Apaixonada Por Um Smith

1- Sra Avilar

A minha vida é simplesmente uma merda que eu teimo em disfarçar com enfeites coloridos, querem saber a verdade? Não sou ninguém mas visto uma capa de super mulher, quão ridículo é isso? Não sei mas aprendi a viver assim e não consigo mudar. Vivo no Brasil há dois anos mas sou Portuguesa e fugi de casa porque o homem que se intitula como meu pai é simplesmente abominável. Felizmente eu tinha quem me abrisse os braços sem pedir algo em troca, Márcia, ela e a sua família acolheram-me sem me pedir algo em troca, ainda existem pessoas assim acreditam? Quando cheguei ela recebeu-me de coração cheio, como uma mãe, ela está sempre lá para conversar, para me dar concelhos, a mulher mais simples que conheço tem o poder de amar e perdoar, isso faz dela minha heroína. Cheguei envolvida num manto de silêncio, quanto saí do meu país deixei tudo de mim para trás na expectativa de começar do zero, como pude pensar isso? A nossa memória estará sempre connosco e fará com que nunca nos esqueçamos do bom e o mau que percorremos.

Fiquei na casa da Márcia por seis meses mas não queria atrapalhar, ela tinha filhos e netos a quem se dedicar por isso resolvi partilhar o apartamento com uma das minhas novas colegas de trabalho. Sim arranjei trabalho com facilidade porque o meu currículo embora curto tinha as melhores referências, escola privada, exelentes notas, estágio numa empresa internacional e dois anos como responsável de um projeto, escondi somente um fator decisivo, o meu sobrenome. Aqui no Brasil ninguém perde tempo em ligar para um país estrangeiro para confirmar as informações de um currículo como o meu. Tenho dinheiro mas prefiro viver como se não fosse filha de alguém com um certo poder, antes de tomar a decisão de partir para aqui vento acções, joias e artigos de marca de luxo,no meu carro inclusive, levantei todo o dinheiro da minha conta e fui embora. Há vários tipos de pais, o meu é egocêntrico e vive apenas para se satisfazer, a única pessoa que desconfio que tenha amado é ele próprio, nem por minha mãe ele sentiu carinho mas ela morreu a cinco anos e depois disso a nossa relação tornou-se uma guerra e descobri coisas que preferia não sonhar. Eu ganho menos do que o meu currículo vale, muito menos até e o meu carro é bem baixo mas sou feliz assim, acordo tidas as manhãs com o objectivo de dar o meu melhor e subir pelos meus próprios pés o que será difícil já que a empresa é extremamente exigente e um nada machista. Partilho o apartamento com
Alice,dela trabalha como rececionista na empresa e eu contruo sites para empresas mas o meu objetivo é gerir tudo desde o site que é a parte informática até os aparelhos que são geridos pela mesma, sou ambiciosa, sempre fui!

O apartamento é mais perto do trabalho que a casa de Márcia mas continuo a estar com ela e a família todos os fins de semana imperativamente. Alice vive nesse apartamento a seis anos e o irmão vivia com ela mas arranjoubtrabalho longe e teve de se mudar, ela não suportava as despesas e um dia no meio de ums conversa o convite surgiu, ela era a única para além de Márcia com quem partilhada quase tudo. Eu nunca fui mulher de impor regras a mim mesma mas evitava relacionamento com pessoas da empresa e tentará dar o meu ar de durona para não deixar que se aproximassem muito porque no fundo sou uma coração mole. Levanto-me uma hora antes de sair de casa para poder tomar o pequeno almoço e vestir-me sem pressões, as manhãs são iguais, eu a Alice apanhamos o autocarro juntas e chegamos ao trabalho cedo, normalmente somos as primeiras e entrar no edifício o que nos dá tempo para preparar o dia antes da confusão se instalar, a tarde é diferente por vezes uma de nós fica até mais tarde e a outra vai sozinha para preparar o jantar. Temos uma amizade forte, ela extrovertida como é acaba por me incentivar a falar, ao seu lado não dá para guardar muitos segredos mesmo que hajam alguns, gosto dela por ser o o posto de mim. Deixo-a na recepção e subo ao primeiro andar, caminho até a minha pequena secretária e vejo um papel colado no ecrã, a minha chefe pede que passe no seu escritório assim que chegue ela também fazia parte das pessoas que chegam cedo, ela tinha dois filhos então preferia vir antes da equipa e sair cedo. Bato de leve na sua porta que está entreaberta e ela tira os olhos do computador...

- Bom dia Luna (O nome que adotei quando cheguei).

- Bom dia Sra Avilar.

- Entra e fecha a porta por favor.

- Algum problema com o site que tenho em mãos?

- Não o assunto é outro, vai abrir uma vaga no departamento de marketing e eu quero dar o teu nome para esse posto.

- Eu adoro o meu trabalho, não está satisfeita comigo?

- Estou és uma das melhores e é por isso que quero que evoluas porque neste departamento será difícil.

- Eu não sei.

- Tens uma hora para pensar, o chefe do departamento de Marketing deve estar a chegar e não quero que possa ver outras pessoas. Para além do mais somos mulheres e se eu poderei elevar-te a outro patamar será uma vitória pessoal.

- Assim sendo faça o que achar melhor.

- Assim que tiver noticias falamos mas até lá peço que deixes o assunto entre nós.

- Sra Avilar muito obrigado por confiar em mim.

- Obrigado eu por fazeres parte da equipa.

Volto ao meu lugar tentando conter o sorriso, alguns dos meus colegas já tinham chegado e agora volto ao trabalho deixando de lado os pensamentos acerca de uma possível progressão de carreira porque sinceramente não me passa pela cabeça sair daqui. O site estava quase terminado e a hora de almoço chega, bloqueio o computador e desço até ao refeitório onde almoço com Alice todos os dias, só nós duas. Tento disfarçar mas a morena sentada na minha frente já me conhece bem melhor do que eu pensava

- Tens algo para me contar?

- Porque havia de ter?

- Porque eu sei quanto estás a disfarçar algo.

- Podemos falar disso em casa?

- Tem a ver com a empresa?

- Tem e é por isso que não é prudente falar aqui.

- Vou ficar a pensar nisso toda a tarde mas tudo bem, por falar nisso preciso de fazer uma fora de almoço menor porque tenho uma formação esta tarde.

- Tudo bem assim também subo e dou os últimos toques no site para o entregar ao cliente ainda hoje.

Saímos do refeitório e paramos perto da maquina de café antes de cada uma seguir para o seu posto, nessa altura vejo a minha chefe entrar no edifício com o director de Marketing e alguns outros responsáveis. Ela dá um leve sorriso quando me vê mas logo disfarça e continua a segui-los até ao elevador

- A tua chefe vai muito bem acompanhada, olha todos aqueles executivos gostosos.

- Tarada!