Capítulo 7

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Marcelo estava atordoado, sem entender o que Luísa estava fazendo ali e o porque do nada ela resolveu querer conversar com ele se ela sempre fugia disso. Engoliu seco e sentou-se ao lado de Luísa no sofá após fechar a porta.

— Pode falar Lu.

— Marcelo... Eu... Eu não sei nem por onde começar. – Luísa começou já secando as lágrimas que insistiam em rolar pelo seu rosto. Ela estava realmente muito sensível por conta do ocorrido.

— Você está me deixando nervoso.

— Eu só quero que você saiba que tudo o que eu fiz foi para me poupar de mais sofrimento. O que você fez comigo não tem perdão Marcelo.

Marcelo se levantou já agoniado, levar a culpa de uma coisa que ele não fez o deixava sem chão.

— Luísa por Deus. – Ajoelhou-se na frente dela e segurou suas duas mãos que estavam gélidas. – Eu não te trai, eu fui enganado, quando você vai acreditar em mim?

— Olha Marcelo, eu não vim aqui para discutir isso, não vem ao caso. E isso já não importa mais também.

Marcelo não entendeu muito bem o que ela quis dizer, por um momento passou pela sua cabeça que era aquilo que Luísa queria resolver com ele. Luísa olhou no fundo dos olhos de Marcelo e os dois se encararam por alguns segundos em silêncio, até que Luísa tomou coragem de uma vez e falou.

— Olívia é minha filha.

— Sua filha? Você tem uma filha? E porque não falou a verdade ontem? – Marcelo engoliu seco, imaginou Luísa com outro homem logo após ele ter ido embora, a contar pela idade da criança. Luísa respirou fundo e continuou.

— Naquele dia que eu peguei você e Débora se beijando, eu estava indo te dar uma notícia. O coração de Marcelo acelerou, se é que isso era possível, pois já estava quase saindo pela boca desde a hora que Luísa chegou.

— Que... Que notícia Luísa? Você tá me assustando. Fala logo de uma vez.

— Eu tinha acabado de receber o resultado do exame de sangue que havia feito. E tinha dado positivo. Eu estava grávida.

Marcelo se levantou e começou a andar de um lado para o outro, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Você está querendo me dizer que...

— Olívia é sua filha também. – Luísa finalmente conseguiu dizer o que estava lhe sufocando.

— Não... Não pode ser Luísa. Você não fez isso. Não fez... – Marcelo tentava negar, torcendo para que aquilo fosse um sonho.

— Marcelo, você não tinha mais o direito de saber da existência da criança depois do que você fez. – Luísa disparou já se alterando.

— O quê? Você é que não tinha o direito de esconder minha filha de mim. Você me tirou o direito de ser pai. Ela também é minha filha! – Marcelo elevou a voz e Luísa se encolheu assustada. Ele sentou no sofá e começou a chorar. Aquilo fez Luísa se surpreender, ela não esperava essa reação. – Você me tirou o direito de ser um pai pra ela Luísa. Não me deixou vê-la nascer, não me deixou sentir a emoção de ter um pedacinho meu e seu. Você não me deixou amá-la, protegê-la. Eu queria poder ver ela andar, falar as primeiras palavras. Mas você me tirou isso Luísa, você é uma egoísta que quer tudo pra si. Você não pensou na sua própria filha crescer sem ter um pai.

Cada palavra de Marcelo perfurava o coração de Luísa.

— Mas pelo que eu me lembre não foi eu quem... – Disse Luísa tentando se defender mas foi interrompida por Marcelo.

— É sério que você vai me falar isso? Eu fui até o inferno atrás de você, mas até segurança você contratou para me barrar. Você não imagina o quanto eu sofri, o quanto eu passei noites acordado chorando desesperado sem saber o que fazer para te ter de volta. Você não sabe o quanto me doeu perder a mulher que eu amava por uma coisa que eu não havia feito. Eu fui embora e continuei tentando manter contato com você quando soube que você estava no exterior. Mas chega uma hora Luísa, que as pessoas cansam, queria que eu passasse quanto tempo correndo atrás de você? Você não me deu uma chance de explicar nada, nunca me ouviu. Eu fiz de tudo Luísa e disso eu não sinto culpa alguma, porque foi você que não se permitiu ouvir ninguém.

Luísa não conseguiu falar mais nada, apenas se levantou e procurou um banheiro para lavar o rosto e tentar se recompor. Agora precisava conversar com Marcelo sobre o caso de Olívia. Marcelo observou Luísa voltar do banheiro, prestou atenção em seu rosto. Era de dar dó. Olheiras profundas, olhos inchados e vermelhos, parecia estar sofrendo muito por alguma coisa. Mas como sempre, não deixou de lado as roupas de marca, sempre assim, tentando se passar por a mulher perfeita que não tem problemas. Marcelo enxergava que ela estava com a face completamente acabada a vista do que era, mas ainda assim era a mulher mais linda que ele havia conhecido em toda a sua vida.

— Marcelo, eu preciso da sua ajuda. – Luísa se aproximou sentando-se no sofá ao lado de Marcelo.

— Dependendo do que for, se estiver ao meu alcance eu ajudo. Pode falar Luísa.

— Olívia passou mal ontem a noite. – Luísa começou a chorar novamente.

— Calma. – Marcelo segurou sua mão. – Me conta o que aconteceu.

— Ela passou mal, vomitou muito, teve febre alta. Quando chegou no hospital, fizeram uma cirurgia para conter uma hemorragia porque ela começou a cuspir muito sangue... Ela perdeu muito sangue, e precisou de uma transfusão, mas vai precisar de outra. No banco de sangue do hospital não tem mais o tipo sanguíneo dela. Eu fiz o teste mas o meu não é compatível, então queria saber de você poderia...

— Com toda a certeza eu vou doar sim. É a minha filha. Mas poxa Luísa, você não imagina a dor que estou sentindo aqui dentro. Eu sempre quis ser pai, você me escondeu ela. E pelo visto, se ela não tivesse ficado doente não iria saber tão cedo... Mas a verdade sempre aparece.

— Obrigada por ajudar. – Luísa agradeceu. – Agora já vou indo, preciso voltar para o hospital.

— Luísa. O que a Olívia tem? Já deram algum diagnóstico? – Perguntou Marcelo preocupado.

— Descobriram uma Úlcera no estômago dela, num tamanho já avançado. E antes que você me olhe com essa cara Marcelo, sempre cuidei da alimentação e da saúde dela. Ela sempre me pareceu ser uma criança disposta, agitada e nunca aparentou nenhum sintoma, até ontem.

— Vou me arrumar e vou para o hospital também. – Marcelo disse subindo as escadas e logo em seguida Luísa saiu também.

Marcelo estava triste demais, toda a vontade que tinha de ficar com Luísa havia ido embora pelo ralo naquele momento. Era difícil saber que tinha uma filha depois de 7 anos. De repente uma vontade avassaladora de ter Olívia só pra si invadiu seu coração.

— Eu poderia muito bem entrar na justiça e pegar a guarda dela pra mim. Ela não foi egoísta de querer minha filha só para ela? Eu também tenho esse direito. – Disse olhando seu reflexo no espelho do banheiro.

O Amor Faz - LuceloOnde histórias criam vida. Descubra agora