Farah
Depois de dias de rituais, finalmente chegara o dia oficial do meu casamento.
Eu já me banhara no sândalo e o meu cabelo, a maquiagem, e a henna estavam feitas.
Eu estava sozinha no quarto arrumando meu Nath (brinco no nariz) quando Nayana bateu à porta.
— Você está magnífica. — Avaliou meu lehenga vermelho de cima a baixo.
Respondi com um erguer de sobrancelha nada sútil.
— Estou feliz por você, didi.
— Acho difícil de acreditar.
— Eu posso ficar feliz por sua felicidade!
Eu me virei para ela.
— Isso não é verdade. Você mentiu para Damon e para mim sobre o que tinha acontecido entre vocês, a troco de quê?
Ficou branca ao ser pega no pulo.
— Você estava dividida entre Shobhan e ele. Se eu não tivesse interferido você teria novamente escolhido o homem errado e seria infeliz!
— Não estava dividida. Nunca se passou por minha cabeça ficar com Damon. Ele não é homem de uma mulher só.
Ela engoliu em seco.
— E-eu achei que...
— Conte-me o que realmente aconteceu!?
Fitou as próprias mãos.
— Ele a respeita muito. Nós usamos algumas substâncias, de coisas simples a coisas a base de opioide; ele estava chateado e acabou consumindo bem mais do que eu. Mas, mesmo completamente bêbado e alucinado, ele não ousou tocar em mim. — Ela cruzou os braços e olhou para qualquer coisa, exceto, meus olhos. Estava envergonhada. — Ele só aceitou vir aqui em casa porque eu o fiz acreditar que não conseguiria chegar sozinha. Eu não sei o que eu estava pensando...O estrangeiro me acompanhou até o quarto, caiu na cama e dormiu sem nem lembrar que estava comigo. Eu me senti humilhada e foi também por isso que me aproveitei da situação e menti.
Apenas ri e fiz Nayana se encolher mais.
— Bem-feito para você. Esse é o preço por tentar me derrubar. E, obrigada por admitir, agora sei que além de ter um bom marido, tenho também um amigo confiável.
— Eu admiti para fazermos as pazes.
— Naya, de você eu só quero distância. Você é uma das principais razões de eu querer ir embora desta casa o quanto antes.
A deixei se remoendo com um olhar vago e uma lágrima prestes a cair. Não fiquei nenhum pouco comovida. Depois de tantos erros propositais, seus pedidos de desculpa deixaram de ter significado.
Desci as escadas e fui até o jardim onde o Pundit realizaria os cânticos em sânscrito sob o Mandap. Olhei para as oferendas feitas pelos pais de Shobhan e também pelos meus.
Recebi muitas bençãos logo que me viram e também ganhei um colar de ouro da mãe do meu noivo e um par de brincos da minha.
— Você será tão feliz, didi. — Maya me colocou duas novas pulseiras e me abraçou. Eu estava alguns quilos mais pesada devido as joias. — Agora chegou o grande momento.
Eu ainda não tinha visto Shobhan devido ao pano que nos separava, mas a expectativa estava grande. Quase não consegui me concentrar no que os convidados diziam.
Quando o pano caiu, meu noivo e eu nos vimos pela primeira vez naquele dia. Ele estava muito elegante e o olhar de bom moço permaneceu o tempo todo enquanto nos encarávamos. Ele pegou as minhas mãos, as segurou com afeto, e, como parte do ritual, eu o servi de mel e iogurte e trocamos os colares de flores.
Eu queria ter sentido uma faísca nascer, queria que meu coração tivesse palpitado e as mãos suado como o indício de uma nova paixão. Mas meus sonhos caíram por terra e eu só conseguia pensar que Damon não apareceu na cerimônia como prometera. Desde a nossa discussão nunca mais nos vimos. Na verdade, eu nem mesmo sabia se ele continuava na cidade ou no país.
Ele não iria embora sem se despedir.
— Os anéis — falou meu pai e os entregou a Shobhan.
Trocamos as alianças, proferindo votos e dando voltas ao fogo - a testemunha divina do casamento - com os mantras sagrados aos deuses hindus.
Minhas pernas tremiam a cada passo, fazendo minha tornozeleira com sininhos soar bem alto.
Shobhan me conduzia na caminhada e, em uma das sete voltas pelo fogo, chutei o arroz no chão para nos garantir prosperidade e fartura, assim como pedia a tradição.
A cerimônia foi finalizada com meu pai nos dando sua benção e derramando água sagrada em mim, no Shobhan, e também nos convidados.
Gritinhos alegres foram dados. Minha mãe e Maya choraram; Nayana, só aplaudiu.
Shobhan me puxou para um abraço, apertado e gentil, no lugar de um beijo nos lábios. Esse mesmo abraço se estendeu por todos os membros da família dele e da minha.
Não houve nenhuma chama diferente entre nós;
Nenhum olhar apaixonado.
E foi aí que a minha ficha caiu.
Eu me casara. Finalmente me casara.
E ao contrário do que sempre esperei, eu definitivamente não amava o meu marido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)
RomanceATENÇÃO: ESSE NÃO É O MESMO ARQUIVO QUE ESTÁ NA AMAZON. Houve alterações no livro para a venda dele na plataforma. Livro completo na Amazon Série: Escoceses Livro III Sinopse: Ele era ruim. Ela era duas vezes pior. Ele achava que o mundo estav...