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"Oi Roger."

"Ah, oi Miguel!" Roger sorriu de forma surpresa ao erguer o olhar do notebook no colo para Miguel.

Roger claramente não esperava ver Miguel ali, principalmente quando a última (e primeira) vez que se viram foi um fiasco completo, mas ele não parecia incomodado, pelo contrário.

Isso deixou Miguel um pouco mais confiante, tomando a liberdade de sentar ao lado de Roger na arquibancada. Eles eram os dois maridos da Dona Florinda, que no caso era Nathan treinando com o time na quadra. Nathan acenou para Miguel ao notá-lo, tentando não perder o foco do jogo dessa vez, por quê com duas semanas faltando para os jogos universitários não poderia mais ser dispensado nos treinos por uma bolada na cara.

"O Nathan me disse que você odeia ficar na arquibancada." puxou assunto, realmente curioso. "Não achei que ia te encontrar aqui."

"Eu odeio todo e qualquer tipo de esporte com paixão." Roger respondeu veemente, fazendo Miguel sorrir. "Mas eu perdi uma aposta." ele ergueu as duas mãos no ar.

Percebeu que, apesar das piadas irônicas, em geral o garoto era uma pessoa muito positiva de se interagir com se você lhe desse espaço para falar o que pensava e o fizesse se sentir confortável, se bem que Miguel tinha certeza que ele não sabia disso.

Miguel o achava um fofo, principalmente por toda a amizade que criou com Nathan. Os dois eram fofos. E achava importante se dar bem com ambos.

"Que tipo de aposta?"

"Quando a gente tinha treze anos, nós apostamos que quem chorasse primeiro comendo wasabi puro teria que fazer qualquer coisa 'pro outro, e isso quer dizer qualquer coisa mesmo." Roger começou a explicar usando as mãos para gesticular, e Miguel balançou o rosto negativamente.

"Meu Deus." exclamou incrédulo. "Por quê vocês tinham wasabi em casa desse jeito?"

"Aí você tem que perguntar 'pra mãe do Nathan por que ela achou uma boa ideia deixar o wasabi dela em uma parte de fácil alcance com um filho pré-adolescente em casa que costumava ficar sozinho." Roger retrucou enquanto Miguel ria mais. "O ponto é, eu ganhei um trauma de wasabi nesse dia. Sério, a ponto de que eu possa chorar se eu ver um, por que eu só consigo lembrar do jeito que eu queimei como se eu estivesse no inferno, sabe?" Roger exagerava cada vez mais a história com o jeito que gesticulava. "Eu realmente morri, experimentei o inferno, e voltei com treze anos de idade."

"Pelo menos você aprendeu a não apostar mais depois disso?" Miguel questionou com dificuldades por conta da risada. Roger ficou sem palavras por um instante.

"Olha, Miguel, eu tenho que ser bem sincero com você: Tem poucas coisas dos meus treze anos de idade que eu levei para o resto da vida." o "não, eu não aprendi NADA" enrolativo de Roger apenas fez Miguel rir mais. "Você vive, você erra, você esquece, você repete. É o ciclo."

"Claro." Miguel o dispensou, tentando controlar a risada. Agora Roger sorria ao ver o ataque de risos do garoto, como se estivesse orgulhoso de si mesmo por ter conseguido isso.

"O Nathan esperou 'eu ficar bem 'pra ele falar que, claro, ele venceu a porra da aposta." Roger continuou após Miguel recuperar o ar. "E daí ele disse que eu tinha que ver todos os treinos dele, todos os dias, como punição por ter perdido."

"Nossa, que terrível." Miguel soou sincero. Ele com certeza não faria isso mesmo se fosse pago.

"Não é?" Roger exclamou, animado por ser compreendido. "Mas depois de um tempo a gente acabou conseguindo negociar isso, e eu só preciso assistir os treinos mais importantes. Servir de apoio moral antes dos jogos e coisas do tipo." Roger deu de ombros. "Eu acabei percebendo que o Nathan só pediu por isso por que depois de um tempo os pais dele não podiam mais assistir os jogos dele, sabe? Daí ele só queria alguém torcendo por ele."

Peixes Fora do Aquário (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora