Selvagem [wyf+hzt]

Passado complicado

O lúpus soltou um gemido satisfeito ao sentir o gosto amargo do café. Uma leve garoa caía do lado de fora do restaurante e o líquido quente era sempre bem-vindo, especialmente em épocas como aquela. Os olhos vermelhos observavam Zitao terminar de secar suas mãos no pano, antes de se aproximar do alfa.

Mais cedo, Yifan deixou Jennie na escola como de costume e se ofereceu para levar o ômega até o trabalho. O horário de funcionamento do restaurante já havia começado, porém era comum que naquele momento não houvesse clientes, já que o movimento para o café da manhã começava um pouco depois das oito. Zitao sabia que Mei ainda não havia chegado e pediu para o xerife ficar mais um pouco — e Yifan jamais recusaria tal oferta, mesmo sabendo o real motivo por trás.

— E então? — Tao começou, e o lúpus arqueou a sobrancelha. — Quando vai me contar?

— Te contar o quê?

— A história toda com o Baekhyun!

Yifan suspirou.

— Vamos lá, Fan! Eu quero saber... — insistiu.

— Ok, ok... — colocou a xícara de café no balcão. — Quando eu tinha vinte e um anos eu conheci a mãe da Jennie em um restaurante. Ela estava acompanhada de algumas amigas da universidade e eu também estava com alguns amigos mas acabamos conversando e nos aproximamos. — viu Zitao se debruçar levemente no balcão, apoiando a cabeça em sua mão, parecendo entretido com sua história e riu anasalado. — Naquela época eu já sabia que queria ser um policial, você sabe como funciona, é meio que uma herança de família... — murmurou... — Meu pai, meu avô, o pai dele, todos policiais, e eu era fascinado por essa profissão. — deu de ombros.

— Ela também queria ser policial? — Tao pendeu a cabeça um pouco para o lado, franzindo as sobrancelhas.

— Ela tinha pavor só em imaginar eu segurando uma arma. — Zitao sorriu; no fundo, ele compreendia o medo da mulher. Só de pensar em Yifan correndo perigo graças à profissão que exerce faz um sentimento mórbido se apossar de si. — Ela fazia publicidade. Sempre achei que era a cara dela. FangYin era criativa, animada, engraçada... — os olhos vermelhos caíram até os próprios dedos do lúpus, que brincavam entre si. Era um tanto quanto estranho falar sobre sua ex-esposa, principalmente com Zitao. — Enfim, nós começamos a namorar.

Zitao mordeu o lábio inferior. O ômega tinha plena consciência de que FangYin foi uma parte importante na vida do alfa e jamais iria se incomodar com isso, mas também sabia que era um assunto delicado para o Wu e se sentiu um pouco mal por insistir em fazê-lo contar a história.

— Ela não pretendia continuar na capital por muito tempo, foi para lá apenas para se formar, então nós dois sabíamos que havia uma grande chance de nosso relacionamento não passar daquela época. — pegou a xícara de café e bebeu mais um gole, percebendo que a bebida já começava a esfriar. — Três anos depois ela se formou e voltou para a cidade em que nasceu. Nós não tínhamos terminado oficialmente mas também não sabíamos o que iria acontecer, e foi quando ela descobriu que estava grávida. — coçou a nuca. — Você deve imaginar: cidade pequena, pais conservadores, a fórmula perfeita para dar tudo errado... — riu soprado.

— O que aconteceu?

— Os pais dela a expulsaram de casa. — a expressão de Zitao se tornou indignada, mas o ômega não disse nada. — Ela não sabia o que fazer então voltou para a capital, foi quando começamos a morar juntos.

— Por isso o Baekhyun fala que você a tirou dele? Por que ela foi morar com você?

— Sim. — confirmou. — Baekhyun era o caçula, ele e FangYin eram bem próximos. Baek nunca foi flor que se cheire, sempre foi mimado demais, bajulado... FangYin sempre protegia o irmão independente do que ele aprontasse, sempre passando a mão na cabeça dele mesmo que a gravidade dos atos dele fossem aumentando cada vez mais. — revirou os olhos. — Eu e ela discutimos muito por isso, eu perdi a conta de quantas vezes ela teve que sair correndo até essa cidade para resolver os problemas do irmão, até mesmo quando estava grávida.