Miguel não era competitivo. Ele apenas aproveitou a experiência de jogar vôlei por conta do time em que estava inserido na época, pois não gostava de esportes. Por conta disso, não foi difícil odiar a organização de times feita por alunos da faculdade, a Atlética.
A sala da Atlética se localizava na Engenholândia, assim como o ginásio da faculdade inteira. Eles se aproveitavam dessa conveniência para deixar bem claro que ninguém de fora era bem-vindo, nos times ou no espaço físico. Aquela era, provavelmente, a segunda vez na vida que Miguel entrava no ginásio.
E só por conta de Nathan.
Claro que existia gente de Oz ou do Matagal nas arquibancadas ou treinando nos times, porém eram pessoas que Miguel não conhecia ou não queria conhecer. E isso era raro de acontecer, considerando que Miguel era alguém que se enturmava fácil (para a sua sorte) e por isso conhecia quase todo mundo em Oz e muitas pessoas do Matagal.
Ele só não queria interagir com quem apoiava ou não percebia a Atlética com suas decisões machistas, como barrar o time feminino de basquete por exemplo.
Sentindo-se um invasor, Miguel estava sendo tratado como um. Pode perceber que comentavam baixinho dele, afinal de contas era o garoto que saiu com o Maldonado quando levou uma bolada na cara.
Sem falar que chamava muita atenção como a única pessoa negra do recinto.
Infelizmente, insistiu que precisava falar com Nathan pessoalmente sobre o próximo encontro dos dois e Nathan só tinha tempo na quinta feira depois do treino.
Então, ali Miguel estava fingindo não sentir desconforto nenhum com fones nos ouvidos e tentando se distrair falando por mensagem com literalmente qualquer alma viva no seu celular.
Com certeza ninguém iria incomodá-lo enquanto usava fones de ouvido, certo?
Errado.
Miguel sentiu alguém tocar suavemente no seu ombro para chamar a atenção. Ele se virou surpreso, esperando muito que fosse Nathan.
"E aí, cara."
Sentiu uma grande decepção ao não ver Nathan e sim o garoto que tentou arrumar briga no dia da bolada, o tal de Caio. Enquanto o resto do time saía para o vestiário para tomar banho e se trocar, o garoto loiro veio falar com Miguel, bastante suado.
Miguel controlou o rosto de uma forma incrível para não fazer careta de nojo, tentando se afastar discretamente de Caio para evitar que o tocasse de novo suado daquele jeito.
Havia "problema" escrito em tinta neon na testa branca daquele garoto enquanto sorria para Miguel, com um ar de prepotência infantil como se fosse o rei do mundo.
Esse era o tipo de pessoa que dominava a Atlética e o resto da Engenholândia.
"Não achei que ia te ver aqui novamente. Achei que o Maldotado já tinha te assustado." Caio disse rindo, como se não falasse nada demais. Miguel franziu o cenho. "Você acredita que em três anos jogando nesse time eu nunca vi o Maldotado levar uma bolada na cara? Ele é o cara que dá bolada nos outros, o filho da puta. Eu mesmo já levei pelo menos duas. Foi incrível ver ele se fudendo para variar."
Aquele era só um dos momentos difíceis em que Miguel lutava para não ser indelicado com alguém que ele não queria conversar, puxando um assunto que o irritava e, para piorar, agindo todo familiar e casual como se fossem próximos.
Miguel começou a odiá-lo a partir do "Maldotado". E ele repetiu duas vezes, o que fazia Miguel odiá-lo duas vezes mais.
"Desculpa, você é...?" Miguel questionou ainda sendo educado. Sua real vontade era mandá-lo falar com a parede, pois ela teria mais interesse.
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Peixes Fora do Aquário (✔)
HumorNathan Breno Duarte Maldonado, ou Maldotado como costumam chamá-lo, vive em um mundo em que todos possuem uma alma gêmea e a denominação disso está escrita no seu pulso como a primeira frase que vai ouvir dessa pessoa. Nathan cresceu complexado com...