Se algo pode dar errado, dará.
"Não."
"Nathan, por favooor!" Roger choramingava que nem o bebezão de vinte anos que era, enquanto Nathan tomava banho e falava no telefone ao mesmo tempo. Sim, ele conseguia. Sim, é perigoso e não recomendado. E sim, ele iria continuar fazendo. Segue o baile.
(Não tentem isso em casa. Não me responsabilizo.)
"Quantas vezes eu preciso repetir não? Eu vou sair com o Miguel, porra!"
"Eu sei disso e eu não quero atrapalhar, eu juro. É só me deixar na minha casa, e pronto. Nunca mais vai saber de mim até amanhã."
"Pega um Uber."
"Ah, não, não começa com esse negócio de Uber. Você sabe que eu sou contra gastar dinheiro."
"Então se fode ai, porra!" Nathan exclamou desligando o chuveiro do vestiário. Roger ofegou ofendido do outro lado. "Vai a pé."
"Isso é impossível e você sabe! Pelo amor de qualquer coisa, Nathan, eu preciso muito voltar para casa em um carro hoje! Não dá para ser de ônibus!"
"Mano, por quê? Só por quê? E por quê eu?"
"Óbvio que tinha que ser você por que você é a única pessoa com quem eu posso contar de verdade." Nathan podia ver Roger revirando os olhos ao responder. "E por que... Então, eu realmente preciso chegar cedo 'em casa para terminar uns trabalhos."
"Se esse for o seu motivo..." Nathan começou a ameaçar.
"Não, então..." enquanto Roger enrolava, Nathan se trocava para conseguir sair do vestiário. "E se eu te disser que eu peguei um pinto hoje?"
"Só hoje?"
"Ah vai para a puta que te pariu, Nathan Breno!" Roger exclamou. Nathan sorriu contente consigo mesmo pelo o seu talento de irritar qualquer ser vivo da Terra, ignorando ser chamado pelo o nome que odiava. "Não, cara, eu 'tô falando de um pinto, pinto, pintinho."
"Pintinho de galinha?"
Nathan foi obrigado a dizer em voz alta, para entender e acreditar. Agora ele saía do vestiário, devidamente vestido e não suado, parecendo mais um ser humano com uma regata preta e um daqueles casacos xadrez azuis que não esquentavam nada e só serviam de charme, com calça jeans e a sua bolsa do treino que estava pendurada no ombro.
"Sim, Nathan. Pintinho de galinha. O meu irmão 'tá orientando um aluno que 'tá fazendo uma pesquisa, saudável e não nociva, com esses pintinhos. Dai eles acabaram com mais pintinhos do que esperavam, e o meu irmão me deu."
"Ok, dos mesmos criadores de cobra de estimação, coelho, porco, aranha, lagarto e lagartixa, você me vem com um pinto? Essa é a sua nova fase de bichinho de estimação esquisito?"
"'Me respeita. Eu amo animais e minha casa tem que ser um zoológico mesmo, o mínimo que pessoas ricas deveriam fazer é ajudar os bichinhos e o meio ambiente." Nathan revirou os olhos para todo aquele discurso de Roger que já ouvira mil vezes, enquanto se encontrava com Miguel e os dois saíam juntos do ginásio.
Roger ainda era o menos passional em relação à militância dentro da família. Seu irmão mais velho era muito pior, assim que trabalhava como professor de Zootecnia dentro da faculdade dos dois. Ambos os irmãos aprenderam com o pai, vegano regrado e quase emblemático.
Chegando até Miguel, pode notar o sorrisinho nervoso do garoto por vê-lo falando no telefone. Nathan estava se sentindo cada vez mais pressionado. Até agora, ele fizera Miguel esperar por ele, levou uma bolada na frente dele e ainda aparecia no telefone, o ignorando.
É... Talvez Nathan não estivesse solteiro apenas por escolha.
"Roger, eu tenho que desligar. Por motivos que você sabe. Então, tchau."
"'Me busca no Matagal!" Roger exclamou desesperado, juntando as palavras para conseguir falar tudo antes que Nathan desligasse o telefone. Nathan respirou fundo. "Eu 'tô no Bloco Z!"
Após dizer isso ele mesmo desligou o telefone. Nathan olhou para a tela indignado e raivoso, sem entender nada. Roger era um panaca, uma participação especial dos patetas do Didi.
E Nathan iria lhe dar uns bons cascudos por isso.
Mas ele não deixaria de ajudá-lo, pois sabia que não conseguia negar nada para Roger. Não importa o quanto tentasse.
"Miguel..." Nathan começou, massageando a têmpora, começando a sentir aquela enxaqueca causada por stress ou pela a faculdade, que geralmente representavam a mesma coisa. Miguel apenas continuou com o sorriso nervoso.
"Eu consegui ouvir." Miguel comentou, inclinando o rosto para o lado de forma curiosa. "Quem é Roger? Se você quiser me contar, é claro..."
"Ué, por que eu não iria querer?" Nathan o estranhou. "O babaca é o meu melhor amigo. Ele 'tá pedindo carona." suspirou.
"Eu não me incomodo..."
"Você já disse isso umas três vezes."
Miguel ficou ofendido.
"Não, não disse!"
"Eu só não entendo como você pode ser tão compreensível, eu já pisei 'na bola um 'zilhão de vezes em poucos segundos."
Miguel o olhou feio.
"Eu não acredito que você é perfeccionista."
"Como assim não acredita?"
Miguel revirou os olhos. Ele pegou Nathan pelo o pulso, sem nenhuma vergonha, e começou a levá-lo consigo para que andasse mais depressa.
"Só vem logo buscar o seu amigo. Onde ele tá? Foi o Matagal que eu ouvi?"
E por algum motivo que ele não soube identificar, Nathan gostou muito daquele jeito mandão que Miguel incorporou, sem o deixar pensar muito sobre, tomando as rédeas da situação e até o tocando.
Nathan nunca gostou de algo do tipo na vida antes.
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Peixes Fora do Aquário (✔)
HumorNathan Breno Duarte Maldonado, ou Maldotado como costumam chamá-lo, vive em um mundo em que todos possuem uma alma gêmea e a denominação disso está escrita no seu pulso como a primeira frase que vai ouvir dessa pessoa. Nathan cresceu complexado com...