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Tentar ensinar a versão rock acústica de Aquarela virou uma festa generalizada que ninguém queria que acabasse, nem as crianças e nem Nathan. Porém, infelizmente, ele e Miguel eram obrigados a encerrar a aula para que os pequenos voltassem para casa.

Jaqueline, antes de se dirigir à saída da escola, olhou no fundo dos olhos de Nathan e admitiu que ele sabia tocar, mas ainda precisava vê-lo tocar bem.

E por isso era melhor que voltasse mais vezes. Após isso a garotinha abraçou Nathan de forma envergonhada e um tanto quanto raivosa antes de sair correndo.

Nathan teve uma crise de riso em reação, contagiando Miguel e Carol ao seu lado.

O resto da sala veio se despedir com abraços, e Nathan aprendeu que era assim com todos os professores. A crianças até mesmo faziam fila indiana esperando a vez de se despedirem.

Esse é o tipo de imagem que é fofa o suficiente para criar a vontade de se quebrar alguma coisa.

Miguel ainda precisava dar aula de violoncelo com alunos pré aborrescentes até o final da tarde. Mas Nathan não tinha que ficar, assim que Miguel não precisava de ajuda.

Porém, se ficasse ganharia mais horas de crédito mesmo apenas observando.

Sinceramente, Nathan poderia dizer que decidiu ficar por conta dos créditos, mas seria mentira. A verdade é que ele não queria que o dia e o encontro com Miguel acabassem.

Estava gostando da experiência na escola mais do que achou que seria possível em toda a sua vida.

Sentia-se embriagado em alegria por ter conseguido, de fato, se conectar com as crianças ao ponto em que os dois lados estavam se divertindo.

Durante a aula de violoncelo o coração de Nathan acelerou ao ouvir Miguel tocar novamente, agora sem ter que invadir a prova dele para isso. Dizer que Miguel tocava bem era um eufemismo que não descrevia a experiência de ouvi-lo.

Mas nem se Nathan fosse bom com palavras explicaria a sensação de ouvir a música de Miguel.

Nathan não conhecia mais ninguém que tocasse de forma tão genuína e apaixonada como Miguel.

Ele conduzia a sala de aula da mesma forma, e era óbvio, tanto para Nathan quanto para os alunos, que Miguel queria ser professor. Os alunos o respeitavam e, além disso, gostavam dele de verdade. Por mais desgastante que fosse, Miguel dava o seu melhor para que ninguém terminasse a aula com dúvidas sobre o que deveria fazer ou se conseguiria fazer.

Sendo crianças mais velhas, a turma de violoncelo não riu da cara de Nathan ou o desafiou, mas boa parte estava interessada em falar com ele e ouvir o que tinha para dizer. Percebeu que era igualmente curioso quando criança – se não pior.

Nathan admite que aproveitou da atenção para distrair um pouco a sala com piadas... E piadas ruins. De "qual a diferença entre uma orquestra sinfônica e um elefante? O elefante tem a tromba na frente e o bundão atrás. A orquestra tem as trompas atrás e o bundão na frente" à "É verdade que vocês tocam violoncelo por conta da preguiça de terem que se levantar no final da apresentação?"

Miguel lutou para não rir, mas isso só o deixou mais irritado com Nathan e ele teve que parar logo para não morrer com um violoncelo na cabeça.

Nathan precisa admitir à essa altura que deve se beneficiar do caos, de tanto que o provoca.

Para resumir o dia foi genuinamente bom, e Nathan não sabia lidar com isso. Não sabia lidar com positividade, principalmente quando fazia algo que envolvia um coletivo de pessoas.

Peixes Fora do Aquário (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora