Fazer Nathan ir para a escola era um esforço diário.
Ele nunca foi de fazer birra, por mais que chorasse muito e se irritasse fácil. Quando Nathan não queria alguma coisa, ele simplesmente fazia um protesto silencioso até se sentir satisfeito novamente. E Lisa, como a pessoa tagarela e barulhenta que era, odiava isso com todas as forças por que demorava para notar o que ele estava fazendo.
Mas ela nunca demorava para achá-lo.
"Você deveria se esconder melhor." Lisa comentou sarcástica à frente das escadas, encarando o filho de nove anos sentado nos degraus com as duas mãos na cintura. "Eu consigo te ver da cozinha, sabia?"
Nathan apenas virou o rosto emburrado, recusando-se a falar com ela.
Lisa suspirou e sentou-se ao lado dele nos degraus. Nathan se lembra que esse foi o dia em que os pais decidiram colocá-lo na terapia e, eventualmente, descobriram os problemas de raiva que ele tinha.
Foi assim que ele começou a fazer esportes: Para gastar a energia acumulada de forma positiva e não mais nos garotos que caçoavam dele.
"Por que você não quer ir 'pra escola, hem?" Nathan lembrava-se de Lisa ter o perguntado, olhando-o de forma séria. "'Tá doente por acaso?'
Com o jeito que os pais eram maníacos por presenças perfeitas, Nathan precisaria de uma pneumonia para conseguir ficar em casa. Agora, como jovem adulto, ele compreende isso, mas o Nathan de nove anos nem fazia ideia.
"Eu odeio a escola. Eu nunca mais quero voltar."
Nathan quase podia ver como sentava encolhido em si mesmo, como se não fosse pequeno o suficiente. Bom, não era. Ele sempre foi uma criança grande e forte, o que o ajudou a não deixar ninguém mexer com ele, mas sempre o dificultou a passar despercebido.
E era só isso que ele queria por muito tempo.
Bructus, a causadora de todos os seus problemas, subiu os degraus na direção do dono enquanto resmungava e chorava alto. Nathan não compreendeu o motivo do mau humor até que ela o alcançou, basicamente se jogando contra ele de forma sonolenta, odiando o mundo inteiro.
Nathan sorriu de leve ao fazer carinho na cadela em seu colo, que só se acalmou e se aconchegou melhor ao perceber que não seria tirada do seu lugar de direito e poderia finalmente dormir.
Bructus cresceu minimamente, assim que entrava na fase intermediária entre filhote e não mais filhote, praticamente uma pré-adolescente rabugenta que não sentia que recebia atenção o suficiente.
Era adorável e irritante ao mesmo tempo.
"O que você 'tá fazendo sentado aí?" Lisa franziu o cenho para ele, provavelmente seguindo os sons de Bructus. "Voltou a ser criança?"
"Não, por que quando eu era criança eu sentava três degraus abaixo." Nathan retrucou de forma muito madura, fazendo Lisa apenas olhar para ele em resposta.
Nathan sempre relacionava a imagem da mãe dele com amor incondicional e julgamento incondicional. Não sabia como ela conseguia equilibrar essas duas coisas, mas conseguia.
Era por isso que a relação deles ainda não era tão ruim.
"Ficou preso?" Lisa decidiu questionar em vez de discutir com Nathan, sentando-se ao lado dele exatamente como já havia feito tantas vezes antes.
Nathan fechou a expressão com o fato dela estar completamente certa sem nem se esforçar para isso. Lisa sempre foi muito intuitiva com as pessoas, o que dificultava mentir para ela.
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Peixes Fora do Aquário (✔)
HumorNathan Breno Duarte Maldonado, ou Maldotado como costumam chamá-lo, vive em um mundo em que todos possuem uma alma gêmea e a denominação disso está escrita no seu pulso como a primeira frase que vai ouvir dessa pessoa. Nathan cresceu complexado com...