Capítulo 24

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Corvo

Ajudei os gêmeos a finalizarem os saquinhos de bicarbonato com todo cuidado e depois, guardamos as cocaínas verdadeiras dentro das sardinhas. Era essencial que aquilo ficasse perfeito e desse certo. Um único deslize e estaríamos arruinados.

— Acha que essas piranhas serão suficientes? — questionou Marvin de olho no peixe em cima da pia.

— Vai ter que ser. Matt, ligue pros caras e diga que estamos com a encomenda deles. Marque o encontro para hoje ao anoitecer — falei pra ele.

— Acha que isso dará certo? — perguntou-me, com o medo falando em seu nome.

— Acho. Mas vocês precisarão voltar para a Califórnia ou para qualquer país. Ficar aqui não será uma alternativa...Se eles...se eles. Quem é? — A campainha tocou ininterruptamente e o bater na porta também foi constante.

Marvin foi atender e um furacão rosa passou por ele. Roya tinha olhos pasmos e lábios esbranquiçados como giz. Ela estava tão atordoada que não se deu conta da porrada de peixes que tínhamos na cozinha ou dos quilos de pó branco.

— O que foi? — Matt perguntou por todos nós.

— A Farah. Um homem estranho veio buscar ela. Achei, sei lá...

— Do que está falando? — A questionei, confuso.

— E-eu não sei que merda aconteceu, está bem? Em um minuto estávamos conversando na areia, noutro, um homem a levou sem qualquer explicação. Eu tentei chamá-la, mas ela só me deu as costas e se foi.

— Como era esse homem? — perguntei. Àquela altura eu já desconfiava dos meus homens, mas então o que Roya disse mudou todas minhas certezas.

— Parecia...indiano. As roupas eram em tons pastéis, os cabelos escuros e a pele parda como a de Farah. — Sua voz tremia, ela estava muito assustada enquanto eu e meus irmãos só a ouvíamos sem apresentar a menor reação. — Quem era esse homem? Por que ele a levou?

Respirei fundo e suspirei em seguida.

— Deve ser algum capanga do pai de Farah. — Olhei para todos sem demora. — Ele mandou que a buscassem.

— Ele não pode fazer isso. Ele vai matá-la. Vocês precisam fazer algo! — Ela partiu para a histeria e olhou fixamente nos olhos de cada um de nós. Me perguntei como em tão pouco tempo aquelas duas se tornaram tão amigas. Fazia parecer que dividiam o mesmo sangue. Não. Era mais que isso. Elas dividiam quase que a mesma dor.

— Vai atrás dela? — Marvin se virou para mim ao questionar.

— E você ainda tem dúvida? — indaguei, degolando-me com o meu próprio orgulho. — Vocês cuidam disso aqui? — Me referi à bagunça na cozinha.

— Claro — comentou Matt.

— Por que compraram tanto peixe? E... o que é isso? — Roya pegou um dos saquinhos e o ergueu na altura dos olhos.

Matt o retirou da sua mão com urgência.

— Não é nada.

— Estão vendendo droga? — Ela olhou com asco ao redor e usou a mão para tapar o nariz. — Meu deus, a casa está fedendo.

— Roya! Você precisa ficar fora disso. Saia daqui — Matt foi arisco com ela. Sua intenção era protegê-la, mas Roya não era o tipo de mulher que aceitava isso facilmente.

Os deixei discutindo na cozinha e corri para a sala. Havia algumas coisas que eu precisava resolver antes de ir atrás de Farah. Não podia agir com o sangue quente.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora