aviso: esse capítulo vai doer. im sorry for all the vergonha alheia.
Nathan estava indignado.
Acho que já deu para perceber que ele é lerdo em relação ao pensamento racional. É a falta de prática no assunto. Enfim, ele ainda não tinha percebido que o pessoal de Artes e Humanas chamavam a parte deles do campus de Oz.
E claro que Oz possuía um caminho de tijolos amarelos de verdade, construído igual ao filme dos anos cinquenta, em formato de ponte. Não era realmente longo, mas era o suficiente para indignar e ofender Nathan, principalmente por ser o único caminho que o levava até onde queria.
Aquilo era tão gay. Assumidamente gay. Só faltava achar a Dorothy.
Mas ele já estava ali, não dava para voltar atrás.
Assim, a alma primitiva de Nathan sangrou por dentro, mas ele conseguiu chegar onde queria, sendo fácil reconhecer o prédio mais antigo entre os mais recentes. A aparência das pessoas que frequentavam o espaço mudou bastante daqueles que Nathan achou até agora, com gente mais engomadinha, até mesmo parecida com os colegas de Nathan na Engenholândia.
Ok, agora nos corredores no prédio que ele queria chegar desde o começo, Nathan foi obrigado a se questionar mais uma vez: E agora?
Por que o não plano de Nathan só ia até a parte em que ele chegava ao prédio de Miguel. Ele não fazia ideia em qual sala o garoto estaria.
Ah, que legal.
Bom, em medidas desesperadas, são necessárias situações desesperadas. Não, espera. Não necessariamente nessa ordem.
Nathan acabou aceitando que o jeito era continuar seguindo o instinto e ver no que dava. Se não fizesse isso, iria desistir. Mas havia ido muito longe para desistir. Era teimoso demais para voltar atrás. Acho que esse é um bom momento para dizer que ele estava com o capeta no corpo. Única explicação plausível.
Nathan passou pelas as salas como quem não quer nada, aproveitando-se dos visores nas portas de madeira para conseguir observar o lado de dentro. Se visse Miguel, saberia que ele estava em aula.
Pelo menos as pessoas estavam tendo aula. Agora sabia que o curso de Música também poderia ser integral. Não entendia o porquê, já que não via o que eles tinham tanto a aprender em um curso de Música. Lembrando: Opinião de Nathan. Focalização de personagem.
Nathan praticamente teve um curto circuito quando as forças do destino (e de um plot bem simples) agiram e conseguiu achar Miguel: Em uma sala escura que declinava, com carteiras na parte mais alta até a parte mais baixa, Miguel estava no centro, lá em baixo, à frente da lousa, sentado e segurando um violoncelo.
Foi nesse mesmo momento em que Nathan percebeu que as salas privavam o som, e por isso ele não tinha ouvido uma só nota de música pelo o corredor, nem a de Miguel enquanto estava parado na frente da porta.
E Nathan ficou ali, simplesmente fascinado, por um tempo.
Miguel tocava de forma lenta e até mesmo carinhosa com o instrumento em suas mãos, completamente perdido na melodia que criava com as cordas; como se estivesse aproveitando cada segundo. Abria os olhos toda vez que alguém virava a página da partitura à sua frente, memorizava a página nova em pouco tempo e logo os fechava os olhos novamente, compenetrado demais para se atrapalhar.
Nathan gostaria muito de saber explicar o que diabos aconteceu nesse dia e nesse momento, com um motivo convincente que o livre da culpa e da vergonha.
Mas adianto o spoiler que não existe explicação pertinente e adianto mais ainda que o que acontece seguir não é recomendado para àqueles de coração fraco contra a vergonha alheia.
Infelizmente, boo, os personagens aqui foram feitos para passar ou testemunhar as diferentes formas de vergonha.
Então, é, acho que você já conseguiu adivinhar o que acontece: Nathan simplesmente abre a porta e entra na sala.
Miguel demorou em notá-lo. Mas ele foi o único. A porta era como uma velha escandalosa, que rangeu e bateu com força contra o batente, atraindo barulho o suficiente para que a sala inteira, que só agora Nathan percebeu que estava cheia, virasse para trás para encarar quem entrava.
Inclusive a professora, que não demorou nada para ter a expressão de alguém que acabou de ver o livro preferido sendo rasgado à sua frente.
Finalmente Miguel percebeu o que acontecia ao seu redor e parou de tocar, erguendo o rosto e arregalando os olhos em pura surpresa ao reconhecer Nathan, bem ali, parado na sua sala sem nenhum motivo.
Não existia a chance de dizer que ele errou a sala, por que seu curso ficava do outro lado do campus. Sem contar que, na cabeça de Nathan, agora era muito tarde para ele simplesmente sentar em um lugar e fingir que não tinha nada de errado acontecendo.
Agora ficou estranho demais.
Então, claro, para terminar com a cereja do bolo, Nathan fez o seguinte: Deu meia volta e saiu pela a mesma porta que entrou, com o coração na entrada da garganta, preparado para sair pela a sua boca e correr para longe do humano vergonhoso que estava tentando matá-lo a cada dia.
Ofegante, ele grudou as costas na parede ao lado da porta que havia acabado de abrir, e não demorou nem dois segundos para as suas pernas fraquejarem, e ele estava no chão, destruído por si mesmo.
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Peixes Fora do Aquário (✔)
HumorNathan Breno Duarte Maldonado, ou Maldotado como costumam chamá-lo, vive em um mundo em que todos possuem uma alma gêmea e a denominação disso está escrita no seu pulso como a primeira frase que vai ouvir dessa pessoa. Nathan cresceu complexado com...