Capítulo 15

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                                          Corvo
Álcool

Mulheres.

Prazer.

Era tudo o que eu precisava e meus irmãos conseguiram para mim. Eu estava com a cabeça cheia e precisava relaxar.

Soltei um suspiro pro alto enquanto uma das garotas sentava no meu pau. Era pacífico, divertido e fácil, fingir que nenhuma merda acontecia fora daquele quarto.

Tive o lábio inferior nos dentes da fêmea ao meu lado direito ao passo em que a outra gemia em meu ouvido, sensível e perfumada.

Escondi dentro de mim mesmo o mais profundo medo do amanhã e fiquei fascinado com a aventura de uma hora e meia com as duas.

***

Farah estava sozinha na varanda quando a encontrei na calada da noite.

— Pensando em quê? — perguntei ao me aproximar com passos cautelosos.

Ela se virou ao som da minha voz e respondeu:

— Na minha casa, minha família, meus amigos...Em tudo que amo e nunca mais verei.

— Não fugiremos para sempre.

Se virou abruptamente e cruzou os braços. Aquela coisinha tinha olhos que eram dolorosos como estacas de madeira quando cravadas fundo na carne.

— Você não entende? Ninguém nunca mais irá querer me ver. Eu estraguei tudo.

— Então eles que se fodam. Sua família é péssima, não merecem você.

— Não sabe o que está falando.

— Não. Nunca tive uma família para saber.

— N-ão foi o que eu quis dizer — gaguejou. Sua simplicidade era um charme.

— Não estou ofendido. Não sou como os caras que ficam se lamentando pelo que passou, Farah. Eu posso ser uma bosta de pessoa, mas conquistei muita coisa sem a ajuda de ninguém.

— Você não é uma bosta de pessoa, Damon. Você só é...um pouco bruto.

Fiquei compenetrado na beleza daquele rosto indiano. Sua maquiagem de dias estava toda borrada, mas o cabelo continuava perfeito sobre os ombros, como água parada. Havia algo de marcante e misterioso naquela mulher, um brilho indiferente nos seus olhos para mim, tão quente, tão vivo.

— Diga tudo de uma vez, coisinha — exigi, incapaz de tolerar sua petulância.

— Você é direto, é maldoso, joga sujo.

— Só elogios — debochei, nadando na superfície dos seus julgamentos.

— Você é egocêntrico, sarcástico, acha que o mundo inteiro lamberia seus pés.

— Adoro ter a língua de uma mulher entre meus dedos, isso é mesmo delicioso — continuei, incapaz de suavizar.

Deu uma mordida no canto do lábio e suspirou. Devorei aquele suspiro doce, sedutor, com um olhar profundo. Percebi que eu almejava aqueles lábios, que queria sentir o gosto deles novamente. Mal podia suportar a ideia de ter de me comportar com ela quando eu não me comportava com garota nenhuma.

Farah levou os olhos para as meninas que deixavam a casa. Acenei para elas logo que as vi e tive sorrisinhos em troca.

— Como consegue fazer tantas mulheres se deitarem com você? Você não me parece gentil com elas.

— Eu sou um predador, adorável Farah. Tenho meus segredos na hora de caçar.

— Como o quê?

— Esse é um território perigoso para você.

Seu sorriso foi um improviso bonito.

— Você não é o tipo de homem que me despertaria interesse. Eu dou mais valor aos certinhos.

— Ao contrário daquilo que pensam as mulheres, elas acham que gostam dos certinhos, até conhecerem a língua de um libertino. — A atmosfera ficou mais intensa.

Ela estava claramente cética sobre meus dons de caça. Eu podia ser o mais asqueroso dos homens ao que diz respeito a sentimentos humanos, mas quando se tratava de sedução, eu conhecia cada etapa.

— Eu admito que o acho bonito e charmoso. Isso é tudo o que conseguirá de mim, contudo, estou ansiosa para conhecer seus esforços.

Ela mexia com meus instintos mais profundos, mas eu a respeitava por tudo o que passou. Não jogaria com ela. Não depois do que Konstantinos lhe fez.

— Não quero que se interesse sexualmente por mim.

— Por que? — O som da sua voz foi menos violento.

— Porque eu odiaria fazer com você o que faço com as outras. Odiaria machucá-la.

Are baba, você as machuca?

Me arrancou um riso.

— Algumas garotas gostam de levar tapas, mas não é a esse tipo de dor a que me refiro. Odiaria que se apaixonasse por mim mesmo sabendo que eu nunca a corresponderia.

Ela fechou a cara e recuou também. Tinha olhos profundos, infinitamente, profundos, como se pudessem destruir tudo com o simples fechar das pálpebras.

— Eu tenho um homem no meu coração, Damon, e esse homem definitivamente não é você. Eu sou muito grata por tudo o que fez por mim, mas quem eu amo está em outro país.

Me aproximei e fiquei perto, muito perto.

— Se tem tanta repulsa de quem sou, por que me olha como se gostasse do que vê?

— N-ão lhe dirijo esse tipo de olhar. — Recuou mais e deu de costas com o muro e vasos de flores.

Não tornei a me aproximar, respeitei seu espaço, pois não confiava em mim perto de uma mulher tão desafiadora.

— Se eu não a respeitasse tanto, bela Farah, a beijaria bem agora.

Tive apenas a penumbra cintilante do seu silêncio. E nosso assunto se deu por encerrado com os gêmeos nos chamaram para jantar.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora