Katherine Hale

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"Não, eu não pensei que
Você me decepcionaria tão facilmente
Oh, não, garota..."

Cantarolava o pequeno trecho da música que não saia da minha cabeça. Meu comportamento era totalmente automático, minha mente não parava e a música de fundo não mudava. Tinha que ser logo essa em meio a tantas outras que estou viciada no momento? Porém, faz sentido em parte, está sendo um dia ruim, e ele mal tinha começado.

Não voltei pra casa, nem iria tão cedo. Como estava combinado de ir para a casa de Eloise depois do almoço, e não era nem dez horas ainda, não vi motivo para não ir um pouco mais cedo, ela entenderia. Tentei me controlar ao máximo, não poderia chegar em sua casa com a cara  destruída, chorando feito uma desesperada. Ninguém merecia isso.

Depois de várias voltas pela cidade na intenção de melhorar o meu estado emocional, dirigi em direção a casa de Eloise, na esperança de que ela esteja em casa e não saído para almoçar fora. Estaciono meu Jeep, pego minha mochila e saio do carro o travando, caminho até a porta da sua casa batendo levemente, respiro fundo enquanto espero que me receba.

Foi um dia ruim. — involuntariamente canto o final da música assim que Eloise abre a porta pra mim. Seu olhar me analisa e me concentro em dar o melhor sorriso que tenho, tentando não demostrar nada.

Aparentemente eu falho miseravelmente quando os braços pequenos e finos de Elô me envolvem apertando forte. Não diz uma palavra, apenas me abraça, e eu não aguento. Todo o tempo que passei tentando se recompor foi atoa, completamente atoa. Eu só queria que nada disso tivesse acontecido, que minha melhor amiga não tivesse se apaixonado pelo meu namorado, que ela não tivesse escondido isso de mim, assim eu não precisaria terminar com ele e sofrer com o afastamento da minha amizade com a Melissa.

Sinto-me sendo guiada para dentro de casa diretamente para o sofá, onde sento sem pensar duas vezes. Com o corpo curvado para a frente, apoio o rosto nas mãos afim de abafar o choro, esconder minhas feições ou seja o que mais. Eloise não estava no meu lado quando livrei meu rosto das mãos, e nem em nenhum canto da sala, passo os dedos trêmulos secando as lágrimas, preciso urgentemente ir ao banheiro, devo estar só o bagaço.

— Aqui, toma, acho que você vai melhorar um pouco. — aparece minutos depois com um copo de suco, talvez maracujá.

— Obrigada. — faço uma careta ao pegar o copo e ter certeza que é da fruta. Detesto maracujá, porém, Eloise me recebeu sem um único questionamento, me deixando livre para entrar em sua casa e desabar minhas dores, o mínimo que eu poderia fazer era tomar isso sem reclamar.

— Tá se sentindo melhor? — pergunta minutos depois de completo silêncio.

— Talvez. — respiro fundo segurando o copo com as duas mãos. — Desculpa chegar sem avisar antes da hora e principalmente nesse estado. Mas era o único refúgio que me veio em mente.

— Olha, isso não é jeito de chegar na casa das pessoas, Katherine, você só pode ser doida mesmo! Não faça mais isso, eu fiquei muito preocupada, ainda bem que eu sou tranquila e não entrei em desespero. — mesmo com o coração quentinho de gratidão, não aguentei segurar a risada dentro de mim.

— Tadinha, meu Deus, vem cá. — coloco o copo em cima da mesinha, passo o braço por cima do seu ombro a puxando para um abraço. —Desculpa, Elô, e obrigada.

— Tá, mas agora me conta, o que te deixou assim?

Bom, não tive escolha a não ser contar tudo a ela. Bom, tudo ao meu ponto de vista. Sobre a discussão no Planetário por Melissa estar apaixonada desde sempre por Peter e principalmente não ter me dito nada, ter permitido que eu ficasse com ele enquanto ela sofria as escondidas.

— Eu não sei o que dizer, isso é tão...

— Nem me fale, minha cabeça está uma confusão... será que você poderia me emprestar uma roupa de ginástica? Se não for incômodo. — sorrio mostrando todos os meus dentes mudando totalmente de assunto. — Não estou afim de ir em casa, na verdade, não quero tão cedo ir em casa. Droga!! — bato em minha própria testa em frustração.

— Claro, mulher, sem problemas. Acho que tenho algumas roupas que sirvam em você. Vem comigo.

Depois que troquei de roupa, deixei tudo meu na casa de Eloise e saí correndo, literalmente, pelas ruas de Spica rumo a academia. Em minha mente se passava um filme, as palavras da Melissa, os olhos tristes de Peter e minha própria confusão mental. Tudo está um caos. Infelizmente, por conta do horário, a academia que frequento estava fechada, então, não me restou escolhas a não ser continuar correndo pela cidade.

Mais ou menos meia hora depois, decidi voltar para a casa de Elô, minhas pernas queimavam de exaustão e não era pra menos, mesmo com a musculação em dia, fazia algum tempo que não praticava esse tipo de cardio. Assim que chego, ela me avisa que meu celular não parava de tocar dentro da bolsa. Pego-o e verifico as notificações, retorno a ligação da Ivy, aviso que estou na casa da Eloise e talvez demore um pouco a ir para casa.

— Fiz almoço pra gente. — diz assim que aviso que estou entrando em sua cozinha.

— Não precisava, eu tenho que ir atrás de um hotel para me hospedar por alguns dias, conhece um para me indicar?

— Você pode ficar aqui em casa, não é incomodo nenhum.

— Muito obrigada, Elô, mas não precisa, sério. Eu tenho umas economias, posso me virar.

— Katherine, para. Olha, você brigou com suas amigas, terminou seu relacionamento e você não pode ficar sozinha pensando várias coisas sem futuro.

— Tem alguma possibilidade de você mudar de ideia? — pergunto enquanto arrumo a mesa para almoçarmos.

— Não mesmo.

Então ficou assim, passaria uma semana na casa da Eloise enquanto as coisas não se resolviam. Depois do almoço o grupo se reuniu para discutir sobre o trabalho de Latim, quando todos foram embora, peguei meu Jeep e fomos em minha casa pegar algumas coisas minha, não encontramos com ninguém, então mais tarde ligaria pra Ivy para conversamos melhor.

Decidi que não levaria muita coisa, juntei tudo que era necessário para a faculdade e sim, levei tudo. Escrevi um bilhete para Ivy e deixei em seu quarto, avisando que passarei uns dias na casa de Eloise, e caso acontecesse algum problema em casa, me ligasse. Quando meus pais me ligaram naquela noite, não informei nada da situação para eles, não era necessário e aparentemente nenhum deles estavam sabendo de nada. Aparentemente tudo estava bem, Peter parou de insistir nas ligações, parece ter aceitado a minha decisão, mas eu sei, que uma hora teríamos que conversar.

De volta à casa de Eloise, fui diretamente para seu quarto de hóspede guardar minhas poucas coisas. Com tudo arrumado, decidi que faria lasanha para o jantar, não custaria nada, aliás, estou de favor em sua casa e fazer algo para comermos era o de menos. Com o celular na mão lendo uma receita na internet, não percebo que ainda faltam três degraus para o fim da escada. Em resumo? Bem, eu não sei como aconteceu, mas o meu tornozelo torceu, meu celular voou, meu cotovelo ralou na parede e eu caí no chão. 

Puxo minhas pernas para perto fazendo postura de borboleta, analiso meu tornozelo direito que está apenas dolorido da queda, depois, olho o pequeno arranhão no cotovelo. Primeiro um riso anasalado escapa, depois não consigo me conter, a crise de risos vem com tudo e me deixa sem ar. Fazia uns bons dias que nada desastroso acontecia comigo, estava até achando estranho. E, bom, apesar do dia ter sido um caos, talvez nem tudo tenha mudado, e que, algumas coisas continuam em seu completo eixo. Me dando, por pequeno que fosse, um pouco de esperança.

Não Escolhi Te PerderOnde histórias criam vida. Descubra agora