7 - Só sorrio quando necessário

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Alice acompanha-me no elevador, ela tem de tratar de alguma coisa no andar da administração e eu tomo o café antes de enfrentar novamente a equipa. Entro na sala com uma atitude atacante, não deixo que falem e imponho regras, elas são simples, não quero trabalhar para ganhar prémios, viagens ou regalias que isso nos traga, quero apenas satisfazer o cliente e que ganhemos respeito aos olhos da concorrência. Trabalhamos todos para o mesmo, entendi que o anterior chefe só comandava mas eu nunca pediria isso, quero ser parte integrante da equipa e trabalhar como qualquer um o que vai levar tempo a que percebam. Entro no meu gabinete um pouco mais aliviada e vejo Alice entrar...

— O que fazes aqui? - Ela tinha a bolsa na mão.

— Está na hora de ir para casa.

— Já? - Confiro as horas, passou dez minutos do expediente.

— Tu não olhas para o relógio?

— Vou terminar algumas coisas, leva o carro se quiseres.

— Tu vais mais tarde por isso fica tu com ele.

— Posso deixa-la em casa Alice. - Alonzo passa por ela e aproxima-se de mim, a minha amiga fica com vergonha, acho que nunca a vi reagir assim antes.

— Isso seria...

— Um erro! - Deixo escapar e a minha amiga fuzila-me com o olhar.

— Não seja tão implicativa Sra Albuquerque, como correu a reunião?

— Podemos falar disso depois? -Passo as mãos no cabelo que ato num coque desleixado.

— Foi péssima, conheço-a! - Ela responde a Alonzo e eu fico a ver os dois - Tens duas horas para chegar a casa, precisamos conversar.

— Vou tentar terminar isto se não se importam.

Quando os dois saem confesso que não consigo fazer mais nada, a minha mente está longe, não quero comandar uma equipa porque não me quero tornar naquilo que o meu pai se tornou. Tapo a cara e respiro fundo, tento não chorar, por vezes isto acontece o passado traz-me lembranças, elas veem num remoinho e fico abatida

— Está Tudo bem? - A sua voz enche a sala e elevo o olhar para o ver parado na porta.

— Desculpe foi apenas um dia difícil.

— Procuro o Alonzo.

— Ele já saiu posso ajuda-lo? - Kevin pousa as mãos na cadeira á minha frente, a gravata estava desmanchada e o primeiro botão da camisa aberto.

— Não, mas aproveito para saber como correu a reunião desta tarde?

— O senhor quer realmente saber? - Porque lhe interessa algo que lhe é insignificante?

— Estou a perguntar não estou? - Engole esta Luna, afinal quem é o chefe aqui?

— Gostaria de ser como o senhor, ter todo esse tamanho intimida as pessoas e torna tudo mais fácil por aqui, eu não consigo me impor na verdade nem gosto disso. Pressionar e ordenar faz as pessoas fugirem.

— Parece saber do que fala. - volto a soltar o cabelo e saio da cadeira.

— Acho que por hoje chega de trabalhar. - Começo a arrumar as minhas coisas.

— Sra Albuquerque não é o meu tamanho que impõe respeito mas sim a minha persistência, quando eu quero alguma coisa vou até ao fim e todos sabem disso.

— Disso eu sou capaz Sr Smith. - Ir até ao fim, fiz isso não fiz? Fuji do meu pai.

— Vou descer, acompanha-me?

Desta vez descemos juntos até a garagem, ele estranha mas não diz nada, facilmente resolve o enigma visto que os únicos carros na garagem são os nossos...

— Sábia decisão, as ruas estão cada vez mais perigosas.

— Nunca se sabe quem para do nosso lado para oferecer boleia. - Paro e olho para ele que saltou o cabelo, realmente fora da empresa parece outro, se eu fosse a noiva dele mandava colocar um chip no homem, é lindo demais.

— Nunca se sabe quem entra no nosso carro. - Ele finalmente sorri e eu fico atordoada com tamanha beleza.

— Só sorri fora da empresa?

— Só sorrio quando vale a pena, tenha uma boa noite. - O seu telemóvel toca e ele olha para o ecrã do aparelho.

Ele atende a chamada e entra no carro, eu faço o mesmo e vou para o meu apartamento, quero saber o que Alice quer falar comigo e o que se passou entre ela e Alonzo na viagem. Assim que entro em casa e percebo que canta enquanto mexe nos tachos, fico com certezas que ela e o meu chefe se deram bem, é fácil cair em graça com ele mas a ultima coisa que quero é ver Alice magoada ainda por cima com alguém que trabalho no mesmo sítio que nós, seria difícil enfrentar um desgosto e dar de caras com ele todos os dias. Espero que ela entenda isso! Passei todo o jantar a meter juízo na cabeça da morena mas eu sei que é em vão, os dois são de ideias fixas o que vai certamente sobrar para mim já que trabalho com um e vivo cm outro. Uma semana depois e finalmente tudo parece andar sobre rodas, alguns membros da equipa continuam de pé atrás enquanto outros começam a perceber as minhas intenções e aceitam mais facilmente incluir-me nas suas perspetivas. O problema agora era o cliente que cismou em alterar algumas das suas escolhas, tinha pedido a Alonzo para marcar reunião com o mesmo mas ele não aceitava deslocar-se e teria de ser eu a ir ao seu encontro, por motivos de agenda foi Raphael que me acompanhou, sempre era melhor do que o Sr Wilson que me odiava. No final da reunião entramos no carro para regressar a empresa.

— Correu tudo bem, tu até conseguiste alterar a entrega do trabalho para quatro meses mais tarde.

— Na verdade, só precisávamos de dois, mas estava farta das suas tentativas para me fazer jantar com ele. - O homem era tão persistente que faltava pouco para desistir do projeto só para não o ouvir mais.

— Por falar em jantar gostaria que saísses comigo no sábado, é o meu aniversário.

— Passo! - Não somos nem amigos.

— Por quê?

— Porque não saio com...

— Já sei, mas só estará lá o meu irmão e Alonzo o resto é família e amigos. - Uma festa repleta de chefes seria lindo de se ver.

— Ainda pior.

— Podias trazer a Alice, sei que ela e Alonzo estão próximos. - tão próximos que desconfio já terem dormido juntos, contudo ela nega.

— Cada vez pioras mais a situação. - Ele continua a tentar e a lançar o seu charme.

— Por favor que outra oportunidade vai ter de me ver sem fato e gravata?

Idiota!

Apaixonada Por Um SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora