Capítulo 40

4.5K 612 47
                                    

Corvo

O susto que abundou seu rosto me obrigou a acompanhar a direção do seu olhar.

— Aquela é sua irmã? — perguntei, interessado.

— Aham...

— Bonita. Bem bonita. Acho que eu deveria me apresentar.

— Damon... Não faça isso. Droga! Damon! Ulu!

Uma indiana, com cabelos que queriam se desprender da trança e espargir pelos ombros, transitava seus olhos pintados pelos turistas. O saree rosa era muito semelhante ao de Farah. As joias, feito sinos barulhentos, anunciavam a sua aproximação.

— Olá — falei, para atrair sua atenção. Ela olhou para os dois lados, garantindo que eu falava mesmo com ela. — Está procurando por alguém?

— Minha...Ah, já encontrei. Obrigada. — Partiu em direção a Farah e eu a segui. — O que está fazendo?

— A acompanhando até sua irmã — expliquei.

— Ah, claro. Como pude me esquecer. Você é o estrangeiro que agrediu meu pai em sua própria casa. Damon, não é?

— O prazer é todo meu — fui sínico.

— Arrogante e prepotente, sim. Este é o Damon — Farah fez as devidas apresentações quando nossa aproximação se tornou irrisória. — E este são os gêmeos, Marvin e Mathews.

A tal da Nayana não se deu ao trabalho em parecer educada.

— O que faz rodeada por homens!?

— Estão por todos os lados, não posso evitar — Farah debochou e foi muito difícil não rir. Se estávamos em uma competição de sei lá o quê, eu não podia compactuar com seus gracejos, por mais adoráveis que fossem.

— Como pude me esquecer. Você sempre adorou os brancos e os intocados.

— E você era a que adorava me dedurar. Contudo, não pude deixar de reparar que você estava a pouco com um cigarro entre os lábios — devolveu Farah.

Assumi um compromisso de não as interromper.

— Foi só um cigarro!

— E são apenas três adoráveis cavalheiros.

Nayana olhou para a terra em que pisava como se estivesse sobre lesmas e levou os olhos para mim em um descuido.

— Você sabe que ninguém ousa contrariar as ordens do papai. Ninguém além de você, a mais corajosa das irmãs — admitiu ela. — Eu não conto se você não contar.

Dei para aquela indiana um olhar em tons de neve. Se tudo que Farah me contara sobre suas irmãs fosse verdade, então aquela mulher perante nós era a mais dissimulada de todo o mundo. Como ousava julgar Farah por não seguir as regras do pai e cometer erros quase tão ruins quanto?

Havia um pedaço em mim que era tormenta, chuva ácida, e quando esse pedaço se rebelou, só me lembrava de com ele ter dito:

— Agora sei a quem Farah deve a hipocrisia.

Naya não revidou, já minha adorável indiana traiçoeira fez do seu olhar fagulhas em minha pele.    

— Papai me ligou, parece que há um indiano interessado em você — explicou Nayana.

Torci o nariz. Eu não me importava com a maior parte daquela saia justa cultural que viviam, exceto casamentos arranjados, esse, Deus, esse hábito arcaico eu abominava.

— Para quando será o encontro? — Farah perguntou.

— Baldi recebeu uma proposta e eles querem apresentá-la ao noivo durante o Ganesha Puja.

— Já fizeram nosso mapa astrológico?

O comentário penetrou em meus ouvidos como o zunido de uma abelha.

— Mapa...que mapa? — questionei, um pouco irreverente.

Apesar da tola pergunta, fui respondido por Farah. Matt e Marvin terminavam o sorvete em silêncio.

— Temos uma superstição aqui na Índia; acreditamos que os signos dos noivos devem combinar e a data do casamento também deve ser baseada na posição das estrelas.

Não consegui pensar em nada menos ofensivo que:

— Certo.

— Sim. Fizeram logo que a escolheram pelo anúncio. — Nayana respondeu depois.

Aquilo funcionou em mim como o choque de uma cotovelada.

— Por Deus, que anuncio? — inquiri. Na medida em que ela dizia, provocava algumas oposições na minha cabeça.

— O que veio fazer na Índia se não entende nada sobre nós!? — A irmã dissimulada foi dura.

— Cuidado em como fala. Damon está comigo. — As palavras de Farah aqueceram meus ouvidos e modelaram um bom sorriso em meus lábios. Ela me explicou em seguida: — Os noivos e noivas são anunciados em jornais. Os pais descrevem as diversas qualidades de seus filhos e o tipo de pretendente que querem para eles. Você pode escolher seu parceiro por casta, religião, grupo étnico, etc.

— Curioso — comentou Matt. Eu não teria me expressado melhor.

— Eu lamento, mas tenho que ir. — Farah disse para mim e para os gêmeos.

— O homem branco nos acompanhará até a saída? — Nayana se preocupou ao me ver ainda estático perto delas, enquanto os gêmeos já tinham encontrado algo mais interessante para se distraírem.

— Suponho que o homem branco seja eu.

As duas confirmaram.


Preparando vocês para o próximo capítulo 🤤

Preparando vocês para o próximo capítulo 🤤

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora