Capítulo 57

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Farah
Shobhan e eu passamos o primeiro mês nos conhecendo melhor. Fizemos todos acreditarem que éramos o casal mais apaixonado da Índia. Nos divertíamos muito a cada passeio; compartilhávamos segredos e, às vezes, olhávamos para os mesmos homens soltando suspiros.

Ele se tornou a minha pessoa favorita, estava sendo a coisa mais fácil do mundo ser a sua esposa.

Eu sentia sim falta de sexo, mas quando isso acontecia, íamos na cidade proibida – de acordo com os hindus – e lá eu conhecia algum homem para passar a noite e Shobhan fazia o mesmo.

— Menina, isso aqui parece um hospício — ele cochichou para mim enquanto entravamos na boate. Era a nossa segunda noite na cidade proibida, Agon. Decidimos viajar de última hora naquela semana, pois não suportávamos nossos pais se intrometendo no nosso casamento e perguntando a todo instante quando viriam os herdeiros.

— É a sua primeira vez em uma boate?

— Heterossexual? Sim.

— Há boates próprias para gays? — ergui a sobrancelha.

Tik.

— Podemos ir nela...

— Não se preocupe comigo. Será fácil achar gays encubados aqui também.

— Você é terrível, Shobhan — brinquei. Ele me puxou pelo braço até o bar e pediu drinque para nós dois.

— Tem um rapaz olhando para você e ele não é de se jogar fora não — ele se inclinou para cochichar em meu ouvido.

Olhei para a direção apontada por ele com a cabeça e vi um homem sentado em uma das poltronas. Não tinha traços indianos. Era bronzeado como Matt e Marvin, mas o sorriso que me deu, Shiva, foi tão igual aos que Damon me dava que embrulhou o meu estômago.

Fazia um mês desde que ele foi embora e eu nunca mais tive notícias.

Tomei um gole do meu drinque e voltei o olhar para o meu marido.

— Estrangeiro demais pro meu gosto. Pegue você.

Ele gargalhou alto e me levou junto. Eu nunca imaginei que seria tão feliz em um casamento quanto eu estava sendo ao lado daquele homem. O que tínhamos era surreal, a amizade que criamos era boa demais para acreditar.

— Você é a esposa perfeita, Farah, e não é só porque divide seus machos comigo.

— Eu também não esperaria um marido melhor.

Acabou que dançamos, bebemos, e rimos a noite inteira e esquecemos de paquerar.

                                       ***

A ressaca da noite passada fez Shobhan e eu nos atrasarmos para o almoço em família. Minha mãe, meu pai, e Nayana já tinham chegado à casa de Shobhan enquanto nós dois ainda estávamos dormindo.

Se a criada não tivesse batido à porta pelo menos três vezes, teríamos acordado depois das duas da tarde.

— Ajude-me com o colar, rápido.

Ele correu até mim com apenas uma perna da calça vestida.

— Esse foi eu quem te dei? — perguntou, se atrapalhando com o fecho.

— Não. Eu o comprei. Mas, se alguém questionar, pode dizer que foi você quem me deu. Esse sari está bom?

— Tudo fica bom em você.

Fechei a cara.

— Combinamos de sermos sempre sinceros um com o outro. — Levei as mãos nos quadris.

— Eu prefiro o azul. Verde não é a sua cor.

— Ah, que droga. Por que não disse antes de eu terminar de me vestir?

Ele colocou a outra perna na calça quando tornaram a bater na porta do quarto.

— Vá assim mesmo. Só realce seus olhos com o kajal para disfarçar as olheiras ou acharão que não tenho deixado você dormir.

Fiz o que ele disse e acrescentei um batom pêssego nos lábios, ao mesmo tempo em que Shobhan escovava os meus cabelos para me ajudar a ser mais rápida.

Descemos as escadas e seguimos juntos para o jardim onde o almoço era servido sob à pérgula.

Namastê — falei para todos e me sentei ao lado de Nayana.

Namastê. — Minha mãe respondeu e me avaliou. — Verde?

— O sari é um presente meu para a minha esposa. — Shobhan a respondeu por mim, pois sabia que eu já não tinha muita paciência para as críticas da minha família.

— É lindo — mentiu minha mãe por educação.

— Shobhan, querido, está um pouco abatido. — A mãe de Shobhan disse para ele.

— Estou ótimo, mamadi.

Sua mãe aceitou e não disse mais nada.

Fizemos a oração antes de começarmos a comer.

O silêncio não durou por muitas garfadas.

— Os deuses ainda não os abençoaram com um filho? — Minha mãe voltou a me incomodar.

— Ainda não, mamadi.

— Oh, Shiva. Espero que não tenha nenhum problema com a menina. — A mãe de Shobhan falou.

— Não há problema nenhum com a minha esposa, mãe. Se os deuses ainda não nos abençoaram é porque não é o momento.

— Então vocês estão tentando? — questionou Nayana, displicente.

Lancei um olhar cavernoso para ela.

— É claro que estamos tentando — rebati. — E você, nenhum outro homem se interessou por você? Talvez devêssemos aumentar o dote da viúva.

Meu pai pigarreou, indicando que era hora de acabar com aquele showzinho desconfortável na frente da família do meu marido.

Shobhan e eu trocamos um olhar que carregava uma perversidade secreta antes de seu pai pedir que fôssemos servidos com a sobremesa.

 Shobhan e eu trocamos um olhar que carregava uma perversidade secreta antes de seu pai pedir que fôssemos servidos com a sobremesa

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O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora