Capítulo 17

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Farah

Me virei de um lado pro outro, sem conseguir pregar os olhos. A verdade era simples, o que os gêmeos me disseram ficou impregnado na minha cabeça. Eles tinham razão, Damon não era a minha salvação, ele me conduzia ao caos. Ao lado dele não era um lugar seguro para viver. Eu deixei que me fizesse acreditar que eu podia ser uma espécie de heroína, erradicando meus medos mais íntimos e me dizendo que eu era muito mais que só uma garota. Shiva, o que pensei? Que sairia por aí extinguindo quem mexesse comigo?

Pensar em como fui boba, era mais do que eu podia suportar. Deixei o quarto de hóspedes e desci em busca de um copo de água, na melhor das hipóteses, um chá bem quente.

A dissonância da sua voz me atraiu para a esquerda e não para a direita como eu havia calculado.

Bastou apenas um suspiro para Damon se virar para mim. Estava resmungando sozinho na sala.

— Você sumiu — disparei.

— Sentiu minha falta? — descontraiu.

— Senti falta do seu dinheiro. Os outros tiveram que pagar por minha comida.

— Acredite, ninguém ficou menos rico por ter que te pagar um kebab e um refrigerante — disse de modo arrogante.

— Até quando ficaremos aqui?

— Eu não sei. Consegui contato com Isadora hoje e ela me disse não saber nada sobre a polícia ter ido nos procurar no moinho de vento.

— E você acredita nela? — perguntei, afiada e sarcástica.

— E por que não acreditaria? Sabe há quanto tempo a conheço?

— Isso não a torna confiável.

Em silêncio profundo, me julgou pelo que falei e agarrou o meu pescoço sem aplicar força, apenas me imobilizando e me obrigando a enxergar o infinito dos seus olhos. Era notório que eles eram mais bonitos que a entrada de qualquer paraíso estelar.

— Talvez a traidora seja você. Talvez a polícia tenha a procurado enquanto estava com Konstantinos e lhe oferecido uma proposta generosa.

Fiquei ofendida, mas não abalada.

Tik, é exatamente por isso que tentaram me alvejar enquanto fugíamos.

— Eu queria saber que você nunca me trairá, ainda que ofereçam algo muito bom em troca — ele disse, e me perguntei se ouvira minha conversa com os gêmeos.

Minha garganta deu um nó.

Há poucas horas eu estava verdadeiramente decidida a deixá-lo e enfrentar a minha família. Lidar com Baldi era muito mais seguro que continuar ao lado do corvo. No entanto, quando ele estava por perto, eu ficava cega para todos os riscos.

Sedutor, viciante...Marvin tinha razão. Damon era como um lago misterioso que nos atraía para um mergulho até que parássemos de respirar.

Aclamado.

Misterioso.

Era nessas horas que eu precisava ser forte e não confundir sua manipulação com honestidade.

— E eu queria saber se tudo o que me diz é verdade — retruquei, ainda com seus cinco dedos em meu pescoço.

Arqueou a sobrancelha e desceu com os olhos pros meus lábios entreabertos. Fiquei fria, com pensamentos nebulosos, visão ofuscada pelo pecado, seu rosto nunca estivera tão perto do meu sem que fosse para me beijar. E talvez fosse exatamente isso que ele planejasse fazer.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora