Conversas

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A porta do restaurante foi aberta e por ela, o ômega passou, sendo alvo de inúmeros olhares, que apenas o fizeram se encolher e querer sair correndo. Contudo, respirou fundo, repetindo mentalmente que seu pai estava o esperando, como se aquilo fosse o dar forças para continuar.

Varreu o lugar com seus olhos em busca do alfa, deixando um suspiro de alívio escapar ao que o encontrou em uma mesa mais afastada com vista para a janela, não demorando em se aproximar. Joon estava distraído com seu café quando notou a presença do ômega e sorriu.

Ele e Zitao haviam concordado que era hora do menor começar a se locomover sozinho, e aos poucos Tao memorizava as ruas da cidade, já sendo capaz de ir até a delegacia, ao restaurante e até ao hospital, de onde acabava de voltar.

— Como foi? — o alfa perguntou ao que ambos se sentaram na mesa.

— Bem! — Tao disse baixo. Abriu a boca para continuar, mas se deteve. Suspirou, raspando a garganta ao que se lembrou do psiquiatra lhe aconselhando a se esforçar mais. — Ele... — começou, incerto se deveria prosseguir, mas ao ter o olhar do pai em si, lhe encorajando, resolveu tentar. — Ele disse que deveríamos focar na minha fala, para eu conseguir interagir mais. — explicou.

— Isso é muito bom! — Joon sorriu orgulhoso. — Está com fome? — recebeu um "sim" em resposta. — Vou fazer nossos pedidos. — falou, se levantando e seguindo até o balcão do restaurante.

Na semana anterior, Kyungsoo havia o explicado que por mais que quisesse se lembrar, não era assim que funcionava, e que levariam algum tempo até as primeiras memórias do ômega voltarem. Óbvio que Tao se sentiu agoniado com isso, mas o doutor disse que a sua força de vontade já era um grande passo para o tratamento. No entanto, o D.O sugeriu que trabalhassem com outras coisas como a fala e a postura do menor, visando uma melhor interação para com outros.

Era a segunda consulta que tivera desde que decidiu pedir a ajuda do psiquiatra, e durante aquela semana, Tao realmente se empenhou em socializar mais, especialmente com seu pai. Mesmo que ainda não conseguisse manter um diálogo extenso com o mais velho, se esforçava para dar respostas maiores do que um "sim" ou "não", e percebia como aquilo deixava o alfa feliz, e de quebra, o deixava contente também.

A atenção do ômega se voltou para a porta do restaurante ao que escutou o pequeno sininho tocar, alertando a entrada de alguém. Quase como um ímã, seus olhos se cruzaram com os olhos vermelhos do alfa que acabava de entrar no local, segurando a mão da filha que estava vestida com o uniforme da escola. O sorriso discreto que surgiu na face do lúpus o deixou levemente desconcertado.

— Yifan! — escutou a voz de seu pai. — Como vai?

— Bom dia, Joon! — respondeu. — Bem e você?

— Estou bem! — sorriu. — Querem almoçar conosco? — perguntou.

Zitao arregalou os olhos ao escutar a proposta, sentindo suas bochechas esquentarem e virando o rosto para a janela, torcendo para que Yifan negasse. A proximidade do lúpus o deixava nervoso, não de um jeito ruim, mas ainda era algo que não conseguia entender e sempre evitava chegar perto demais do xerife para não ter que encarar as sensações estranhas que ele lhe causava. Contudo, o Wu parecia não se importar com suas tentativas falhas de se afastar e sempre dava um jeito de chegar perto do ômega. Obviamente, não seria diferente dessa vez.

— Seria um prazer! — escutou a voz rouca dizer.

Não demorou para que o cheiro de sândalo chegasse até si, juntamente com o calor do alfa, entregando a localização do mesmo. Algo que havia reparado nos momentos em que ficava perto de Yifan era que ele emanava um calor um tanto quanto acolhedor. Não era segredo que alfas eram quentes — especialmente lúpus — e usavam de seu calor para aquecer seus ômegas e betas no inverno — do mesmo modo que o alfa fez quando estavam na toca —. O calor de Yifan agitava seu lobo, o fazendo se debater, como se implorasse para que o alfa o abraçasse e aquecesse pela eternidade.

Selvagem [wyf+hzt]Onde histórias criam vida. Descubra agora