Capítulo 43

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Corvo

Era sábado
Eu passara toda a sexta-feira observando quem entrava e saía do Taj Mahal, pois queria garantir que nenhum C4 tinha sido instalado nele.

Almocei em frente ao monumento.

Jantei em frente a ele.

E fiquei até que fosse tarde demais para acontecer qualquer explosão. Quando voltei pro hotel, estava exausto e só quis saber de dormir.

Mas, agora era sábado, e desde o que acontecera entre Nayana e eu, eu não vira ela ou Farah. E eu queria, não, eu precisava recuperar o meu anel.

Era exatamente por isso que eu estava naquele momento tocando a campainha do palácio do maldito Kaling.

Quando o criado foi à porta me receber, outras pessoas chegaram na casa e aguardaram assim como eu para serem recebidos. Eram todos indianos e dentre eles, um homem alto, pardo, de por volta trinta e poucos anos, se destacou.

Ouvi o nome Shobhan em meio à conversa e foi por instinto que me aproximei deste homem.

— Shobhan? — Olhou para mim como todos os indianos olhavam para estrangeiros brancos. E confirmou sua identidade. — Você provavelmente está aqui para oficializar seu noivado com Farah, então me sinto no dever de alertá-lo que a cada vez que você aumentar a voz para sua noiva, é um murro que darei em você. Se ela quiser ficar careca, você a elogiará mesmo assim, se decidir fazer uma tatuagem na testa, você dirá que tudo bem se ela fizer a maior que tiver. Fui claro!?

O indiano de vestimenta elegante estufou o peito como só os machos sabiam fazer quando sentiam a masculinidade ameaçada.

— Quem é você?

— Damon! — Farah rugiu meu nome antes que eu tivesse o privilégio. — Por favor, Shobhan, os criados acomodarão você e sua família.

— Você não vem? — Ele perguntou a ela, mas os olhos continuavam em mim.

— Receberei minha visita e os acompanharei em breve.

Tive um olhar de raiva sobre meu rosto logo que todos se foram. Eu permanecia no corredor de entrada e muito longe do jardim onde meu anel fora jogado.

— O que você disse para ele? — A coisinha me questionou.

— Nada com que você devesse se preocupar.

Arfou, impaciente.

— Não sei o que pensa em fazer, mas, pare. Você me deixou em uma situação complicada com meu futuro marido.

— Se ele não é capaz de lidar com uma simples ameaça, então ele não serve para alguém como você.

— Uma mulher que faz explosivos?

— Uma mulher ardente.

Ela cruzou seus braços recheados de pulseiras.

— O que quer aqui?

— Vim recuperar meu anel.

— De repente ele se tornou valioso para você?

— Você tem todo o direito de estar zangada comigo...

— ... não pedi permissão.

— Mas isso não significa que pode mensurar o valor de algo que me pertence.

— Por favor, Damon, qualquer um que o conheça mesmo que seja por um breve segundo sabe que seus sentimentos são superficiais.

— Não fale do que não te diz respeito.

— É uma bijuteria qualquer, você pode comprar em uma feirinha. Apenas deixe a propriedade de meu pai antes que cause um estrago ainda maior.

— Não percebe? Podia ser um pedaço de papel ou uma pedra... — Não me prolonguei. A sua mágoa era demais para deixá-la enxergar. — Eu lamento, Farah.

— É, eu também. Mas é como você disse uma vez, não nascemos para durar.

Voltei para casa com um gosto terrível na boca e um borbulho no estômago. Eu já provara sabores amargos, azedos, picantes, mas aquele...Deus, aquele parecia estar vindo de um lugar diferente da garganta. Não busquei refúgio na bebida, uma vez que o álcool não inundaria o convés da minha consciência.

Quando cheguei no quarto contei tudo para Matt. Eu nunca tinha lidado com nada assim antes, magoar uma mulher e me sentir culpado. Não que eu não me importasse com as garotas com quem eu dormia, eu sempre deixara tudo às claras para elas, era a minha obrigação, certamente, e elas não esperavam nada diferente de mim. Minha vida era um palco de histórias de desapego.

E então tinha a indiana traiçoeira. Eu não estava acostumado com o jeito que meu coração olhava para Farah. Era diferente de tudo.

Matt ficou alarmado.

— Você o quê?

— Terei de repetir quantas vezes? — Eu me exaltei.

— A irmã de Farah é uma insuportável, como pôde dormir com ela?

— Eu mal me lembro do que aconteceu naquela noite. Saí para me distrair e acordei na cama dela.

— Como não se lembra, mano? — Ele parecia com vontade de dar um tapa na minha cabeça. Por Deus, podia dar dez.

— Me deitar com mulheres faz parte da minha rotina, não há apego, por isso não existe memórias. É tudo um impulso.

— Sabe o que eu penso, Damon? Acho que você ficou puto por Farah ter se engraçado com Marvin e quis se vingar. Por isso se deitou com Nayana — disse baixo, para Marvin que tomava banho não ouvir.

Era uma razão frágil demais. Não combinava comigo. Imediatamente desconsiderei.

— Eu já disse que não tô nem aí para eles dois.

— Você continua negando e eu sigo desacreditando. Você se faz de rocha inabalável...

— Mathews!

Ele cruzou os braços e estufou o peito, estava em pé bem na minha frente e eu sentado na cama.

— Se não se importa com a Farah não devia estar tão preocupado por ter ficado com a irmã dela — incitou.

Meu coração ficou em chamas. Depois, realinhei meus pensamentos.

— Não é isso. É só que...sei que não sou boa coisa, mas, eu iria tão longe na canalhice? Isso está fora do meu padrão de maldade.

Cerrou o cenho.

— Acha que Nayana tá mentindo?

— Eu não regrediria no meu caráter. — A sensação de alívio me preencheu.

— Agora tem um?

— Aprendi a ter quando descobri o valor de uma amizade.

Matt submergiu nas águas profundas da surpresa.

— Se está com dúvida, confronte Nayana de novo, mas faça isso sem machucá-la.

— Claro que não a machucarei, mesmo salivando de raiva.

***

Não consegui contato com ninguém da casa dos Kalings. Estavam todos ocupados demais com Shobhan.






 Estavam todos ocupados demais com Shobhan

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O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora