Transformação

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— Você tem certeza que não tem mais nenhuma armadilha, Yifan?

— Absoluta! — o Wu respondeu, caminhando na frente. — A senhora Feng e eu tiramos uma por uma, para não correr o risco caso um certo ômega — olhou para Zitao — resolvesse fugir no meio da noite outra vez e acidentalmente acabasse pisando em alguma. — falou divertido, se referindo à noite em que saiu de sua casa de madrugada a procura do menor.

— Eu saberia exatamente onde não pisar! — Tao protestou. — O único jeito disso acontecer seria se um certo alfa aparecesse e me assustasse outra vez. — arqueou a sobrancelha, lembrando da segunda vez em que viu o lúpus e sorrindo debochado.

— Eu já pedi desculpa! — o lúpus rebateu. — Mas eu tinha que te parar de algum jeito. — deu de ombros. — Além disso, valeu a pena. — sorriu ladino.

Zitao respirou fundo, sentindo o cheiro de terra a sua volta. Após deixarem Jennie na escola, o casal seguiu até a floresta. Era proibido se transformar em áreas urbanas, então não tinham outra opção a não ser utilizar o ambiente que por anos foi a casa do ômega.

O Huang estava receoso quanto ao plano de Yifan. O lúpus sugeriu que tentasse se transformar outra vez e o menor ainda não acreditava que conseguiria, porém o Wu estava tão confiante que daria certo que resolveu dar uma chance e não quebrar a expectativa do mais velho.

— Acho que aqui está bom! — o alfa parou de caminhar.

Pelo som de água correndo, Zitao sabia que estavam perto do rio.

— Por que você acha que isso vai ajudar?

— Quando Minseok te interrogou pela primeira vez e eu soube que você não se lembrava eu conversei com Kyungsoo. — explicou. — Ele não sabia até onde suas memórias foram bloqueadas mas disse que uma transformação após um grande trauma poderia ser assustador o bastante para que você não confiasse em seu lobo interior outra vez, e que se esse fosse o caso então o processo de recuperação seria ainda mais difícil. — se virou de frente para o ômega. — Você passou oito anos confiando apenas em seu instinto selvagem, e quando recuperou seu lado racional, fez o possível para não ceder espaço para o seu ômega interior porquê estava com medo demais de perder o controle. — sorriu quando Tao se aproximou, parando a poucos centímetros de distância. — Nosso lado humano e nosso lobo interior precisam estar em sintonia.

Zitao umedeceu os lábios, ouvindo atentamente.

— Quando tentamos as outras vezes, o que te impedia era o seu medo. O seu medo de ser o culpado pelo que aconteceu com a sua família e o seu medo de machucar outras pessoas. — o lúpus segurou a mão delicada de Zitao entre as suas. — Mas agora, por mais que as lembranças doam... — sentiu o ômega deixar um leve aperto em sua mão — você sabe que não foi você quem fez isso. Você não machucou ninguém e jamais machucaria.

— Fan...

— Lembra quando me disse que algumas coisas você deveria fazer sozinho? — o menor assentiu. — Esse pensamento me apavora! — admitiu, ouvindo o ômega gargalhar. — Mas você está certo, algumas coisas precisam ser feitas por você, sozinho. — deixou um beijo na palma da mão do outro, observando os olhos azuis começarem a marejar. — Não posso me transformar por você, mas posso estar ao seu lado. Eu confio em você, Zitao. — sorriu. — Está na hora de você confiar em si mesmo.

Tao nem notaria que algumas lágrimas rolaram por suas bochechas se o alfa não tivesse as limpado com os polegares. Nos últimos dias, o ômega estava ainda mais sensível do que o normal.

— Eu... — mordeu o lábio inferior ao perceber sua própria voz embargada. — Eu vou tentar...

Yifan sorriu, dando espaço para o mesmo.

Selvagem [wyf+hzt]Onde histórias criam vida. Descubra agora