"O que eu 'tô ouvindo?"
"Bunda." Miguel explicou de bom humor. "Bunda várias vezes. É a batida da música."
Só era possível conversar a base de gritos à frente do palco principal. Nathan sentia como se tivesse sido abduzido para outro mundo, mesmo com experiência nos jogos universitários naqueles três anos.
Bom, é válido levar em consideração aqui que, normalmente, ele passava a última festa sem lembrar o próprio nome até o dia raiar. Então, em geral, suas experiências não eram as mais confiáveis.
Mas como estava "casado", ou seja, só pretendia ficar com uma pessoa daquela vez, nem havia bebido muito até agora. Encontrava-se, no máximo, um pouco mais animado e solto que o normal.
E não sentia que precisava beber mais do que isso para se divertir. Aproveitava com sobriedade pela primeira vez, praticamente.
Fascínio e choque eram a melhor combinação para definir o que sentiu ao reconhecer o talento da cantora no palco, que dançava e cantava sem desafinar ao mesmo nível daquele único show da Beyoncé que viu na televisão uma vez quando criança.
Não gostava da música com certeza, mas não conseguia deixar de ficar impressionado pela qualidade da apresentação do mesmo jeito.
O que realmente o fazia considerar a abdução era a pergunta: Sempre teve esse tanto de viado na universidade? Como Nathan nunca os notou antes? O espaço do palco principal estava cheio, e cheio no sentido máximo da palavra, de universitários LGBTQ que viviam o melhor momento da vida deles do jeito que rebolavam, desciam até o chão, subiam e saiam desfilando.
A energia era muito diferente.
"Foi arrebatado, Nathan?" Miguel chamou sua atenção mais uma vez, próximo o suficiente para não ter que gritar tão alto ao conversar.
"Se isso significa ficar confuso, então sim, 'pra caralho." Nathan exclamou em resposta. "Eu sinto como se tivesse entrado em uma balada LGBTQ."
Miguel riu de novo. Nathan podia notar o efeito do álcool no jeito dele. Claramente a resistência do garoto contra álcool era bem menor que a sua. Ele não deveria ter muita experiência em beber, já que se lembrava de Miguel comentando que não costumava ir em festas, pois seu tipo de rolê era outro.
"Por um instante eu pensei em te perguntar se você nunca foi em uma, mas a resposta da pergunta é óbvia." Miguel tomou mais um gole do álcool no seu copo. "'Tá se perguntando de onde saiu esse tanto de viado?"
"É preconceituoso se eu tiver?" Nathan perguntou de forma genuína, apenas querendo saber.
"A questão não é você sendo preconceituoso em si, mas sim viver em uma bolha preconceituosa em que não interage com diversidade." Miguel deu de ombros ao responder, fazendo Nathan grunhir em brincadeira. "O que? Você que perguntou! Vive no seu Castelo de Marfim chamado Engenholândia e não sabe que nem todo mundo é suposto a ter a mesma cara ou o mesmo comportamento. Quando alguém é diferente lá dentro, vocês torturam a pessoa até ela desistir do curso."
"Miguel." Nathan reclamou o nome dele, "Migueeeel." enquanto o garoto em questão se aproximava e passava os braços pelo pescoço de Nathan, o abraçando novamente. "Você 'tá bêbado. Age como bêbado e não um textão do Facebook ambulante."
"Eu não 'tô bêbado." Miguel riu como se não acreditasse no que ele próprio dizia. "Eu 'tô levemente alterado." Nathan revirou os olhos. "Mas 'tô falando sério agora, ok? Então presta atenção."
"Difícil prestar atenção em qualquer coisa com você grudado em mim nesse jeito."
"Shhh, você que lute." Miguel o interrompeu risonho, fazendo Nathan rir com ele, incrédulo como o garoto era adorável e irritante ao mesmo tempo quando bêbado. "Sabe por que nos ver aqui e agora é tão estranho 'pra você? Por que a gente se limita à Oz e uma parte bem pequena do Matagal. A Engenholândia não tem nem coletivos de acolhimento social para os alunos. Coletivo negro, coletivo asiático, coletivo LGBTQ... Vocês não têm nada. Vocês simplesmente não discutem ou não veem nenhum tipo de diversidade, principalmente com a Atlética fudida que só reforça isso. E quem é responsável pelos jogos universitários, hem? Eu duvido muito que esse tanto de viado era sequer aceito aqui nos outros anos."
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Peixes Fora do Aquário (✔)
HumorNathan Breno Duarte Maldonado, ou Maldotado como costumam chamá-lo, vive em um mundo em que todos possuem uma alma gêmea e a denominação disso está escrita no seu pulso como a primeira frase que vai ouvir dessa pessoa. Nathan cresceu complexado com...