10 - Reclamação

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A garrafa já está vazia, mas Kevin não parece estar com vontade de ir embora, o relógio marcava duas da manhã e algumas velas já estavam apagadas, faz algum tempo que estamos calados, mas pela respiração sei que está acordado a aproveitar esta paz tal como eu

— Estás com vontade me por na rua? - Coloco um novo álbum de música relaxante a tocar.

— Não, podes continuar aí a relaxar como tens feito, eu só não prometo ficar acordada por muito tempo. - ambos estamos encostados no sofá, cada um com os seus pensamentos, mas confesso que estou com sono.

— Não te preocupes se adormeceres, eu meto-te na cama.

— Claro, é o quarto com uma lua na porta. - ele ri baixo.

Eu avisei, o sono venceu e adormeci no sofá, abro os olhos com a claridade e vejo que estou no meu quarto, rio com o sucedido, eu estava a brincar, imagino o grande chefe trazer-me até aqui, ele realmente fez isso! Revejo a noite de ontem, a nossa conversa e o quanto me sinto bem a falar com ele. Levanto e passo no quarto de Alice que ainda está vazio, vou direta a cozinha e como sozinha, é estranho não ter a tagarela da minha amiga na casa e para piorar isso ela não aparece domingo em casa, chegamos a trocar mensagens, mas ela parece estar nas nuvens. Não posso dizer o porquê mas acordo de mau-humor, não há motivos, mas tem dias assim e nesses dias consigo ser bem desagradável. Estaciono na empresa antes de todos e vou para o meu escritório pronta a ler todos os emails em atraso, pelo canto do olho avisto os meus chefes chegarem e irem cada um para a sua sala, o Sr Matias bem que pode fugir porque não perde pela demora. A meio da tarde recebo uma chamada para subir ao andar da presidência, muito longe de imaginar o que se passa.

— Alice sabes porque é que fui chamada?

— O Sr Wilson acabou de sair daqui, talvez tenha a ver com isso, Raphael espera por ti.

— Temos de falar senhorita. - bato com as unhas na sua mesa e ela passa as mãos no cabelo.

— Amanhã porque a tua cara não está nada boa.

A porta de Raphael estava aberta, mesmo assim bato na mesma para anunciar a minha chegada.

— Boa tarde, Sra Albuquerque. - Ele nem olha e sabe que sou eu.

— Temos problemas no departamento de 'Marketing'? - vou até a cadeira na sua frente.

— Parece que sim, sente-se. - Ele ironiza já que me sentei sem pedir.

— O que foi? O cliente reclamou?

— Não, foram apenas alguns membros da equipa.

— Eles reclamaram? - Engulo em seco, estou em apuros, agora os RH já devem estar a redigir a minha demissão.

— Pedem transferência de equipa, não concordam com as tuas ideias.

— Sr Smith eu lamento, mas, na verdade, são eles que não me dão o benefício da dúvida.

— Tenho de tomar medidas, tem alguma ideia?

— Acho que deverá falar com todos os membros das duas equipas e deixar que cada um escolha o projeto que quer integrar. - E se ninguém quiser trabalhar comigo?

— É uma ideia interessante, vou falar com o meu irmão quanto a isso.

— Já agora gostaria de saber porque o Sr Wilson não falou comigo antes de vir aqui.

— Quanto a isso, fica tranquila, eu mesmo o alertei quanto a isso, ele precisa falar consigo e Alonzo antes de vir aqui. - Ele não estava chateado comigo e eu entendo que está apenas a fazer o seu trabalho.

— Posso ir então?

— Não!

Ele caminha até a porta e tranca a mesma, fica encostado a ela de mãos nos bolsos...

— Eu fiz alguma coisa que não devia? - Ele pergunta um tanto ou nada triste.

— Por que essa pergunta idiota?

— Na festa estavas estranha, não quiseste sair comigo e ainda chegas com essa cara hoje.

— Juro que não é nada do que possas imaginar, tenho tido muito trabalho e hoje acordei de mau-humor, mas é só isso. - a última coisa que precisava hoje era enfrentar uma crise de Raphael.

— Muita gracinha aqueles presentes.

— Qual deles? - Finjo não perceber a que se refere.

— Adorei a máscara de palhaço. - Sim, eu havia feito isso, comprei um fato completo de carnaval somente para me divertir.

— Acho que é uma boa maneira de vires trabalhar para não ser sempre fato e gravata.

— Sem comentários, mas quanto ao casaco de pele eu adorei.

— Achei que era a tua cara. - Comprara um casaco estilo aviador.

— Luna gostaria que aceitasses sair comigo para termos uma conversa séria.

— Tudo bem, mas não hoje.

— Acho melhor ires para casa, eu mesmo aviso que te dispensei. Se te cruzares com o Wilson vais acabar por ter problemas.

Levanto-me, vou na sua direção e abraço-o, ele tem razão em tudo, hoje o melhor é ficar trancada no meu quarto sem ver ninguém. Nem eu mesma conheço-me, acho que passo uma fase confusa e para piorar Alice está na sua névoa romântica e eu sem ninguém, faz um ano que não tenho ninguém e Raphael está ali de braços abertos. Levanto da cama, tomo um bom duche e olho o espelho, penso para mim mesma que esta crise  mental acaba agora mesmo, faço um bom jantar, saio rápido para comprar algum vinho e um presente. Espero Alice, afinal foi o seu primeiro dia no andar da administração, ouço a porta abrir e corro para a receber com um enorme bouquet...

— Como foi o primeiro dia? - Não precisava perguntar, estava estampada na cara dela a felicidade, o eu não tive a mesma sorte.

— Como esperava, ótimo e tu? Parecias muito em baixo esta manhã.

— Já passou, agora conta-me tudo. - Ela fecha a porta e segue-me, enquanto termino a salada ela abre o vinho e serve dois copos.

— Desculpa pelo fim de semana, Alonzo trancou-me no seu apartamento para uma maratona de sexo.

— Não quero nem ouvir pormenores, ele é meu chefe. Agora diz-me achas que é sério esse relacionamento?

— Parece que sim, mas no início tudo é maravilhoso. - Ela tem razão, talvez seja melhor deixar andar já que não há como retroceder, então que aproveite.

— Espero realmente que sim, agora vamos jantar.

Apaixonada Por Um SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora