Capítulo 12

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Farah

Tudo ficou frio e deprimente quando chegamos na parte mais distante de toda a ilha. Aquela colina onde Damon parou sua moto, parecia não existir no mapa.

— Nos refugiaremos ali. — Desligou o motor e apontou para um moinho de vento não muito distante.

O medo me assolou quando minha mente começou a se perguntar no que de pior podia me acontecer estando num deserto de quatro paredes com Damon.

— Invadiremos? — perguntei, enfim.

Me sorriu de forma sem-vergonha.

— Não. Esse lugar sempre foi meu ponto de fuga. Sempre soube que um dia eu o usaria.

— Ele não funciona mais? O moinho?

— Nunca funcionou. Era só uma distração para espantar invasores.

— Você é esperto.

Seus olhos imitaram o brilho do sol.

— É a primeira vez que me faz um elogio. Estou lisonjeado. — Ele tirou a chave da sua motocicleta e me ajudou a descer assim que o fez.

O segui até o moinho branco de hélices azuis. Esperei que Damon fosse o primeiro a entrar e então o acompanhei e o esperei fechar a porta. Tive um calafrio quando a trancou.

O interior era pequeno e arredondado. A cozinha ficava embaixo e uma escadinha de madeira levava para o andar de cima, onde eu supunha ser o quarto.

— É temporário — atentou Damon.

— Tem água?

— Sim, claro. — Apontou para o frigobar.

Peguei uma garrafinha e a esvaziei de uma vez só.

— Não podemos abrir as janelas, mas vou ligar o ventilador para refrescar um pouco. — O estrondo foi imenso quando o fez. Parecia uma britadeira. — Merda. Deve ter enferrujado. — Damon deu tapas no ventilador de aço na tentativa de silenciá-lo. Mas não funcionou.

— Há quanto tempo não vem aqui?

— Desde que o construí. Deve fazer uns cinco anos.

Amarrei os cabelos em um coque alto para que o vento chegasse na minha nuca e me ajoelhei diante o ventilador barulhento.

— Farah, não podemos deixar isso ligado. Vai atrair muita atenção — alertou-me.

— Sim, eu sei. Só não destrua meu pequeno momento de prazer tão cedo.

Ergui os olhos a tempo de ver seu sorriso, peguei carona e sorri de volta. Ele tinha algo provocante para dizer, eu sabia que sim, mas para o bem da minha sanidade, ele mudou de assunto.

— Verei os outros mantimentos. Você pode cuidar da comida? Veja a validade. Espero que ainda tenha algo bom.

Assenti.

— Desliga isso aí — reforçou, se referindo ao ventilador e subiu para o segundo andar. — Puta merda, aqui tá ainda mais quente.

— Se o ventilador não pode gritar, então você também não pode — retruquei assim que me levantei.

— Justo. Já fez o que te pedi?

Revirei os olhos e fui até as prateleiras de madeira. Entre as comidas enlatadas, tinha extrato de tomate, milho cozido, leite condensado, refrigerantes, pasta de amendoim, atum, ervilhas...A variedade era incontestável, minha preocupação era a quantidade. Tentei não ver isso como um problema muito grande, já que Damon e eu não passaríamos tanto tempo ali.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora