Capítulo 18

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Me escondi de Damon a manhã inteira. Acordei antes de todos e carreguei meu café da manhã pro quarto.

Eu não fazia ideia de como superaria o que aconteceu na noite passada. Já se passava das quatro da tarde e eu ainda não tinha um plano. Eu não estava interessada em Damon, não mesmo, só que minha atitude o fizera pensar o contrário. Eu me odiava por ter alimentado seu ego, e mais ainda por não saber como reverter isso.

— Não posso me esconder para sempre. Tchalô (vamos), tenho que resolver isso.

Segui para a sala sem ter qualquer escolha, ciente de que Damon me aguardava como um lobo sedento por sangue fresco. Eu errara sobre a sala, ele estava na varanda, sentado numa cadeira de ferro branca e com um jornal aberto sobre o colo. O chá esfriava na xícara, mas as rosquinhas já tinham sido devoradas.

Minha dignidade certamente seria sua próxima refeição.

— Cansou de brincar de esconde-esconde? — Ele me perguntou sem erguer os olhos.

— Não estava me escondendo. — Minha voz pareceu um vento cruel e birrento.

— Claro, claro.

— Espero não precisar acompanhá-lo novamente em uma dessas suas diversões.

Fechou o jornal e o jogou na lixeira ao lado, se comportando muito melhor do que eu imaginava.

— Não saí para me divertir. Eu precisava de uma coisa e fui buscar.

— Você foi atrás de prazer e me levou junto.

— Primeiro, não fui atrás de sexo. Segundo, não a obriguei a me seguir. Eu encomendei uma arma com um cara que é dono dessa boate. Ele pediu para que eu fosse até lá buscar e foi o que fiz.

Uma arma?

— Ele a deixou no interior das pernas de uma mulher? — Não contive o impulso.

Vi babas da sua fome e acreditei que ele fosse me devorar.

— Da próxima vez pedirei para que deixe dentro das suas.

Acuei.

— Você sabe que mordo, não provoque — acrescentou em um erguer de sobrancelha sútil.

— Por que precisa de uma arma? — Mudei de assunto bem rápido.

— Todo mundo precisa de uma arma para se proteger de algo ou alguém. Inclusive, a ensinarei a usar uma.

— Com certeza não farei isso.

— As pessoas que estão atrás de nós têm armas. O que fará se uma delas cruzar o seu caminho? Dirá namastê?

Torci o nariz.

— Que bom que entramos em um acordo — ele falou, por fim. — Agora, me diga. Gostou do que viu?

A malícia do corvo não tinha cura, apenas controle.

— Não vi nada.

Ele se levantou, como uma onça que avança num bicho manso, e eu acuei.

— Claro que viu e está agora pensando que gostaria de ver de novo. Mais de perto, talvez.

— Você as arranha, as machuca. Não vejo como alguém pode gostar disso — falei. Me mostrar indiferente a ele não me protegeria, mas evitaria que me atacasse.

Vi a explosão do seu sorriso.

— Elas não sentem dor. Não faço para feri-las ou marcá-las. Eu começo devagar — estendeu os dedos longos e os enterrou em meus cabelos —, com carícias — foi com os dedos com leveza por minha nuca, de cima pra baixo —, e então aplico força aos poucos, sem que percebam. — Suas unhas finalizaram, me arranhando de baixo pra cima.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora