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Miguel realmente combinava com o lugar em que estavam e isso era indiscutível. O café foi pintado e decorado em tons terrosos e creme, com bancos embutidos e estofados para as mesas de madeira escura, vendendo uma variedade ridícula de tortas, bolos e chás.

"Eu não consigo nem olhar para a sua cara sem ficar com vontade de te bater."

"Olha, vai ter que conseguir, por que a gente tem, pelo menos, mais duas horas de encontro."

"Duas horas? Quem decidiu isso?" Miguel acabou dando um sorrisinho contra a sua vontade, tentando continuar bravo por ter sido chamado de hipster abertamente – e provavelmente por ser obrigado a aceitar que combinava entre as outras pessoas que frequentavam o café.

A clientela claramente era formada por universitários, principalmente de (eca, pensou Nathan de forma madura) Humanas. Era possível sentir o cheiro de desespero exalando dos jovens. Alguns usavam o notebook para se aproveitaram do wifi de graça, outros sentavam com os amigos em uma área com sofás e poltronas, outros estavam estudando em um estabelecimento comercial para se obrigarem a não surtar por conta do tanto de conteúdo que tinham que apreender de uma só vez.

Nesse último caso, Nathan entendia por experiência própria.

Enfim, Nathan normalmente evitava contato com a clientela e o lugar inteiro, pois lhe incitavam o famoso ranço. Porém, Miguel era igual ao resto da clientela.

Então, em sua linha de raciocínio, Nathan acabou percebendo que não tinha só o gênero de Miguel para se preocupar sobre: Também havia o fato que os dois eram opostos, o que significava que tudo dependeria do quão dispostos estariam para entender a realidade um do outro e fazer funcionar.

(Miguel disse tudo isso há poucos capítulos atrás, mas o Nathan só percebeu um pouco antes de chamá-lo para sair. É um prodígio mesmo.)

"Pelo menos foi o que o Google me disse." Nathan respondeu sem pensar muito sobre o que dizia.

Miguel fez uma expressão curiosa.

Nathan gostaria de entender por que é tão difícil achar pontos negativos sobre Miguel. Normalmente para alguém tão introvertido como ele, uma respiração errada de uma pessoa desconhecida é o suficiente para que Nathan decidisse odiá-la.

Porém, isso não acontecia com Miguel. Pelo o contrário, Miguel fazia com que Nathan se esquecesse do resto do recinto e de qualquer ranço possível.

"Você pesquisou no Google sobre encontros?"

Nathan piscou e, então, percebeu a merda que disse. Olhou para a janela, questionando-se o quanto teria que pagar caso a quebrasse em uma fuga estratégica e discreta.

"Não... Claro que não..."

Miguel riu da sua forma fofa e infantil.

"Não acredito! Por acaso você nunca foi a um encontro antes?"

"Ah, vai me julgar agora?" Nathan soou irritado para camuflar a vergonha, tentando fingir que não corava.

Miguel parecia cada vez mais divertido. Era muito difícil brigar com ele desse jeito. Nathan estava seriamente desconcertado e desarmado.

Normalmente para evitar a aproximação de qualquer um e os perigos desse processo – principalmente o de mostrar vulnerabilidade na frente de alguém; Nathan apenas forçava para ser mais machista e conseguia a paz e sossego novamente. Mas não podia fazer isso agora. Por que quem escolheu tentar foi ele mesmo. Ele que se botou nessa situação.

Peixes Fora do Aquário (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora