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Roger chegou há exatos quarenta minutos e Nathan já o queria longe dali. Lisa (e Ricardo, o figurante que é o pai de Nathan) nem se surpreendeu com o garoto aparecendo repentinamente na sua casa, abrindo a porta sem bater, subindo direto para o segundo andar onde ficava o quarto de Nathan.

Roger virou, muito facilmente até, o segundo filho que eles sempre quiseram e nunca conseguiram. Olhando pelo o lado positivo, talvez tenha sido melhor Nathan ser o único filho, por que ele é um inferno com toda a atenção dos pais, imagina se tivesse que dividi-la.

"Eu 'tô muito decepcionado para continuar vivendo." Roger resmungou de forma abafada, com a cabeça sobre a escrivaninha de plástico negro do quarto de Nathan. Nathan grunhiu mais uma vez. "Eu não consigo acreditar que você deixou o garoto ir embora desse jeito. Ele é a sua alma gêmea, Nathan!"

"Eu já entendi, porra!" Nathan se controlava arduamente para não gritar. "Você quer falar mais alto? Meus pais não ouviram ainda."

"Não vai falar para eles?" Roger ergueu o rosto com uma expressão escandalizada. Ele tinha uma marca vermelha gigante na testa por ter apoiado o rosto sobre a escrivaninha.

Roger era o garoto mais comum do mundo, que é possível achar em qualquer esquina de cidade grande. Não existia nada de interessante no cabelo ondulado, curto e castanho cor de bosta dele, muito menos nos seus óculos negros de armação nem tão grossa e nem tão fina, na sua pele branca e os seus traços de padrão, mas nem tanto.

Pelo menos ele sempre usava blusas legais e irônicas, mas o trapo que ele chamava de casaco xadrez vermelho por cima as estragava. Naquele dia a blusa negra que usava possuía letras distorcidas brancas que diziam: ÚLTIMA BLUSA LIMPA.

Conhecendo Roger com certeza era a última blusa limpa que ele tinha.

Nathan e Roger eram tipo dia e noite. Para qualquer pessoa de fora, a amizade entre os dois parecia muito improvável. Enquanto Nathan fazia o tipo machinho rico e machinho esportivo, Roger era o famoso Nerd Fudido. Esse era o nome do site onde ele comprava suas roupas.

"Eu não sei! Eu não sei o que fazer, eu nem sei o que 'tá acontecendo!" Nathan levou as mãos à cabeça, bagunçando o cabelo bem curto negro que possuía. "Eu 'tô com dificuldade para pensar, imagina decidir alguma coisa."

"Tá bom cara, calma." Roger decidiu ser maduro. "A gente precisa de um plano de ação."

Nathan olhou para ele, mostrando que ouvia e que estava aberto às sugestões. Os dois se sentaram na única parte da cama de casal de Nathan que não se encontrava completamente bagunçada, com Brutus dormindo tranquilamente por ali, de barriga para cima. Roger começou a fazer carinho na cachorra enquanto falava.

"Tá, precisamos entender a situação para começarmos a planejar em como lidar." Roger disse. "Vamos começar com as perguntas. Você gostou do guri?"

Nathan franzia tanto o cenho que ele, com certeza, iria ter rugas e linhas de expressão antes dos cinquenta.

"Sei lá...?"

"Você odiou ele? Ficou enojado?"

"Não." foi firme em responder dessa vez. "Não, nada disso. Mas eu não sei se... Tipo... O meu pinto só levantou até hoje com garotas."

"Too much information." Roger fez cara de desgosto. "Mas você mesmo disse que ele tem complexo de santo. Vai que ele é assexual. Pronto, tudo resolvido."

"Não é assim que funciona, caralho." Nathan grunhiu. "Por que eu ganhei uma alma gêmea se eu não vou me atrair romanticamente por ela? Sabe a merda que isso vai dar, não só com os meus pais?"

"Entendi seu ponto, cara. Fica difícil planejar daí. 'Têm muita coisa de obstáculo."

Depois de um instante de silêncio em que os dois apenas se encararam, Nathan não aguentou e acabou exclamando impaciente:

"Era isso? Você não tem mais nenhuma pergunta para fazer?"

"Nah. 'Tava só me fazendo de inteligente, que nem na faculdade. Eu não sei como lidar com isso, como eu não sei lidar com boa parte das coisas."

Dessa vez, Nathan se sentiu na obrigação de bater em Roger. 

Peixes Fora do Aquário (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora