Capítulo 14

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Farah

Casas brancas no estilo ruínas, portas e janelas azuis, chão de pedras com contorno em branco. Felinos e mais felinos, miando feito loucos em busca de alguém para acariciar sua cabeça. Essa foi minha primeira impressão assim que pisei na ilha de Patiros.

— O que estamos fazendo aqui? — indaguei, enquanto via a enorme balsa partir sobre o mar azul e cristalino.

— Os gêmeos moram aqui.

— Seus irmãos?

Assentiu sem virar o rosto para mim.

— Não podemos nos hospedar em um hotel, seríamos facilmente encontrados — concluí em voz alta. — Eles sabem que viemos?

— Não.

— Há quantos anos não os vê?

— Desde que entrei em Érebos; deve fazer uns dez anos.

— Acha que nos ajudarão? — perguntei, com o calor do amanhecer na minha face.

Me olhou, sem ao menos perceber a magia obscura na expressão.

— Eles me devem isso.

Fizemos todo o trajeto a pé por caminhos estreitos, escadas longas, e gatos nos seguindo. Percorremos por aldeias brancas, localizadas em falésias vulcânicas que se estendiam pelo mar egeu.

— Está tudo fechado — comentei com Damon. A ilha parecia deserta, não vi uma única pessoa passando por nós desde que pisamos lá.

— É início da temporada. Os turistas devem chegar na próxima semana que é quando tudo começa a funcionar. Chegamos.

Olhei para a casinha caiada de branco de aspecto quadrado, com portas e telhados azuis brilhantes. Parecia uma casa de massinha, muito diferente de tudo que eu já vira em qualquer lugar. Tive de tocá-la para sentir a textura.

— Por que branco e azul? — perguntei baixinho.

— A cor contribui para amenizar a temperatura do ambiente; era a mais barata e comum nas ilhas gregas antigamente. E no decorrer do tempo, por volta de 1976, o governo mandou pintar todas as residências de branco e azul para mostrar a unificação do país e o apoio político ao seu regime.

— Claro que teria alguma relação com a política por trás — expus baixinho.

Damon bateu à porta com sua indecisão transluzindo no escuro dos seus olhos. Três minutos de insistência depois, e um homem de pijama nos atendeu com cara de sono.

Ele olhou para mim, depois, para o corvo e sua surpresa foi grande.

— Não posso acreditar. O corvo das ilhas gregas — disse o homem, em inglês, então puxou Damon para um abraço com tapas nas costas. — O que tá fazendo pra esses lados, cara?

— Me cansei da agitação do lado de lá. — Brincou. — Mathews, essa é a minha amiga Farah.

Balancei a cabeça pra ele em forma de cumprimento, mas Mathews estendeu sua mão pra mim e eu tive que ser cordial.

— Podemos entrar? — O corvo indagou.

— Claro. — Nos deu passagem.

— Cadê o vigarista do seu irmão? — Damon perguntou assim que nos acomodamos no sofá da pequena sala. A decoração estava bem longe de sofisticada, também não era rústica, era só...simples, vazia e sem graça.

— Ele e a namorada brigaram noite passada. Ele deve ter ido lá para se resolver.

— Marvin com namorada? Eu não esperava isso de alguém que está com o cérebro em formação ainda — brincou o corvo, maldoso.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora