Capítulo 53

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Farah

Depois de dias de rituais, finalmente chegara o dia oficial do meu casamento.

Eu já me banhara no sândalo e o meu cabelo, a maquiagem, e a henna estavam feitas.

Eu estava sozinha no quarto arrumando meu Nath (brinco no nariz) quando Nayana bateu à porta.

— Você está magnífica. — Avaliou meu lehenga vermelho de cima a baixo.

Respondi com um erguer de sobrancelha nada sútil.

— Estou feliz por você, didi.

— Acho difícil de acreditar.

— Eu posso ficar feliz por sua felicidade!

Eu me virei para ela.

— Isso não é verdade. Você mentiu para Damon e para mim sobre o que tinha acontecido entre vocês, a troco de quê?

Ficou branca ao ser pega no pulo.

— Você estava dividida entre Shobhan e ele. Se eu não tivesse interferido você teria novamente escolhido o homem errado e seria infeliz!

— Não estava dividida. Nunca se passou por minha cabeça ficar com Damon. Ele não é homem de uma mulher só.

Ela engoliu em seco.

— E-eu achei que...

— Conte-me o que realmente aconteceu!?

Fitou as próprias mãos.

— Ele a respeita muito. Nós usamos algumas substâncias, de coisas simples a coisas a base de opioide; ele estava chateado e acabou consumindo bem mais do que eu. Mas, mesmo completamente bêbado e alucinado, ele não ousou tocar em mim. — Ela cruzou os braços e olhou para qualquer coisa, exceto, meus olhos. Estava envergonhada. — Ele só aceitou vir aqui em casa porque eu o fiz acreditar que não conseguiria chegar sozinha. Eu não sei o que eu estava pensando...O estrangeiro me acompanhou até o quarto, caiu na cama e dormiu sem nem lembrar que estava comigo. Eu me senti humilhada e foi também por isso que me aproveitei da situação e menti.

Apenas ri e fiz Nayana se encolher mais.

— Bem-feito para você. Esse é o preço por tentar me derrubar. E, obrigada por admitir, agora sei que além de ter um bom marido, tenho também um amigo confiável.

— Eu admiti para fazermos as pazes.

— Naya, de você eu só quero distância. Você é uma das principais razões de eu querer ir embora desta casa o quanto antes.

A deixei se remoendo com um olhar vago e uma lágrima prestes a cair. Não fiquei nenhum pouco comovida. Depois de tantos erros propositais, seus pedidos de desculpa deixaram de ter significado.

Desci as escadas e fui até o jardim onde o Pundit realizaria os cânticos em sânscrito sob o Mandap. Olhei para as oferendas feitas pelos pais de Shobhan e também pelos meus.

Recebi muitas bençãos logo que me viram e também ganhei um colar de ouro da mãe do meu noivo e um par de brincos da minha.

— Você será tão feliz, didi. — Maya me colocou duas novas pulseiras e me abraçou. Eu estava alguns quilos mais pesada devido as joias. — Agora chegou o grande momento.

Eu ainda não tinha visto Shobhan devido ao pano que nos separava, mas a expectativa estava grande. Quase não consegui me concentrar no que os convidados diziam.

Quando o pano caiu, meu noivo e eu nos vimos pela primeira vez naquele dia. Ele estava muito elegante e o olhar de bom moço permaneceu o tempo todo enquanto nos encarávamos. Ele pegou as minhas mãos, as segurou com afeto, e, como parte do ritual, eu o servi de mel e iogurte e trocamos os colares de flores.

Eu queria ter sentido uma faísca nascer, queria que meu coração tivesse palpitado e as mãos suado como o indício de uma nova paixão. Mas meus sonhos caíram por terra e eu só conseguia pensar que Damon não apareceu na cerimônia como prometera. Desde a nossa discussão nunca mais nos vimos. Na verdade, eu nem mesmo sabia se ele continuava na cidade ou no país.

Ele não iria embora sem se despedir.

— Os anéis — falou meu pai e os entregou a Shobhan.

Trocamos as alianças, proferindo votos e dando voltas ao fogo - a testemunha divina do casamento - com os mantras sagrados aos deuses hindus.

Minhas pernas tremiam a cada passo, fazendo minha tornozeleira com sininhos soar bem alto.

Shobhan me conduzia na caminhada e, em uma das sete voltas pelo fogo, chutei o arroz no chão para nos garantir prosperidade e fartura, assim como pedia a tradição.

A cerimônia foi finalizada com meu pai nos dando sua benção e derramando água sagrada em mim, no Shobhan, e também nos convidados.

Gritinhos alegres foram dados. Minha mãe e Maya choraram; Nayana, só aplaudiu.

Shobhan me puxou para um abraço, apertado e gentil, no lugar de um beijo nos lábios. Esse mesmo abraço se estendeu por todos os membros da família dele e da minha.

Não houve nenhuma chama diferente entre nós;

Nenhum olhar apaixonado.

E foi aí que a minha ficha caiu.

Eu me casara. Finalmente me casara.

E ao contrário do que sempre esperei, eu definitivamente não amava o meu marido.




E ao contrário do que sempre esperei, eu definitivamente não amava o meu marido

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O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora