Salgueiro gracioso

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Itálico: conteúdo das cartas.

O ômega bateu na porta apressado, pouco se importando com os olhares de alguns vizinhos curiosos que notaram a movimentação incomum na casa ao lado. A porta se abriu e o sorriso da pessoa aos poucos morreu quando passou por ela sem se importar, aparentando seu desespero. Quando a mulher fechou a porta novamente, Zitao sequer deu chance para que ela pudesse falar alguma coisa.

— Onde estão? — interrogou, com a respiração pesada.

— Do que você está falando, Tao? — Mei indagou, confusa.

— As cartas. — cerrou os punhos. — Onde estão as cartas, Mei?

A Kim arqueou as sobrancelhas.

— Zitao, eu não… 

— Já chega de mentiras! — Zitao a interrompeu, sua voz estava um pouco mais aguda, evidenciando que o ômega estava a ponto de perder o resto de paciência que possuía. — Você era a única pessoa a qual ela confiaria algo do tipo. — brandou. — Onde estão as cartas do amante da minha mãe?

Mei analisou o ômega. Era visível que Zitao se esforçava para não desabar com todo aquele turbilhão de descobertas e teorias. O Huang mantinha os punhos fechados, fincando as unhas medianas nas palmas da mão enquanto sua respiração estava levemente desritmada devido ao nervosismo.

A mulher respirou fundo, desistindo de contrariar o menor.

— Eu já volto… — foi tudo o que Mei disse antes de caminhar até o quarto.

Não demorou mais que cinco minutos para que a ômega voltasse ao cômodo, estendendo uma caixa mediana de papelão para o mais novo, este que sentiu seu coração errar uma batida ao retirar a tampa e notar a quantidade de envelopes organizadas da melhor maneira possível. Era notável a tremedeira nas mãos de Zitao enquanto segurava o objeto, assim como sua respiração pesada enquanto encarava os papéis pouco amarelados pelo tempo.

— Há quanto tempo você sabia? — Tao perguntou baixo. Seu cérebro parecia não conseguir processar a confirmação.

— Sua mãe me pediu para guardar isso na semana em que… — pigarreou. — Bem, você sabe… — deu de ombros. — Ela disse que não podia mais guardar isto em casa, que seu tio já estava começando a desconfiar de algo. — umedeceu os lábios, desviando o olhar. — Ela me implorou para que eu não lesse, e eu obedeci, mas quando ela morreu eu sabia que deveria ter algo importante nessas cartas, então eu li, uma por uma.

Zitao engoliu em seco, sentindo um gosto amargo em sua boca.

— Você nunca contou para o meu pai?

— Nós dois sabemos o que Joon faria se descobrisse…

— E você nunca contou para o Tian também, mesmo ele sendo o xerife? — se exaltou.

— Não era necessário, Tian já sabia… — os olhos azuis do ômega levantaram arregalados com a fala, encarando a Kim. — Ele sempre soube.

O Huang respirou fundo, mordendo o lábio inferior com força.

— Por que manter segredo depois que minha mãe morreu?

Mei suspirou.

— Não tinha porquê mexer nessa história.

— “Não tinha porquê mexer nessa história”?! — Zitao riu sem humor, os olhos azuis lacrimejavam. — Você tinha três motivos para “mexer” nessa história! — gritou, dando um tapa impulsivo contra o encosto do sofá em sua frente.

— Eles eram meus amigos, eu estava os protegendo… — tentou se justificar.

— Você tinha três amigos! Três! — se alterou, fazendo Mei dar leve pulo pelo susto. — E por causa das suas mentiras um deles está morto, assim como o meu irmão! — Zitao gritou. — Você não tem o direito de escolher pelas pessoas, não tem o direito de esconder nada. Você nem sequer tem o direito de achar que estava protegendo alguém! — berrou, deixando as lágrimas pesadas escorreram por suas bochechas. 

Selvagem [wyf+hzt]Onde histórias criam vida. Descubra agora