Capítulo 5

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Anoiteceu. Luísa se levantou do chão um pouco desnorteada, por um momento esqueceu o que havia acontecido. Olhou-se no grande espelho que ficava em seu escritório e arrumou os cabelos que estavam bagunçados, também não pôde deixar de notar seus olhos inchados, provavelmente porque havia chorado muito e dormido logo após. Saiu do escritório e foi em direção a cozinha a fim de comer alguma coisa. Sentou-se no balcão e comeu um sanduíche com um copo de suco de laranja, não estava nem um pouco a fim de jantar. Olhou no celular e viu que já passava das 19 horas, então resolveu subir para o seu quarto.

Luísa passou pelo quarto de Olívia no corredor, mas estava tão acostumada em ter Nancy para cuidar da filha que esqueceu completamente da menina. Inclusive, esqueceu que a menina não saiu do quarto desde a hora em que chegaram e consequentemente não havia comido nada. Tomou um banho, vestiu seu pijama, escovou seus dentes e como estava sem sono, resolveu assistir um filme para distrair, porém não conseguia se concentrar pensando em Marcelo.

Ela nunca poderia imaginar que vê-lo depois de tantos anos iria mexer tanto com seus sentimentos. Afinal, ela o odiava não era? As horas foram passando, já passava de 2:30 da manhã e Luísa não conseguiu pregar o olho, talvez porque havia dormido a tarde inteira e seus pensamentos a torturavam bastante. Luísa pensou em várias  formas de como contornar aquela situação, ela não queria que Marcelo soubesse que Olívia era filha deles de maneira alguma.

Luísa foi tirada de seus pensamentos quando ouviu um grito de dor vindo do quarto de Olívia. Estremeceu ao lembrar que Nancy não estava em casa. Somente ela e a filha. Lembrou que havia esquecido completamente da menina e saiu correndo em direção ao quarto da filha após ouvir mais um grito. Abriu a porta rapidamente e teve a impressão de seu coração se despedaçar completamente ao se deparar com aquela cena.

Olívia estava sentada na cama com as duas mãozinhas na barriga, vomitando muito e gemendo de dor. Luísa não pensou em mais nada, correu até a onde a filha estava sem se importar com a sujeira que estava no chão e em sua roupa, que ainda era a mesma que ela estava de manhã. Pegou a filha a trazendo para seus braços. Colocou a mão em sua testa e se assustou ao ver que a menina estava muito quente.

— Olívia, olha aqui pra mim. Onde está doendo? Na sua barriga? – Disse colocando as mãos na barriguinha da filha tentando massageá-la, mas a menina gemeu de dor novamente. – Fala comigo. Olha pra mim. – Luísa segurou seu rosto para ver se a menina falava alguma coisa.

No entanto, Olívia estava desnorteada, a dor que estava sentindo era muito forte, a febre estava alta. Olívia tentou responder sua mãe, mas não conseguiu, só viu tudo ficar escuro até perder a consciência.

— Nãoooooo. Acorda. Olívia, filha, acorda por favor. – Luísa gritou desesperada sacudindo a filha e dando leves tapinhas em seu rosto.

Luisa já estava desesperada, não tinha ninguém em casa pra ajudá-la. Olívia despertou do desmaio. O que fez Luísa respirar aliviada.

— Mamãe, eu tô sentindo muita dor... – Olívia finalmente conseguiu falar em meio a gemidos.

— Olha aqui pra mamãe filha. Fica calma tá bom? Eu vou te levar para o hospital, mas vamos tomar um banho pra tirar essa sujeira e abaixar essa febre está bem? – Luísa a pegou no colo indo em direção ao banheiro de Olívia.

Sentou a filha no mármore da pia e tirou toda a sua roupa. Ligou o chuveiro na água gelada, sabendo que Olívia iria sofrer com aquilo, mas era para o seu bem.  Pegou a menina no colo novamente e tentou coloca lá em pé no box, mas Olívia estremeceu ao sentir a temperatura gelada da água.

— Não, por favor. Tá frio mamãe. – Olivia soluçava muito, seu rostinho estava marcado pelas lágrimas e os vasos sanguíneos estavam bem visíveis.

— Eu entro com você. Calma minha pequena. – Luísa pegou Olívia no colo, que entrelaçou as pernas no corpo da mãe, e entrou no chuveiro junto com a filha agarrada em seu pescoço, deixando a água gelada cair sobre as duas. Olívia a apertava forte e tremia muito de frio.

Naquele momento, não existiu nada que impedisse Luísa de cuidar da filha. O amor de mãe venceu, o seu desespero e medo de perdê-la era enorme. Ali nem de longe era aquela mulher amarga, e sim uma mãe que amava sua filha. Foi ali debaixo daquele chuveiro que Luísa percebeu que errou muito em ter desprezado o seu maior tesouro durante todos esses anos. Afinal, Olívia não tinha culpa de nada, não pediu para vir ao mundo. Foi ali que Luísa percebeu que amava aquela criança incondicionalmente, o amor de mãe existia sim dentro dela, mas ela nunca permitiu senti-lo.

Assim que desligou o chuveiro, Luísa vestiu rapidamente uma roupa em Olívia e correu para se vestir também.  Foi tudo muito rápido, Luisa não tinha a mínima condição de dirigir, mas jamais iria deixar a filha passando mal em casa. Então levou Olívia pro seu quarto e começou a se vestir, colocou uma blusa de seda, um casaco e uma calça preta.  Pegou Olívia da cama e a colocou no banco de trás do carro, partindo pro hospital. Luísa foi agarrada com a filha em todo o trajeto. Chegando ao hospital, entraram direto na emergência, pois Olívia havia vomitado novamente um pouco antes de chegar.

Luísa chorava muito, o medo de perder sua filha sem ao menos ter tido a chance de conviver com ela direito estava muito grande. Ela estava disposta a recuperar todo o tempo perdido. Luísa teve que deixar os médicos levarem a garotinha e ela não pôde entrar junto, o que a fez se desesperar ainda mais. Luisa estava completamente sem chão, não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo lá dentro, até um médico vir em direção a ela.

— Você é família de Olívia D'avila? – Perguntou lendo o prontuário.

— Sim sou. Cadê minha filha? Eu preciso vê-la. – Luísa disse com a voz num tom preocupado.

— Espere dona Luísa, nós precisamos conversar. Olívia está dormindo, nós tivemos que sedá-la para conter uma hemorragia interna.

— Hemo... Hemorragia? Como assim doutor? – Luísa perguntou sentindo seu coração falhar. – Vamos até minha sala que vou conversar com vocês e explicar o quadro da menina.

— Mas que quadro doutor? Como assim? Minha filha é saudável, ela nunca fica doente. Ela estava bem hoje, brincando. Só pode estar havendo um engano. – Luísa disse tentando explicar, ela não conseguia aceitar o fato de Olívia estar doente.

— Me acompanha. – Disse o doutor e assim que se acomodaram na sala, ele começou a explicar. – Depois que entramos com a criança na emergência, pensamos que fosse apenas uma intoxicação alimentar a princípio. Mas aí a criança começou a vomitar sangue, muito por sinal. Fizemos alguns exames e detectamos uma Úlcera gástrica com o tamanho já avançado. Olívia perdeu muito sangue durante a pequena cirurgia que fizemos tentando conter a hemorragia. Já fizemos uma transfusão, mas creio que ela precisará de mais uma. Porém, o tipo sanguíneo dela é bem difícil e não temos mais no banco de sangue do hospital. Então você ou o pai da criança terão que ser os doadores.

Cada palavra do médico era uma facada no coração de Luísa. Uma úlcera? Ela não entendia, Olívia sempre aparentou ser disposta, não apresentava sintomas e ela cuidava da alimentação da menina para que fosse o mais saudável possível. Por mais que Luísa não fosse próxima da filha, ela sempre teve o cuidado de acompanhar sua saúde, por isso tinha certeza daquelas coisas. Até tentou explicar tudo isso ao médico, mas o mesmo disse que tem coisas que não tem como explicar o porque surgem, e que provavelmente teria sido uma bactéria.

Luísa fez o teste para saber se seu sangue era compatível com o da filha, mas para a sua tristeza não era. Olívia tinha o tipo sanguíneo de Marcelo. Naquele momento Luísa não pensou duas vezes, ela teria que conversar com Marcelo e contar a verdade, afinal era a vida de sua filha que estava em jogo. E não existia orgulho ou rancor no mundo que fosse mais importante do que Olívia naquele momento. Depois ela pensaria no que poderia fazer, mas naquele momento só a filha importava.

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