Capítulo 5

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Farah

Me sentei na escada e dividi o frango com o cachorro. As lágrimas circulavam nos meus olhos, mas chorar não resolveria meus problemas. Eu precisava me lembrar de que aquela situação não seria para sempre. Era só questão de tempo até meu pai voltar e Damon pagá-lo.

Tchalô (vamos), você come muito devagar! — falei pro cão e dei outra coxa pra ele. Quase perdi um dedo quando ele abocanhou o frango.

— Esse por acaso era o meu jantar?

Dei um pulo à voz de Damon e deixei tudo ir pro chão. Ele estava com a mesma roupa de quando fui ao seu quarto, mas pelo menos seu peitoral estava escondido dessa vez.

Ele olhou de mim, para as coxas de frango no chão, algumas sendo devoradas pelo cão. Pensei que fosse repreender a nós dois, mas o que fez, foi sorrir largo e acariciar o cachorro.

— Você se deu bem hoje, hein, garotão — falou e ergueu o olhar pra mim. — Eu pedi para que me repreendesse quando eu fosse rude com você e não me obedeceu.

Ergui uma sobrancelha, sem compreender.

— Por favor, Farah. Fui um babaca quando você só estava tentando ser gentil.

— Eu o incomodei, senhor Dam...

— Não é justificativa para a minha atitude. Ficou com tanta raiva assim que deu todo meu frango pro pulga?

Meus olhos sorriram. Meu coração sorriu.

— Posso preparar outro agora mesmo.

— Ah, não precisa. Acabei de jantar outro tipo de carne.

Não entendi o que me disse, mas senti a terra esquentar em meus pés e minhas veias pulsaram com seu timbre profano.

— Me responda uma coisa, indiana, essa maquiagem nos olhos significa algo?

— O kajal?

— Uhum.

— Na nossa cultura, pintar os olhos vai além da beleza. Tem mais relação com proteção contra doenças e para nos fortalecer espiritualmente. Esse kajal que preparei, por exemplo, contém cânfora, dá uma sensação refrescante nos olhos e previne inflamações.

— Você fez?

Tik. Os homens também podem passar. Gostaria de experimentar?

Me lançou um olhar divertido, mas não conseguiu me responder antes de duas loiras aparecerem e uma delas o agarrar por trás.

— Você nos pediu dez minutos. Já se passaram onze — comentou a que tinha o enlaçado. Era mais loira que a outra, mas ambas vestiam um roupão preto e pantufas da mesma cor.

— Eu estava conversando com a minha amiga indiana. Farah, essas são Isadora e Juliana.

Fiz uma mesura com a cabeça, tímida. Como elas conseguiam andar vestidas daquela forma sabendo que a todo momento entrava e saia grego naquela casa?

— Olá, moça. Podemos roubar o corvinho de você por uma hora...

— Duas — corrigiu Isadora.

—... por duas horas? — continuou Juliana, com um risinho arteiro.

Transferi o olhar para o corvinho. Ele parecia muito à vontade com aquela loura agarrada em seus ombros.

— Ele é todo de vocês — respondi, por fim.

Damon semicerrou os olhos para mim e me refrescou com um sorriso debochado. O que saía da sua boca não era ar, era vapor. Ele fazia uma noite fria se transformar em uma manhã ensolarada rapidamente.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora