Capítulo 60

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Corvo

— ... Não. Estamos seguros agora. Não existe a menor possibilidade de o senhor ir preso.

— Como pode garantir?

— Eu sou o corvo dessa ilha. Essa é a melhor garantia que eu poderia lhe dar.

— Não sei, não — ajeitou a máscara. — Eu até tenho um serviço para você. Mas não sei se é uma boa ideia para agora.

— Eu sou como o gênio da lâmpada, apenas me diga o seu desejo.

O homem mascarado olhou para os dois lados, acautelando.

— Eu fiz uma coisa e agora isso voltou para me assombrar.

— O que o senhor fez, padre?

— Como sabe que sou eu?

— Por favor, que líder eu seria se não soubesse? Vamos, diga-me, o que o senhor fez?

— Eu caí na tentação e pequei.

— Oh, já era tempo.

— Corvo...

— Estou brincando. Mas da última vez o senhor me contratou porque teve problemas com álcool. Eu amo o seu dinheiro, padre, mas essa daqui não é uma Sociedade de autoajuda. Há criminosos de verdade aqui que matam, roubam, traficam...

Ele tocou no meu braço como forma de me calar.

— Eu engravidei uma mulher. Coloquei uma criança no mundo.

— Que Deus o abençoe, padre. Mas o senhor está ferrado!

— Preciso que dê um jeito nisso. A mãe da criança tem me ameaçado.

— Tentou suborno?

— Ela não quer o meu dinheiro. Quer que eu assuma a criança.

Estufei o peito e suspirei.

— Isso não pode cair na boca do povo, corvo. Faça algo. Eu pagarei muito bem.

— Verei o que consigo. Tente não manter contato com a mãe da criança até lá.

Após o padre, conversei com outro cliente, depois com outro, e graças aquela festa consegui muitos trabalhos para os próximos meses.

Comi, bebi, e reclamei sozinho da música clássica tocando. Eu preferia algo muito mais alegre. Pelo amor de Deus.

Passando a vista pelo salão, vi que Farah já retornara para perto do marido e da estátua grega que ela com certeza abominava.

Por que você fez isso, traiçoeira?

Os gêmeos estavam juntos na mesa de novo, bebendo e fofocando como duas senhoras.

Girei com os calcanhares e fui até o banheiro. Quase finalizando, lavando minhas mãos após mijar, Farah apareceu por trás e fechou a porta.

— Se queria dar uma espiadinha, tinha lugar melhor para fazer isso.

Ela não riu. Estava séria.

— Por que não me disse que teve problemas com a polícia em Agira?

Ela descobriu, é claro.

— Docinho, não pode esperar que eu a alerte toda vez que tiver problema com alguma autoridade.

— Uma parte de mim quer criticá-lo por me esconder as coisas e tentar resolver sozinho, e a outra parte entende que você não tem culpa. Essa é a só a forma que você foi criado.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora