Capítulo 6

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O Sol finalmente nasceu após aquela madrugada terrível. Luísa viu os raios invadirem a janela do consultório médico, enquanto ele orientava como seria o tratamento de Olívia.

— Se vocês quiserem já podem ir visitar a menina. Ela acabou de sair do CTI e está no quarto, quando ela acordar vai querer ver alguém, então é bom que estejam lá. – Explicou o médico e Luísa assentiu já se levantando para dirigir-se ao quarto. – Dona Luísa, te aconselho a correr atrás do doador o mais rápido que poder. Se não conseguir falar com o pai da menina, procure alguém que tenha sangue O-.

Luísa apenas assentiu e se dirigiu ao quarto, estava ansiosa para ver a filha depois do que aconteceu. Assim que chegaram até o quarto o médico a encorajou para que ela entrasse e logo depois ele iria. Luísa havia adquirido um certo pavor de hospitais após a morte dos seus pais. Definitivamente hospitais não lhe traziam boas lembranças, por isso assim que abriu a porta e viu a filha, se estremeceu.

Olívia ainda estava dormindo, mas seu rostinho estava diferente. Estava um pouco pálida, sua boca que era tão avermelhada, mal tinha cor. Seu semblante porém, era calmo e sereno. Luísa se aproximou, encostou seu corpo na cama e acariciou o rosto da filha, as lágrimas simultaneamente desceram de seu rosto.  Logo após se afastou e segurou uma de suas mãozinhas que continham um acesso venoso onde ela tomava alguns remédios e soro.

— Que susto você me deu pequena... Promete pra mamãe que não vai mais me dar um susto desse? Eu só quero que você saiba que eu me arrependo muito por todas as vezes que enquanto você me deu amor eu não fui capaz de retribuir... Você não imagina o quão especial você é meu amor, você dá as coisas sem querer receber nada em troca, tão generosa...

Luísa tremeu um pouco devido o nervoso e voltou a conversar com a filha, que até então não escutava nada.

— Me perdoa... Eu errei muito em não ter te dado carinho, atenção, amor... Você não merecia isso, só nesses dois dias que estive mais próxima de você eu pude perceber o quanto você é uma criança maravilhosa. Por favor, melhora meu amor, fica bem... Eu prometo pra você que agora tudo vai ser diferente, eu não quero mais te ver triste, não quero mais que você sofra.

Luísa falava com Olívia com o pensamento de que ela pudesse ouvir tudo. Segurando suas mãozinhas sempre. Lágrimas rolavam pelo seu rosto sem parar.

— Sabe, quando eu descobri que você estava dentro de mim eu fiquei tão feliz, mas tão feliz. Eu achei que iria ser a mãe que a sua avó Isadora foi pra mim, mas eu falhei. Eu só espero filha, que um dia você possa me perdoar por tudo. Eu não deixei o amor tomar conta de mim, sempre bloqueava ele por pura burrice minha, desculpa... – Seu coração de gelo já começara a derreter de amor.  Naquele instante Olívia abriu os olhos.

— Mamãe? – Deu um meio sorriso, pois parecia um pouco fraca.

— Filha... – Abraçou ela apertado. – Nunca mais me dê esse susto. Você quase me matou do coração meu amor... – Luísa disse tentando secar as lágrimas.

— Mas por um lado isso foi bom mamãe. Você tá tão carinhosa comigo, me chamando de filha, amor. Eu nunca vi você me chamando assim, e sabe... Eu fico tão feliz, era tudo que eu mais queria.

Depois que Olívia disse aquilo, Luísa levou as mãos no rosto e começou a chorar muito. Como o arrependimento doía. Sua filha precisava de coisas tão simples para ser feliz, e ela não proporcionou isso a ela.

— Não chora mamãe... Por favor.

— Me perdoa filha, perdoa a mamãe...

— Mamãe, eu não tenho o que perdoar.

— Como assim?

— Eu já fiquei triste várias vezes, mas olha já passou... Eu amo muito você e sei que é só o seu jeitinho, cada um tem o seu mamãe. Você é séria e eu sou brincalhona, é assim mesmo. Eu te amo mamãe, e quem ama de verdade, ama as pessoas do jeitinho que elas são...

Olívia fazia carinho no rosto de Luísa,tentando limpar as lágrimas que não paravam de cair. Sua voz soava fraquinha, quase que num sussurro por conta do cansaço e fraqueza.

— Você não pode amar os erros das pessoas meu amor. E a mamãe errou, errou muito. Mas eu quero me redimir e recuperar o tempo perdido com você. Só quero que você saiba que eu... Eu amo muito você, eu tenho orgulho de você. Pela sua maturidade, pela sua generosidade. Você ama as pessoas sem querer nada em troca, você tão pequenina me deu uma valiosa lição.

— Sério mesmo que você tem orgulho de mim mamãe? Você não sente vergonha?

— Por que diz isso Olívia?

— Porque no restaurante você disse pro moço bonito que não era minha mãe. – Nesse momento, Olívia abaixou o olhar e Luísa notou sua tristeza.

— Olívia, eu sinto muito por ter falado aquilo, foi sem pensar. Me perdoa por todas as coisas que eu te disse ontem e todos os outros dias, nada daquilo é verdade. Na hora da raiva a gente fala muitas coisas ruins filha.

— Então você não vai contratar uma babá pra ficar comigo nas férias? Você vai ficar comigo mamãe?

— Com toda certeza meu amor. – Luísa disse sorrindo fazendo Olívia sorrir também.

— Mamãe, eu tô me sentindo cansada, vou dormir de novo.

— Você está com alguma dor Olívia? Se tiver pode falar.

— Não, só estou cansada mesmo...

Depois disso Olívia pegou no sono novamente. Luísa depositou mais alguns beijos na garotinha e resolveu que era a hora de ir atrás de Marcelo. Respirou fundo e saiu do quarto. Pediu para que uma enfermeira ali presente tomasse conta de Olívia e se dirigiu ao estacionamento.

Dentro do carro, Luísa pensou onde poderia achá-lo, não tinha seu número. Olhou no relógio do carro e viu que eram 7:30 da manhã.

— Onde posso te encontrar Marcelo? – Respirou fundo. Como o destino prega peça nas pessoas. Hoje era Luísa que estava indo atrás de Marcelo.

∞∞ Não muito distante dali ∞∞

Marcelo havia acabado de acordar, o dia anterior tinha sido difícil, o que resultou em seu mau humor.   Sentou-se na mesa para tomar seu café, mas não estava conseguindo comer direito pensando em Luísa e naquela linda garotinha. Depois que tomou seu café, procurou por sua mãe, mas a mesma já estava na galeria de artes. Sentou-se no sofá e pegou o controle a fim de achar alguma coisa para assistir. Estava sem nenhum cliente então acabou ficando atoa. A campainha tocou e Marcelo se assustou, pois Glória geralmente não recebia muitas visitas em sua casa, as pessoas sempre a procuravam na galeria. Levantou-se quando a campainha tocou novamente e foi em direção a porta, tomou um belo de um susto ao ver de quem se tratava.

— Precisamos conversar. – Luísa disse entrando no apartamento.

O Amor Faz - LuceloOnde histórias criam vida. Descubra agora