Capítulo 10

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Corvo

Sequei o suor com a tolha de rosto logo que entrei em casa. Tomei um copo de água e me servi de yogurt com mel.

— O que quer para o almoço, senhor Damon? — perguntou dona Galanis chegando na cozinha.

— Tem peixe?

— Salmão? — Esperou eu assentir. — Tem sim. Com legumes?

— Pode ser.

— Senhor Damon — chamou antes que eu deixasse a cozinha. Me virei. — Não quero me intrometer, mas por quanto tempo aquelas meninas ficarão?

— Isa e Juh? Não sei, por quê?

— Eu não preparei um quarto para elas e não sei se devia lhes oferecer. O senhor não me disse nada.

— Elas estão comigo, não se preocupe. Por falar nisso, as viu por aí?

— Estão na piscina, senhor Damon.

— Certo. Obrigado. Estão te dando muito trabalho?

A mulher negou com a cabeça, mas pude notar que seus lábios queriam dizer outra coisa.

— Falarei com elas.

— Obrigada, senhor Damon.

Segui pelo corredor que me levaria até a piscina com a tolha de rosto jogada sobre meu ombro. Ouvi os gritinhos animados, antes mesmo de ver as loiras.

— Corvinho. Que surpresa boa — disse Isa, maliciosa, e saiu da piscina revelando seu biquíni rosa pequenininho.

— Vocês duas, peguem leve com os empregados. Eles trabalham aqui, mas não são seus escravos.

Juh que estava deitada na cadeira de praia, apreciando um martini e pegando bronzeado, se expressou:

— Você deu essa bronca na indiana também?

— Em Farah? O que ela tem com isso? — Ergui uma sobrancelha.

— Não sei. Você saiu tão cedo e nós vimos vocês dois juntos pela janela do quarto.

— Ah, não começa.

— Está dormindo com ela? — questionou Isa.

— É claro que não. E se estivesse, o que teriam com isso? Não saio perguntando em quantos paus vocês sentam!

— Poderia perguntar — retrucou Juh, dando de ombros e mexendo a azeitona na sua taça com o canudinho.

— Eu não me importo. Nunca prometi fidelidade para as duas.

— Não queremos um relacionamento. Só não entendemos porque apresentou uma estranha para o primeiro ministro, enquanto nós sequer fomos convidadas para a festa — rebateu Isa.

— Vocês estavam na festa.

— De penetras! — disseram as duas.

Esfreguei os olhos com as mãos e suspirei.

— Konstantinos pediu para conhecer Farah, por isso a apresentei. Ela estava servindo o jantar, ele a viu e pediu para que eu a apresentasse a ele — expliquei, com calma. — Agora podem parar com essa putaria?

Trocaram olhares e pareceram satisfeitas com a resposta.

— Vou tomar um banho. Aproveitem o dia, porque de noite as castigarei por essa atitude.

                                           ***

Vesti uma calça jeans e uma camiseta. Como eu não teria reunião naquele sábado, nem nada agendado, dispensei qualquer formalidade. Pulga estava me esperando com um pedaço de madeira no hall de entrada e eu entendi o que era para ser feito.

Peguei o tronco e o lancei porta afora. O cão o perseguiu feito um louco. Quando retornou, vinha acompanhado de Farah e sem o tronco.

— Exercício pago?

A indiana torceu o nariz para a minha pergunta.

— Sim.

— Sua religião permite mentir?

— Não estou mentindo — ela rebateu e ergueu os cabelos. Sua nuca estava suada e alguns fios da minha cor preferida estavam grudados na pele. — Acha que eu estou suada porquê?

— Está quente e você está de vestido longo.

Fosse lá o que Farah tivesse para me dizer, foi interrompido por alguns membros de Érebos que chegaram no palácio.

— Eles ainda estão presos! — Hades bradou. — Por que?

— Não grite. Não está na sua casa — o repreendi. — Tive um contratempo.

— Que contratempo? — questionou Pietro.

— Precisei pedir outro tipo de favor pro primeiro ministro. — Evitei olhar para Farah para que eles não desconfiassem de que eu escolhera ajudar a ela a ajudar os dois presos.

— Você está nos decepcionando, Damon. Primeiro, assassinou um dos nossos só porque ele brincou com essa daí e agora isso. De que lado está, afinal? — perguntou Hades.

— Não tem lado aqui. Não somos uma equipe. Vocês trabalham para mim e só.

— Então não nos ajudará se formos presos? Nos deixará apodrecer na cadeia? — questionou Adônis. — Está se esquecendo que fomos nós que o colocamos na liderança?

Trinquei o maxilar com força e se não avancei no pescoço de um deles, foi porque Farah continuava entre nós e eles poderiam facilmente acabar com ela.

— Eu mesmo me coloquei aqui. Eu matei Dionísio e Tales porque vocês não tiveram coragem o bastante para fazê-lo! — Expressei, com sorriso e tom alarmante.

Hades era o mais valente entre eles, o único que tivera coragem de dar um passo na minha direção e me encarar olho no olho.

— Tire meus amigos da cadeia ou eu me esquecerei que é você que me paga!

Eu não me rebaixaria a um covarde, então também não desviei o olhar.

— Tenha muito cuidado com quem você ameaça ou eu quem me esquecerei de que não preciso de você para nada.


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O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora