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"Há quanto tempo?" Nathan choramingou depois de algumas horas.

No final das contas eles não viram filmes com a mãe de Roger. Já eram altas horas da madrugada, e os dois melhores amigos se encontravam deitados esparramados sobre a cama, como faziam desde pequenos, conversando entre sussurros. A única luz no quarto de Roger era as das suas lâmpadas de vulcão, deixando-o em tons de magenta e roxo neon.

Por conta da vida e a falta de disponibilidade de dormir tão tarde durante dias da semana, fazia tempo que não ficavam acordados desse jeito.

"Olha, eu acho que todos esses boatos começaram no segundo ano, quando você ganhou o primeiro prêmio do time de basquete da Atlética da faculdade nos jogos universitários em, sei lá, dez anos? Toda essa visibilidade deixou você famoso pelo o campus. Mas você não é nenhuma Miss Simpatia, então a atenção ficou negativa rápido. Principalmente quando as meninas tiveram o time sabotado e desfeito e o tráfico de provas foi descoberto." Roger deu uma pausa para respirar, falando demais e sendo um texto explanatório ambulante quando dada a chance. "Mas esses posts são do começo desse ano. Primeiro não citavam nomes, e tinham vários posts bons em relações a você também, mais de gente te defendendo ou dando em cima de você, mas ai como você não reagiu para nada, a sua reputação piorou de um jeito que chegamos nesse textão ai."

"E você nunca pensou em me contar?" não havia raiva na voz de Nathan. No atual momento ele estava frustrado, cansado, profundamente desapontado e sabe-se mais o que, mas não tinha espaço para raiva.

"Cara!" Roger exclamou pela a milésima vez naquela noite. "Eu achei que você soubesse, e que não dava duas fodas para isso. Eu não ia te confrontar, sendo que você sempre vem falar dos seus sentimentos naturalmente. Eu estava esperando isso acontecer."

Roger não estava errado. Só nesse momento Nathan percebeu o quão bizarro era o seu desapego à internet, mesmo fazendo Engenharia Mecatrônica. O seu curso apenas não superava o de Desenvolvimento de Games e Engenharia da Computação na grande porcentagem de nerdões.

Nathan formava a pequena porcentagem de esportistas do seu curso, – que deveria ser de três pessoas - não se importava com quase universo nenhum que não fosse o seu e não era fã em geral de abstrações tipo internet ou literatura. Não o satisfaziam. Ele se mantinha informado sobre tudo que envolvia o seu curso, mas esse era o máximo.

Ele criava tecnologia e tinha pouco contato com ela. Ótimo. Realmente pediu para tomar no cu.

Nathan nem ao menos sabia desse spotted da universidade. Com certeza deveria ser algo que comentaram sobre para ele e ele não escutou, como sempre. Parecia estar cheio de coisas engraçadas que, quando se recuperasse, com certeza iria checar por dias. Um lugar tão grande, com tanta gente, deveria ter muita fofoca.

Mas não era nada engraçado quando toda a fofoca era sobre ele. O negócio ficou muito pior do que o bullying que sofreu na infância e adolescência. Por que agora não estavam caçoando dele sem motivo: Estavam cagando sobre a sua cabeça porque ele merecia. Estavam apontando seus defeitos.

Agora quem era o valentão era Nathan. E ninguém gostava de valentões.

De um cara que é um merda com as mulheres à reencarnação do Tinhoso em pouco tempo. Esse deveria ser o título do TedTalk de superação de Nathan.

"Mas você não fez nada," Nathan murmurou ao pensar nisso. "você só deixou acontecer?"

"Não! Por que você acha que eu te mostrei um print?" Roger exclamou agitado. "Eu pedi para o Duda retirar o post da página. Por que eu sei que ele 'tá cheio de mentiras e eu não podia deixar isso lá."

"Não, cara!" Nathan exclamou mais choroso que antes. "Você censurou a página! Era só o que faltava! Isso só cria mais ibope!"

"Ah, pronto." Roger levou uma mão ao ar e depois colocou na cintura, igualzinho à mãe quando indignada. "Achou mesmo que eu ia só ignorar, deixar para lá, como se não fosse nada? Não né porra! Além do mais, o post quebrava uma série de regras do próprio spotted, então os administradores não tiveram coragem de repostar. Bando de hipócritas."

Nathan balançou a cabeça negativamente.

"Ninguém teve coragem de falar na minha cara."

Roger deu de ombros.

"Não é que ninguém tinha coragem, ninguém queria. Mas a Mônica quis. Mas ela fez para te machucar. Eu não falei nada por que eu não queria te machucar, já que você parecia bem com tudo, eu que não ia estragar isso."

Foi nesse momento que Nathan teve o segundo curto circuito do dia. Ele rolou e apertou as mãos contra os olhos.

"Ah não!" exclamou em dor. "Puta merda, a Mônica! Ela com certeza falou com o Miguel! Ele deve me odiar agora!"

"E você se importa?" Roger arqueou as sobrancelhas. Isso fez Nathan erguer o tronco na cama.

"Que?! Que tipo de pergunta é essa?!"

"Nathan," Roger disse em tom óbvio. "você se importa do Miguel saber da verdade?"

"Mas nada desse texto é verdade!"

"Espera aí, nada? Sério? Cara, se você também não sabe e ninguém te avisou, você é machista para caralho. Você nunca teve vergonha de assumir isso, na verdade expõe o tempo todo de formas diferentes. Por que não quer que o Miguel saiba disso?"

Nathan ficou sem resposta.

Óbvio que Roger estava certo e Nathan reconhecia. Mas seu cérebro estava cansado da treta Roberto Carlos do dia, cheia de altas emoções, e Nathan não conseguiu se forçar a ponderar sobre isso, da mesma forma que não parou para pensar sobre o gênero de Miguel e se ele realmente tinha condições de namorar um garoto.

Agora, mesmo que tivesse a resposta para essas duas perguntas sobre Miguel, achava difícil fazer Miguel o querer de qualquer jeito.

"Nathan," Roger chamou a sua atenção. Nathan virou a cabeça para olhá-lo. "já que você está preocupado sobre isso, deveria mandar mensagem para ele."

"Oi? Que?"

"Você ganhou o whats dele, não ganhou? Então agora você tem a desculpa perfeita para puxar conversa: Pedir desculpa."

"Que tipo de lógica de fanfic é essa?" Nathan fungou. Roger o olhou como se ele tivesse falado a coisa mais descabida do mundo.

"Tudo bom? 'Cê 'tá falando sério?"

"O que? O que eu disse errado?"

Roger só suspirou e desistiu de explicar.

"Olha, você faz o que quiser. Mas a minha sugestão é essa: Manda mensagem para ele, bobo. Agora, a minha outra sugestão, que na verdade é uma ordem, é que a gente durma, pelo amor de Darwin."

A segunda Nathan poderia tentar fazer, ou pelo menos respeitar o sono do amigo. Mas já a primeira... Nathan não se sentia capaz. Nem merecedor.

Mas ele podia contar consigo mesmo para sempre tomar a decisão mais difícil para todo mundo. 

Peixes Fora do Aquário (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora