Capítulo 11

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Farah

Eu podia não falar o idioma deles, mas eu lia muito bem expressão facial e corporal. E aqueles homens, definitivamente, estavam discutindo.

Damon fora o último a dizer algo antes dos quatros irem embora. O corvo era temido por todos eles, ele matava mais que peste, deixava corpos distorcidos por onde passava, e qualquer um que o conhecia, logo sabia disso.

— As coisas ficarão feias a partir de agora. — Me disse, tranquilo e calmamente, ao se lembrar da minha presença.

— Nunca esteve bonito — atentei. — O que queriam?

— Me questionar. Eu disse a eles que pediria a Konstantinos para tirar os presos da cadeia e não o fiz.

— Por minha culpa. — Afirmei, seu olhar inspirava aquelas palavras.

Ele não negou, tampouco tentou contornar. Não. Damon era verdadeiro.

— Pensarei sobre o que farei, só preciso que tome cuidado. Os evite sempre que possível. 

— Ainda estão com a esposa de Konstantinos? — perguntei. Em que eu estava pensando? Me envolvendo naquela máfia toda como se fosse uma expert no assunto ou uma exímia bandida.

— Sim. — Sua sobrancelha se ergueu de modo interrogativo.

— Ela não pode ajudá-los? Talv...

— MÃOS NA CABEÇA, OS DOIS.

Só acatei a ordem depois de ver homens de farda preta e armas em punhos entrarem no palácio.

— Que porra é essa!? — Damon questionou ao policial, sem fazer menção de obedecê-lo.

— Temos um mandato para revistar sua casa. — Era o mesmo policial de nariz estranho que fora ao palácio dias atrás. Ele empurrou um papel no peito do corvo e não esperou convite para entrar.

— Sob qual acusação?

— Drogas, armas ilegais, cadáveres. Você pode escolher.

Damon olhou feio para ele.

— Seus homens não precisam de armas para fazerem isso, Alexis. Mandem baixá-las agora, estão assustando os meus empregados.

— Revistem ele — o policial, Alexis, ordenou a outro, ignorando o pedido de Damon.

— Não estou armado! — grunhiu, mas fora revistado mesmo assim.

— A garota também — deu outra ordem e eu tive mãos masculinas me apalpando de cima à baixo. — Tudo bem, podem baixar as armas.

Os policiais o fizeram e eu finalmente pude relaxar os braços.

— Mande todos seus empregados esperarem lá fora porque isso aqui vai demorar — Alexis disse com zombaria. Eu logo percebera que sua missão ali na Terra, se resumia em provocar o corvo.

Damon deu a ordem para dona Galanis e ela repassou para os outros que não estavam por perto.

— Eu também posso ir lá pra fora ou tenho que ficar aqui, respirando o mesmo ar que vocês? — Damon questionou ao policial, despojado.

— Podem esperar lá fora, mas não pensem que não terá policiais de olho em vocês.

Damon me pegou pelo cotovelo e me puxou para deixarmos o pessoal da narcótico, ou seja lá o que eram já que as acusações foram tantas, agirem.

— Precisamos nos preocupar? — perguntei, ao achar que seus dedos em mim estavam muito exigentes.

— Pra caralho.

— Ah, Damon. Quanta droga guarda em casa? — perguntei baixinho ao nos aproximarmos de uma viatura com dois policiais armados.

Damon esperou até que eles deixassem de nos olhar para me responder.

— Não é só isso, Farah. Tem muita coisa ilegal lá dentro.

— Como podem ser tão estúpidos? Nunca se prepararam para esse contratempo? — A indignação estava obstinada a me consumir.

Seu olhar foi de uma gelidez febril.

— Claro que sim. Mas se eles vieram por uma denúncia, é porque sabem onde procurar.

Baguan Kelie.

— Você será preso.

Me fitou de esguelha e foi a primeira vez que o vi baixar a guarda.

— Todos seremos.

O desespero me entorpeceu e anestesiou minha boca, mas eu tinha duas armas para lutar contra ele. A primeira, eu não era uma mulher que baixava a cabeça facilmente, ainda mais sendo inocente. A segunda arma era ainda mais mortal e inteligente: o corvo. Devia existir alguma razão para ele fazer uso do codinome de uma ave tão astuta.

— Não posso ficar aqui parado — ele falou minutos depois. — Preciso dar um jeito de contornar essa situação e descobrir quem me delatou.

— Acha que foi Konstantinos? — perguntei, sufocada como se inalasse fumaça. Eu cometera um erro que afetou os negócios de Damon.

Ah, Shiva, shiva, como eu queria que fosse um pesadelo.

— Não sei, mas tenha certeza de que acabarei com a raça de quem fez isso.

A bile subiu. E eu só consegui pensar no quão azarada era. Dentre tantos homens no bar que eu podia ter escolhido para me ajudar a acabar com o casamento arranjado, por que eu fora escolher justo um criminoso? Eu era uma pessoa amaldiçoada, uma manglik! (pessoa que não nasceu para o amor).

Damon e dona Galanis conversaram com os olhos. E como se tivessem arquitetado um plano mentalmente, a empregada seguiu na direção dos guardas na viatura.

— No meu sinal, você me segue — murmurou Damon para mim.

Balancei a cabeça em concordância e atormentei os deuses com minhas orações.

Galanis executara muito bem seu papel de distração. A empregada conseguira roubar a atenção dos dois guardas sem nem precisar fingir um desmaio. Fiquei realmente curiosa em saber de que forma os abordara.

Num sopro do tempo, acompanhei Damon quando este me fez um sinal com a cabeça.

Escapamos sorrateiramente e foi um alívio quando nos distanciamos o suficiente para podermos conversar em tom audível.

— E agora? — Minha voz entregou minha fraqueza.

— Agora vamos nos esconder até que os policiais saiam da minha propriedade.

— Ficaremos aqui?

Me fitou. Seus olhos eram uma trilha nas trevas.

— Claro que não. Suba aí.

Segui o seu olhar. De novo a motocicleta de Damon se tornara nosso único meio de escape. Me sentei às suas costas e o agarrei em movimentos suaves sem pestanejar. Ignorei a sensação de formigamento dos dedos que tocá-lo me causou e foquei minhas energias no que estava de fato me preocupando. Shiva, eu estava mesmo fugindo com um corvo me guiando. Eu me tornara sua aliada contra seus inimigos.






 Eu me tornara sua aliada contra seus inimigos

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O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora