Eles estavam, definitivamente, em uma periferia.
Durante toda a sua vida, Nathan não se lembrava de ter entrado em uma antes. Por isso nem conhecia o caminho enquanto seguia o GPS. Quase perguntou à Miguel se era ali mesmo, porém o garoto não só reconheceu o ambiente como também saiu tranquilo do carro, deixando bem claro que era ali mesmo.
Aquele era o momento em que, finalmente, Nathan começava a refletir sobre os privilégios que sempre teve a vida toda.
Miguel o guiou sem perceber, ou então fingindo não perceber, todo esse processo de Nathan enquanto ele conhecia os arredores. Os dois andaram até chegarem à frente de uma construção grande, muito parecida com uma casa, pintada em azul e branco. Em uma das paredes havia uma placa com os dizeres: "Escola de Música Voluntária Infantil – EMVI."
Miguel simplesmente abriu a porta e entrou na escola. Entrando em um ligeiro pânico, Nathan não teve outra escolha a não ser acompanhá-lo. Logo na recepção uma moça cumprimentou Miguel, não permitindo que Nathan sequer pensasse em dizer algo.
A moça parecia ser mais velha que os dois, com no máximo trinta anos, tendo olhos verdes, pele clara e o cabelo loiro preso em um coque. Usava um avental de professora branco e sorria como alguém que era muito paciente e por isso já estava meio morta por dentro.
"Chegou cedo hoje, Miguel. Que milagre."
"Oi Carol." Miguel respondeu brincalhão, revirando os olhos de leve. "Eu ganhei uma carona." e apontou para Nathan, que se sentia e parecia com um peixinho fora do aquário naquele momento.
A tal de Carol abriu um sorriso sacana. Por acaso ela sabia de alguma coisa que Nathan não sabia? Nathan olhou para Miguel procurando ajuda, mas o garoto apenas sorria da mesma forma que Carol.
Nathan sentia como se estivesse prestes à ser sacrificado.
"Nossa, como eu não te vi? Prazer, Carol." ela esticou a mão na direção de Nathan.
Nathan fechou a expressão, completamente desconfiado.
"Oi." ele respondeu seco, colocando a mão sobre a nuca. Miguel revirou os olhos, como se já esperasse a reação.
"Nathan, Carol, Carol, Nathan. " os apresentou decentemente, já que Nathan não sabia agir como humano perto de outros humanos. "Ela é uma das coordenadoras aqui da escola. Então, que bom que você tá na recepção, porque eu tinha que falar 'contigo mesmo. O Nathan veio me ajudar com o trabalho voluntário aqui por hoje, você pode preencher os documentos dele?"
Nathan virou a cabeça mais rápido do que um suricato, olhando para Miguel como se ele tivesse criado uma segunda cabeça.
Como é que é?
"Aaaah, esse é o voluntário misterioso que as meninas comentaram que você ia trazer. Claro, meu bem. Vocês são da mesma universidade?"
"Sim, mas não do mesmo curso."
Carol arqueou uma sobrancelha.
"E o que você veio fazer aqui, Nathan?"
Nathan se engasgou.
Aquela era uma ÓTIMA pergunta! O que ele veio fazer ali????
"Ele só veio observar." Miguel respondeu por ele mais uma vez, com um brilho divertido no olhar enquanto o sorriso travesso pendurava. Ele estava se divertindo tanto que já poderia ser considerado um crime. Na verdade, forçar Nathan a fazer trabalho voluntário poderia ser considerado um crime? Nathan estava começando a enxergar a importância dos seus direitos... "Só vai ficar como auxiliar de professor."
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Peixes Fora do Aquário (✔)
HumorNathan Breno Duarte Maldonado, ou Maldotado como costumam chamá-lo, vive em um mundo em que todos possuem uma alma gêmea e a denominação disso está escrita no seu pulso como a primeira frase que vai ouvir dessa pessoa. Nathan cresceu complexado com...