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"Você tem flores na cabeça 
E pétalas no coração
Tem raízes nos olhos, excitação
Acalanta o meu coração
Me sinto um peixe
Fora do aquário, dá pra ver
Tô indo pro imaginário do teu peito"



Nathan recorda-se vividamente de como conheceu Rogério.

Rogério é fudido até no nome. Não poderia ser mais diferente de Nathan: Branco, assustado e franzino, super nerd, cdf, geek e o caralho a quatro, vestindo-se mal e usando óculos a vida inteira; quase cego com a sua miopia de sabe-se lá quantos graus.

Mesmo assim, os dois tinham algo em comum e foi isso que fez com que virassem melhores amigos desde o momento que se conheceram. Como se tornar amigos fosse um instinto de sobrevivência que ambos tinham.

O que era? Bem, a mesma maldição.

Depois que entrou no fundamental, era assim que Nathan começou a chamar. As pessoas lhe corrigiam o tempo todo, mas não adiantava de nada. Nathan estava entrando na fase de não ouvir mais ninguém, e essa fase iria permanecer até o fim da sua vida adulta, provavelmente.

Calma, que eu explico. Na sociedade de Nathan e Rogério todos possuem uma alma gêmea. Como identificar a alma gêmea? Todos nascem com as primeiras palavras que vão escutar de suas almas gêmeas escritas no pulso, essas palavras são chamadas de marcas de almas gêmeas.

A marca de alma gêmea é um bagulho muito importante. É normal que as pessoas se organizem a vida inteira para o momento de conhecer a alma gêmea. E existem muitas possibilidades de primeiras palavras trocadas. Repito muitas. Quase infinitas.

Nathan considerava a sua marca e a de Rogério uma maldição.

Quando mais novo - naquela fase entre bebê e criança, Nathan pensava diferente. Pode ser até difícil de acreditar (não tanto para você, leitor, já que isso aqui ainda é o prefácio), mas ele costumava ser uma criancinha esperançosa e doce, que sonhava com a alma gêmea como qualquer outra.

Seus pais – que fique bem claro que são ótimos pais - sempre encorajaram e ensinaram os melhores valores morais para Nathan, mas bons valores morais de verdade e não os conservadores, por que tem diferença; e não foram eles os culpados da destruição da inocência de Nathan.

O que fodeu Nathan foi a escola.

Como fode metade das crianças, mas não é mesmo?

Quando seus colegas de sala descobriram a sua marca o bullying começou nervoso e não quis mais parar. A famosa provocação e exclusão sem fim e diária. Mas sem agressão envolvida. Ou talvez com muita agressão envolvida, já que esse foi o jeito que Nathan achou de se defender.

Então, graças a essa agressividade toda que ele conheceu Rogério. A marca do nerd também era fácil alvo de chacota, e os outros garotos o importunavam por isso, o importunavam muito, chegando a envolver agressão e com certeza não era Rogério (palito, pequeno, triste e com ansiedade) que dava os socos.

Nathan descobriu a situação um dia sem querer quando errou o caminho da sala após ter ido para o banheiro. Ele espantou os garotos - que eram mais velhos, diga-se de passagem - e salvou Rogério de bater cartão na sua surra diária.

"Qual o seu nome?" Nathan questionou praticamente erguendo Rogério do chão. O garoto fungou dolorido e medroso, tentando arrumar os óculos no rosto e as roupas enquanto tentava reunir pelo menos um teco de dignidade.

Peixes Fora do Aquário (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora