"Como assim ela é esposa do professor do curso de Educação Física?"
Nathan teve que rir com a surpresa de Miguel.
"Pois é mano! Ninguém do time entendeu nada quando o treinador Cruz levou a gente para comer na casa dele. Primeiro, ele vive quase em um castelo, e segundo, a gente só descobriu que o sobrenome inteiro dele era Rosacruz nesse dia."
Miguel sorriu.
"Então ele adotou o nome dela?"
Nathan riu mais com dificuldade para comer o sorvete.
"Sim! Dá para acreditar? Eu daria tudo para saber qual é a frase no pulso daqueles dois."
Miguel apoiou o rosto sobre a palma da mão livre, praticamente esquecendo o seu sorvete em mãos, observando Nathan de perto com um sorriso. Ele parecia ser alguém que gostava mais de ouvir do que falar.
"Mas eu não entendi como você conseguiu esquecer quem ela era. Você não disse que o treinador levou vocês recentemente?"
"Cara, sim, mas a gente viu 'ela poucas vezes. E ela é completamente diferente em casa, sério. Por isso a gente apelidou ela de Dona Rosa, apesar dela odiar. Ela não usa aqueles óculos horríveis, e eu nem sabia que tinha curso de Música na universidade, então eu nunca iria sonhar que ela leciona aqui também."
Nathan não costumava falar tanto. Sério. Mas era possível dizer que a adrenalina do que havia acabado de acontecer ainda não havia abaixado, e por isso ele estava agitado desse jeito. Miguel não parecia incomodado, ou se estava, Nathan não conseguiria dizer.
"Então..." Miguel chamou a atenção, cruzando os braços sobre a mesa e arqueando as sobrancelhas. "Eu posso saber o que você estava fazendo aqui, então?"
A felicidade de Nathan finalmente diminuiu ao ouvir isso. Claro que Miguel iria perguntar, e claro que ele teria que se explicar. Aquela situação era, na verdade, mais complicada do que parecia. Como sempre ele não pensou nas consequências.
Olhou ao redor, dentro da cantina bastante elegante do prédio de música, parecendo mais um café. Nathan sentiu-se, pela a primeira vez em muito tempo, deslocado naquele ambiente. Como se aquele não fosse o seu lugar.
Pelo menos Miguel não parecia o estar julgando. Não ainda.
"Hã... Eu... Eu me perdi?" Nathan tentou.
Miguel só o olhou.
O que você achou campeão? Que ia funcionar?
Nathan soltou um suspiro derrotado. Tudo que restava era ser sincero.
"Eu... Eudeleteiseupedidodeamizade."
Disse de uma vez só, assim mesmo, sem respirar. Miguel arregalou os olhos, ficando desconcertado por alguns instantes. Nathan não conseguiu arranjar forças para falar de novo, odiando o jeito que queimava, e não era por calor.
Queimava na própria vergonha.
"E... E você veio me avisar?" Miguel tentou entender, de cenho franzido. Nathan não quis concordar, mas ficou óbvio. Ele sentia que morria lentamente ali. "No meio de uma prova?"
"Isso foi azar. Ou sorte, depende do jeito que você quer ver." Nathan resmungou. "Eu só fui passando pelas as salas, eu não considerei realmente que ia te achar. Eu já ia desistir. Então... Quando eu achei... Eu não sei, meu QI caiu de novo. Ou talvez ele sempre foi baixo e ninguém teve a coragem de me dizer."
Então, Miguel riu. Nathan o olhou surpreso e confuso e ainda assim gostando do som da risada meiga dele. Notava que os dentes do garoto eram afiadinhos e que ele ria com o corpo inteiro, chacoalhando para acompanhar o som.
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Peixes Fora do Aquário (✔)
HumorNathan Breno Duarte Maldonado, ou Maldotado como costumam chamá-lo, vive em um mundo em que todos possuem uma alma gêmea e a denominação disso está escrita no seu pulso como a primeira frase que vai ouvir dessa pessoa. Nathan cresceu complexado com...