Capítulo 16

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Farah

Nenhuma outra oração foi tão longa como a daquela manhã. Eu me sentia com um terrível mal-estar e a cabeça era a mais confusa possível.

Eu desejara o beijo do corvo noite passada e arrumar desculpas para justificar essa triste afirmação não me livraria do meu pecado.

Quando ele olhou para meus lábios e cogitou tomá-los nos seus, eu fiquei pequena. TUDO ficava pequeno perto daquele olhar, era de uma força extremamente poderosa, me sugava.

E seu sorriso...era tão lindo que palavras não seriam suficientes para descrevê-lo.

Me balancei sobre o tapete e me concentrei na oração. Eu pedia a Shiva e a todos os deuses hindus para que o desejo que eu sentira pelo corvo nunca mais se repetisse.

Eu precisava voltar para a Índia e faria qualquer coisa para voltar. Mais alguns dias perto de Damon e tudo estaria...

Estaria perdido.

Tomei um banho bem demorado e desci para o café após a yoga. Bem, a "quase" yoga; divaguei durante os dez minutos.

— Bom dia, flor — disse Marvin com sorriso nos lábios. — Iremos à praia hoje. Ensinarei você a surfar.

Namastê. Estou muito bem em terra seca.

— Não seja chata, está uns trinta e quatro graus lá fora. Vocês precisam se divertir um pouco. Já que estão na praia, por que não se molhar?

A força que eu estava exigindo de mim para não encarar Damon estava me deixando com dor de cabeça. Obedeci a vontade dos meus olhos e os deixei irem até o corvo esticado na cadeira como um gato preto muito à vontade.

Ele tinha sim defeito, tinha cílios demais, pareciam cortinas nos olhos. E seu deboche era tanto que podia ser vendido.

— Há uma lista de coisas que prefiro fazer antes de subir em uma prancha. 1- Morrer queimado, 2- ser enforcado, 3- ter minhas bolas arrancadas, e lá embaixo, bem escondidinho vem o 4, surfar. — Damon gesticulou enquanto enumerava.

Não contive o sorriso nos lábios. Ele era tão espontâneo, tão elaborado.

— Não precisa entrar no mar, pode apodrecer na areia — contrapropôs Marvin.

— Se convencerem Farah a ir, eu irei. Caso contrário, passarei o resto do meu dia largado no sofá da sala e pensando em quantas formas de morrer são menos piores que surfar.

Os gêmeos nunca pareceram tão iguais como naquele momento em que voltaram os olhos com matizes de meninos pidões para mim.

— E-eu nã...Tudo bem — disse.

Shiva, Shiva, Shiva. Quando me tornei uma menininha facilmente influenciada por olhos masculinos?

— Cacete, Farah. Vai mesmo deixar esses dois converterem você? — Damon não poupou sua boca suja.

Busquei rapidamente um significado para aquela versão de mim mesma.

Talvez eu só gostara de contrariá-lo ou, quem sabe, nenhuma relação tinha com Damon e eu só queria fazer algo diferente por mim mesma.

— Não deixe esse casca grossa influenciá-la, flor. Será divertido, você vai ver — acrescentou Marvin e fomos.

Na praia, com os pés descalços na areia quente, o sol massageando minhas bochechas, tornava bem fácil esquecer-se de tudo. Os raios do sol eram amigáveis, a brisa era tranquila. Um clima propício para sorrir.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora