na cabeça de Nathan, o único jeito de responder tudo isso era se tornar tão valentão quanto os outros. Então ele virou macho e arrebentava a cara das pessoas antes que tivessem tempo de lhe zoar.
Óbvio que seus pais interviram e forçaram Nathan a aprender a controlar a agressividade. Mesmo controlado, Nathan continuava com raiva. Então ele precisou achar outras formas de canalizar a energia gerada pela a raiva. Até que ele canalizou em coisas boas, como se esforçar nos estudos e uma caralhona de esportes diferentes, como o basquete. Porém, ao mesmo tempo, ele também canalizou grande parte da energia em reclamar. Reclamar para um caralho.
E como boa parte dos jovens da sua geração, Nathan também extravasa muita dessa energia no sexo. Mas no caso dele, parece que toda vez que ele leva uma garota para casa é um tipo de teste para saber se ela vai ser a sua alma gêmea misândrica que expõe o tamanho do pinto dos rapazes com quem transa. E se for, Nathan tem que estar sempre preparado para se vingar da forma mais efetiva.
Não foi muito difícil para Nathan odiar a sua alma gêmea sem nem mesmo conhecê-la, com essa ideia fixa de quem seria. Assim, com a sua maturidade emocional do tamanho de uma castanha, ele projetou esse ódio em todas as mulheres. Como se a fonte de todos os seus problemas fosse a sua marca, causada pela a sua alma gêmea, que supostamente só pode ser uma mulher, então a culpa também é das mulheres.
Mesma lógica da Dilma de por trás de cada criança brasileira existe um cachorro.
Nathan voltou a prestar atenção na realidade quando viu Brutus correndo em direção à grama, saindo do caminho de concreto que sempre faziam. Ele a chamou, mas ela não parou.
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Peixes Fora do Aquário (✔)
HumorNathan Breno Duarte Maldonado, ou Maldotado como costumam chamá-lo, vive em um mundo em que todos possuem uma alma gêmea e a denominação disso está escrita no seu pulso como a primeira frase que vai ouvir dessa pessoa. Nathan cresceu complexado com...